A ArcelorMittal deixa vazar benzeno no ar. O agente é cancerígeno e contaminou funcionários da empresa.
Mas o presidente da ArcelorMittalBrasil e do Segmento de Aços Planos América do Sul da empresa, Benjamin Mário Baptista Filho, disse desconhecer o assunto. E que a empresa garante bom acesso de seus funcionários a atendimentos em saúde.
Foi confrontado pelo deputado Euclério Sampaio (PDT), que afirmou ter não só uma lista com funcionários doentes, como decisão judicial em favor deles.
A posição do deputado e a manifestação do presidente da ArcelorMittal ocorreram nesta quarta-feira (8) à tarde, na CPI do Pó Preto, na Assembleia Legislativa. O deputado requereu à Presidência da CPI prazo de um dia para juntar documentos comprobatórios da contaminação dos funcionários e sobre o vazamento do benzeno das instalações da ArcelorMittal Tubarão.
O deputado se reportou a histórias de vazamento de benzeno na ArcelorMittal. Lembrou que em 1992 e em 1993 a empresa teve de trocar as 147 portas da coqueria da empresa, em função do escapamento de benzeno.
Outro episódio com benzeno foi registrado em 1997/1898. E perguntou se ainda ocorre vazamento deste tipo. O presidente da ArcelorMittal disse que não. O deputado então afirmou que a contaminação continua ocorrendo e assegurou que tem uma lista de funcionários contaminados (“aos montes”, disse) e decisão da Justiça favorável a eles.
O benzeno é líquido, inflamável, incolor, e tem um aroma doce e agradável. É um composto tóxico, cujos vapores, se inalados, causam tontura, dores de cabeça e até mesmo inconsciência. Se inalados em pequenas quantidades por longos períodos, causam sérios problemas sanguíneos, como leucopenia. Também é conhecido por ser carcinogênico, informa a Wikipédia.
Noutro momento de sua intervenção na CPI, o deputado Euclério Sampaio quis saber se a ArcelorMittal realiza obras ou serviços para órgãos públicos. A direção da empresa lembrou de contribuição ao Hospital da Polícia Militar (HPM). “E no Fórum da Serra?”, quis saber o deputado. Os representantes da empresa disseram não lembrar. O deputado então ironizou, afirmando que eles se lembram do HPM, mas não do Fórum da Serra.
Não vê poluição
A ArcelorMittal e Vale lançam 38 mil toneladas de poluentes, todo mês, sobre a Grande Vitória. Os poluentes são suficientes para encher 593 carretas, com capacidade para transportar 27 toneladas.
Deste total, a ArcelorMittal Tubarão e Cariacica, responde por 12.878.90 toneladas mensais, suficientes para encher 462 carretas com capacidade de carga de 27 toneladas mensalmente.
A ArcelorMittal é responsável por 200,40 toneladas de Material Particulado Total (PTS), que enche 7.42 carretas; 129,59 toneladas de Material Particulado (MP10) ou 4.80 carretas, de partículas menores que dez micra, que são inaláveis; 68.71 toneladas de Material Particulado PM 2.5 – que são respiráveis -, 2,54 carretas cheias; 1.276,46 toneladas de Dióxido de Enxofre (SO2), ou 47,28 carretas; 378,41 toneladas de Óxidos de Nitrogênio (NOx), ou 14,02 carretas; 10.374,38 toneladas de Monóxido de Carbono (CO), ou 384,24 carretas; e 52,25 toneladas de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), ou 1,94 carreta. Isto todo mês.
Os dados são oficiais, mas já estão defasados, pois foram levantados em 2009 – 2011.
Mas o que vê o Benjamin Mário Baptista Filho, presidente da ArcelorMittalBrasil e do Segmento de Aços Planos América do Sul, Benjamim Baptista Filho? Nenhuma poluição no ar da Grande Vitória de responsabilidade da empresa, pelo menos segundo disse à CPI do Pó Preto.
Tampouco veem poluição o diretor de Meio Ambiente da empresa, João Bosco Reis da Silva, e o gerente-geral de Meio Ambiente, Guilherme Correa Abreu. Eles depuseram na CPI do Pó Preto, e juraram não mentir.
