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Coringa de plantão

O episódio envolvendo o superintendente de Polícia do Interior, Danilo Bahiense, e o advogado Gustavo Bassini, é mais um caso com a marca do delegado, que se transformou numa espécie de coringa dos meios influentes. Se a situação se complica, a solução é acionar o delegado, que sempre está disposto a ''limpar'' a sujeira. 
 
Neste caso envolvendo o advogado, um vídeo registra o flagrante da prisão. As cenas não deixam dúvidas de que o delegado perdeu as estribeiras. No “sabão” que dá no advogado, Bahiense passa longe da ética e do respeito aos direitos humanos ao chamá-lo, seguidas vezes, de “moleque”. Ele afirma que prefere lidar com bandido, que é “sujeito homem”. “Eu respeito aqui o assaltante de banco, o estuprador…Mas você não. Você é um advogado moleque”.
 
Bassini, que se diz perseguido por juízes, promotores e pela atual presidência da OAB capixaba, acredita que o delegado tenha sido acionado por seus algozes para calá-lo. Ele alega que passou 35 dias detidos ilegalmente, e que o delegado continua seguindo seus passos para tirá-lo “definitivamente” de circulação. 
 
O serviço de “faxina” do delegado não se restringe ao caso do advogado. Bahiense tem participação em outros casos polêmicos no Estado. É o delegado, por exemplo, que está conduzindo as investigações sobre o misterioso assassinato ex-diretor do hospital Roberto Silvares, em São Mateus. O professor da Ufes, Valdenir Belinelo, foi morto em março de 2012, na localidade de Rio Quartel, em Linhares, no norte do Estado. Quase dois anos após o assassinato, a polícia não avançou nas investigações. Nada se sabe sobre a motivação do crime, tampouco a polícia apontou um único suspeito. 
 
Nas manifestações deste ano, Bahiense também foi acionado. Na ação mais truculenta da polícia para reprimir os protestos, em julho deste ano,  mais de 34 pessoas foram presas no Centro da capital capixaba. Alguns policiais, inclusive, teriam ficado constrangidos em efetuar as prisões ilegais. A arbitrariedade das prisões foi confirmada pela Justiça, que mandou soltar todos os detidos. 
 
O delegado, no entanto, na exaltação dos ânimos, não se furtou de fazer o “serviço sujo”. A nota de culpa dos detidos veio da mão de Bahiense, convocado às pressas para comandar a “baciada de flagrantes” forçados. 
 
O delegado também é um dos principais personagens da morte do juiz Alexandre Martins, em 2003. Bahiense conduziu o inquérito e colheu a maioria dos depoimentos. Na época, o advogado José Maria Ramos Gagno, que defendia os sargentos Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva, denunciados como coautores do crime, entrou com representação na Procuradoria Geral do Estado contra  o então secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, e o delegado chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Danilo Bahiense. O advogado acusava a dupla de  “agir criminosamente, omitir fatos e declarar outros que não aconteceram”. 
 
Bahiense voltaria a agir como coringa em outra passagem nebulosa da história recente do Espírito Santo: o grampo na Rede Gazeta. O delegado foi um dos responsáveis pelo grampo, inclusive teria pedido a prorrogação da arapongagem por mais 15 dias. Alguém precisava, mais uma vez, fazer o “trabalho sujo”.
 
Os casos citados, que são apenas os mais notórios protagonizados pelo delegado, têm um ponto de convergência: continuam cercados de mistério. São casos, propositalmente, inconclusos. O delegado continua sendo usado como coringa para defender pessoas e interesses. 
 

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