A jornalista Nancy Jo Sales fez a reportagem “The Suspects Wore Louboutins” (Os suspeitos usavam Loubotins) para a revista Vanity Fair. Seu tema foi a história que ficou famosa de uma gangue de jovens adolescentes, que se formou nos arredores de Hollywood. A gangue, que ficou conhecida como Bling Ring, reunia, principalmente: Rachel Lee, Nick Prugo, Alexis Neiers, Diana Tamayo e Courtney Ames, dentre alguns outros.
Rachel Lee foi a cabeça principal da gangue, que se especializou em roubar objetos em casas de celebridades de Hollywood. Dentre as vítimas dos jovens estão: Paris Hilton, Lindsay Lohan, Audrina Patridge, Orlando Bloom, dentre outros. Estes jovens fascinados por celebridades faziam parte do Valley, em Los Angeles.
Nick Prugo, cabeça fraca, conhece Rachel Lee no colégio. Os dois se juntam para praticar alguns roubos, e logo depois, outras pessoas entram no “jogo”. Rachel sempre destemida, Nick sempre assustado. O retrato que se constroi com esses jovens, durante a leitura do livro Bling Ring, que reúne esta história, e compila a reportagem de Nancy Jo Sales para a Vanity Fair, e que virou filme agora, pelas mãos de Sofia Coppola, é de uma juventude vazia e alienada, que vê nas celebridades, fonte de fascínio de um estilo de vida que seria a única verdade, ou a única vida verdadeira.
Os roubos ocorreram entre 2008 e 2009. A gangue se valia do descuido das celebridades alvo, para então invadirem suas casas, e pegarem objetos de marca ou de valor. Chanel, Roberto Cavalli, Dolce & Gabbana, Versace, Louis Vuitton, Gutti, Prada … os roubos relatados e reunidos pelo trabalho de Nancy Jo Sales, pela gangue Bling Ring, são a imagem mais medíocre e espetacular da importância dos rótulos e da aparência. A casa de Paris Hilton, um monumento à vaidade, fotos da mesma por todos os lados, e os jovens dentro da casa dela vendo aquilo tudo e extasiados no closet desta celebridade contemporânea, que é um dos novos tipos de famosos de hoje: ou seja, aquela pessoa que é conhecida não por um ofício ou feito, mas por ser apenas celebridade, no caso de Paris, produzida por ser herdeira de uma fortuna.
Sofia Coppola comprou a história e fez o filme Bling Ring. Realmente, esta história é fascinante, é o exemplo extremo do que é a vida em Hollywood. Os jovens do Valley, e a vida fácil que é vendida nos tabloides, a invasão de privacidade e os realities shows, a fama pelo trabalho ao lado da fama profissional sem ofício, e o sonho dourado de jovens que se exibem para fotos fazendo caras e bocas, que não é muito difícil de ver em twitters e facebooks da vida. O fenômeno contemporâneo de celebrização por si mesma, que se torna o objetivo de muitas pessoas, a cultura pop que tem em Hollywood sua maior expressão. Toda a vaidade e exibicionismo naturais dos jovens ganham um sentido patológico na gangue Bling Ring.
O que a história da gangue de Hollywood, a Bling Ring, nos ensina, é o seguinte: como a influência desta nova cultura de invasão está disseminada, muitas celebridades, embora se mostrem muitas vezes, tem seu último espaço de refúgio também invadidos, e foi isto que fez a Bling Ring: invadiram o espaço privado destas celebridades, como se fossem um espaço deles, numa mistura explosiva de fascínio, alienação e crime.
Fica claro que tais jovens viviam pelas aparências. A busca de roupas e joias, o materialismo das It Girls, todo este caldo cultural contemporâneo, que está tomando um rumo nebuloso. A gangue Bling Ring fica então famosa por roubar famosos. Alexis Neiers ganha seu próprio reality show, eles acabam presos, mas ganham notoriedade, conseguem, através do crime, renome na fonte: o site TMZ vai atrás deles, a Vanity Fair, Hollywood ganha seus algozes, fãs que roubam ídolos, jovens que são um retrato fiel da classe abastada ou mediana dos arredores de Hollywood, pois, estar perto de Hollywood, é estar mergulhado neste mundo ideal das celebridades até a medula, e no caso da gangue Bling Ring, tal mergulho foi intenso, e que, agora, virou filme e tudo.
Não há mais escapatória: os jovens da Bling Ring estão famosos, uma história incrível que reúne de forma extrema o resultado de uma juventude alienada e que busca aventura pelo estilo de vida dos ricos e famosos, e que, por não terem outra alternativa para isso, partem para os furtos nas casas de seus símbolos, um modo de homenagem pela apropriação indevida, pelo crime glamourizado num parque de glamour, ou seja, a casa das celebridades de Hollywood.
Vivemos a cultura do exibicionismo e da vaidade, nunca as pessoas se exploram tanto, e se isso não tem uma medida ou um motivo, cai no vazio patológico de um desespero de reality show, num show do Truman concretizado, onde a invasão se torna método de notícia, e muitos acabam tentando manter tudo isso, mas de forma errada, e quando se perde a medida, temos a caricatura contemporânea: celebridades instantâneas, que depois, se não tiverem algo a oferecer, somem no ar, e ficam gritando pelos cantos atrás de novos quinze minutos de fama. E, na Bling Ring, por mais incrível que isso pareça, o objetivo não era ficar famoso, era ter os objetos dos famosos, o que virou uma bomba de efeito imprevisível.
A fama chega à Bling Ring, e é bom estar preparado, estas celebridades do furto de casas de famosos de Hollywood juntaram tudo, e agora, num pacote completo, plasmaram a cultura de Hollywood e seu significado disseminado: exibição vazia e fortuna, invasão de privacidade, bebedeiras e drogas, marcas caras, carrões de luxo, casas espetaculares, ou seja, o materialismo total de um mundo que não mais se sustenta, o capital junto com o estilo de vida que a Bling Ring roubou, literalmente, e agora virou filme. A Bling Ring está na História de Hollywood, querendo ou não.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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