Os três foram tratados com honras de chefe de Estado. Sempre com toda delicadeza, fora uma ou outra pergunta. Para começar, a empresa teve o tempo que quis para se apresentar aos deputados Rafael Favato (PEN), Dary Pagung (PRN), Euclerio Sampaio, Almir Vieira (PRP) e Hudson Leal (PRP).
Disseram dos elevados investimentos da empresa programados para a área de meio ambiente. Da eficácia de seu cinturão verde, do seu wind fence e, que a unidade de Tubarão é a única da empresa no mundo a empregar tal tecnologia. Falaram de sua economia de água: só 4,5% do consumo é de água doce; de sua eficiência energética (vende o excedente da energia produzida em Tubarão.
Não foi questionado sobre o uso de água do rio Santa Maria da Vitória. A Arcelormital Tubarão compra água da Cesan, em média 800 litros por segundo, totalizando 69 milhões de litros por dia. A ArcelorMittal e a Vale consomem juntas 79 milhões de litros de água diariamente, cerca de 30% da água do rio Santa Maria da Vitória que abastece a Grande Vitoria, somando ao rio Jucu. As duas poluidoras também não usam água de reuso, descartada das Estações de Tratamento de Esgoto da (ETEs) da Cesan.
A direção da ArcelorMittal parece não saber o que a comunidade denuncia: o wind fence – cercas metálicas de grande altura – não segura nem impede o arrasto de poluentes, como o minério . Não serve para nada, embora tenha sido apresentado ao governo do Estado como tecnologia importante contra a poluição do ar.
Lembrou a diretoria da ArcelorMittal que está dentro da legislação. Como um favor às empresas ArcelorMittal e Vale, o governo do Estado fixou para a poeira sedimentável, o pó preto, o limite de 14 microgramas por metro cúbico, durante um mês. No Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Amapá (Macapá), é permitido cinco microgramas dos poluentes na mesma área. Mesmo recebendo este favor, a Vale e a ArcelorMittal produziram 18 microgramas de pó preto em pontos de dois municípios – Vitória e Serra – no ano passado.
Depor, mesmo, Benjamim Baptista Filho depôs por pouco tempo. Relatou que chegou há décadas em Vitória, que tem filho capixaba. Que quando chegou, em 1983, sua mulher se recusou a ir morar na Ilha do Boi, tamanho era a poluição. E que a ArcelorMittal, como Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), se instalou depois.
Chegou a esboçar uma ironia ao se referir ao pó preto como uma espécie de mutação genética da poluição do ar.
Os diretores da ArcelorMittal não pouparam elogios ao desempenho da empresa. E disseram que o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) recebe todo mês informações que a empresa tem minuto a minuto. Suas emissões, informaram, são medidas nas chaminés, em tempo real. E, em tempo real, podem ser disponibilizadas. Mas é a própria empresa que faz as medições e disponibiliza para o poder público.
Diferentemente do que exige a população, que quer o controle independente do pó preto, feito por empresa acreditada internacionalmente.
A produção anual da ArcelorMittal é de cerca de 100 milhões de toneladas de aço por ano em diversos países, onde é proibida de poluir, como na França e Espanha.
Deste total, a ArcelorMittal Tubarão produz por ano 7,5 milhões de toneladas de aço em placas e bobinas a quente e, a ArcelorMittal Cariacica produz 1 milhão de toneladas, das quais 600 mil toneladas de aço bruto e de 400 mil toneladas de produtos laminados por ano. A produção da unidade de Cariacica aumentará em 200 mil toneladas anuais.
A primeira usina da empresa começou a operar em novembro de 1983, como Companhia Siderúrgica de Tubarão.
O presidente da ArcelorMittal, Lakshmi Niwas Mittal, um empresário indiano, já esteve no Espírito Santo, quando determinou que se produzisse a plena carga, sem se incomodar com a poluição do ar, desde que respeitados os padrões legais. Seus diretores seguiram suas orientações à risca, como mostraram os depoentes na CPI do Pó Preto.