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Agrotóxicos matam mil pessoas no Estado todo ano e governo finge não saber

Os agrotóxicos matam  mil pessoas no Espírito Santo todo ano. A principal usuária de venenos agrícolas no Estado é a Aracruz Celulose (Fibria), que usa  e intoxica indiscriminadamente nos eucaliptais. Aplica os agrotóxicos sobre estradas e até sobre comunidades quilombolas e indígenas. 
 
O governo do Estado se omite. Na prática, não fiscalizando o uso pela empresa, por fazendeiros e pequenos produtores. E ainda sem um trabalho efetivo de conscientização para os perigos dos venenos com os trabalhadores rurais e fazendeiros. 
 
A Aracruz Celulose (Fibria) e os produtores rurais usam os agrotóxicos nas chamadas capinas químicas, que substituíram  a limpeza das plantações com uso da enxada. Este procedimento foi disseminado no Estado pela Aracruz Celulose (Fibria) e se tornou parte do modo de trabalho dos agricultores.
 
Nos registros oficiais, ainda não publicados pelo governo do Estado, 20 mortes foram causadas pelos agrotóxicos no Estado em 2013. Neste  ano, foram registrados 961 casos de exposição a venenos agrícolas. Mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada registro de intoxicação por agrotóxico, outros 50 casos deixam de ser notificados.
 
Em 2012, os  venenos agrícolas  causaram 20 mortes (das quais 15 homens), com letalidade de 2,33% do total de intoxicações, segundo registros oficiais. Em  2012, os agrotóxicos de uso  agrícola totalizaram 857  intoxicações. E os raticidas contaminaram 115 pessoas, e produziram uma morte. Em 2012, no total, foram registradas 17.351 intoxicações  humanas no Estado.
 
Aplicadas as estimativas da OMS, somente em 2012 e 2013, 90.500 capixabas foram expostos aos agrotóxicos. E ainda, usada a mesma metodologia, no  Espírito Santo somente nos dois anos, dois mil capixabas morreram contaminados por venenos agrícolas. 
 
Com a conivência do governo do Estado, a Aracruz Celulose (Fibria) aplica cerca de 95% dos agrotóxicos nos municípios do norte e noroeste, onde a empresa tem seus maiores e mais antigos eucaliptais. O governo do Estado se omite tanto na fiscalização quanto em conscientização sobre os riscos do uso dos venenos.
 
O uso intenso de agrotóxicos pela Aracruz Celulose criou uma nova cultura no meio rural. Como consequência, nos plantios em geral, como no milho, feijão, hortaliças e legumes, os agricultores não mais usam a enxada para limpeza. Fazem a capina química, com venenos agrícolas, principalmente  do tipo herbicida. O herbicida mata  o que é considerado mato, e contamina as plantas, que vão ser consumidas por toda a sociedade.
 
A contaminação dos alimentos pelos venenos agrícolas produz as mais diferentes doenças. Desde impotência sexual e frigidez, infertilidade, doenças genéticas, depressão  – em muitos casos levando à morte -, câncer, entre muitas outras.
 
Como no campo é grande o emprego de mão  de obra de adolescentes, muitas crianças são contaminadas com venenos agrícolas.  Há mortes de crianças envenenadas. Também as mulheres, a maioria em idade fértil, são contaminadas.
 
É comum ver grávidas trabalhando com bombas para aplicar os venenos, e sentido o mal cheiro dos agrotóxicos. Decorre daí elevado  número de crianças nascidas com mutações genéticas no Espírito Santo. É elevado o numero de contaminação entre as mulheres: das  20 mortes oficialmente registradas em 2012, cinco foram de mulheres.
 
Desde 2009, o Brasil é  o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Atualmente concentra cerca de 20% do uso mundial de  venenos agrícolas. O Espírito Santo, que já foi campeão brasileiro por pessoa no uso dos venenos agrícolas, hoje é o terceiro da federação que mais faz uso de agrotóxicos em geral. Mas é o maior consumidor do pais em herbicidas, o principal produto usado pela Aracruz  Celulose (Fbria) nos eucaliptais. 
 
Os venenos agrícolas  contaminam não só as pessoas que aplicam no campo. São absorvidos pelos alimentos, que estão cheios de agrotóxicos, e são consumidos não só no Espírito Santo, como vendidos em diversos outros estados. Muitos morrem por comer estes venenos nos alimentos.
 
Nos ministérios da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente são registrados 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações de agrotóxicos, que são permitidos. Dos 50 mais utilizados, 22 são proibidos pela União Europeia, sendo que nenhum registro de agrotóxico no país tem prazo de validade e só pode ser retirado ou alterado caso haja uma modificação no perfil de segurança do produto. 
 
Catástrofe nacional
 
O uso dos venenos agrícolas no Brasil se tornou uma catástrofe nacional. Esta semana,  o Inca, órgão do Ministério da Saúde, divulgou um texto com o título “Posicionamento do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) acerca dos agrotóxicos”.
 
Com um grande número de dados, o documento é leitura obrigatória pelas pessoas interessadas em saúde. Entre inúmeros pontos, o documento destaca: 
 
“… O modelo de cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos gera grandes malefícios, como poluição ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral. As intoxicações agudas por agrotóxicos são as mais conhecidas e afetam, principalmente, as pessoas expostas em seu ambiente de trabalho (exposição ocupacional). 
 
São caracterizadas por efeitos como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte. Já as intoxicações crônicas podem afetar toda a população, pois são decorrentes da exposição múltipla aos agrotóxicos, isto é, da presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos e no ambiente, geralmente em doses baixas. 
 
Os efeitos adversos decorrentes da exposição crônica aos agrotóxicos podem aparecer muito tempo após a exposição, dificultando a correlação com o agente. Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.  …”.
 
E, também: “… Os agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos ou plantas no ambiente rural e urbano. No Brasil, a venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões para mais de US$7 bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes de US$ 8,5 bilhões em 2011. 
 
Assim, já em 2009, alcançamos a indesejável posição de maior consumidor mundial de agrotóxicos, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante.
 …”.
 
O documento do Inca  é um libelo contra o  modelo agrícola empregado no Brasil e suas consequências para a saúde.

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