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Índios reivindicam posse de urnas encontradas na área do estaleiro Jurong

Os caciques das aldeias indígenas Tupinikim e Guarani de Aracruz, norte do Estado, reivindicam a posse das urnas encontradas na área do estaleiro Jurong. A existência dessas urnas, consideradas por eles relíquias de seus antepassados, foi revelada em matéria da Agência Pública de março deste ano. O local era área de moradia indígena e, para dar lugar ao estaleiro, três sítios arqueológicos foram destruídos. 
 
Segundo o cacique guarani Pedro Silva Karaí, da aldeia de Piraquê-Açu, os índios foram informados da localização de uma urna, recentemente. Caciques e lideranças das aldeias cobraram sua entrega em reunião realizada há uma semana com a empresa, mas os responsáveis pelo estaleiro desconversam. Os índios defendem que as urnas devam ser guardadas nas aldeias, já que são memórias do povo indígena do Estado. Não irão, portanto, desistir de recuperá-las. 
 
Na matéria da Agência Pública, a existência dos sítios arqueológicos foi revelada por um trabalhador contratado para fazer o desmatamento na área do estaleiro. Ele contou à repórter que, além dele, dois arqueólogos e mais dez pessoas ajudaram nas escavações. Encontraram materiais feitos de argila, paredes de casa, recipientes utilizados para cozinhar e urnas. 
 
Esse material estaria sob responsabilidade da CTA Engenharia e Meio Ambiente, contratada pela Jurong para executar o trabalho. A própria CTA confirmou a descoberta de três sítios arqueológicos e que as peças estão depositadas na sede do Instituto Ecos, uma ONG sem fins lucrativos.
 
Na ocasião da matéria, a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Simone Batista Ferreira, disse que este não parecia ser o destino adequado para as peças coletadas. “Os sítios arqueológicos são a memória da humanidade. É o nosso passado coletivo. Não é um bem privado de quem encontra. A região norte do estado do Espírito Santo guarda testemunhos arqueológicos e históricos importantes”. 
 
Ela lembrou dos registros da presença de populações indígenas que ocuparam a região em um momento pré-conquista e outros eventos históricos importantes que tiveram início com a chegada dos europeus.  
 
A Agência Pública informou que as peças foram cadastradas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como sítio Barra do Sahy 1, sítio Barra do Sahy 2 e sítio Barra do Sahy 3. “No primeiro havia cacos de cerâmica que pertencem à Tradição Aratu; no Barra do Sahy 2, testemunhos cerâmicos vinculados à Tradição Tupi-guarani. Já o Sítio Barra do Sahy 3 é um sítio colonial antigo, com conteúdo de cerâmica neobrasileira, vidros e conchas”, disse a matéria. 
 
Impactos
 
Os índios também cobram da Jurong que compense as aldeias pelos danos gerados pelas obras do estaleiro. Assim como os pescadores artesanais de Aracruz, as famílias indígenas sofrem os prejuízos dos impactos da dragagem da área do estaleiro, que além de acabar com os estoques de peixes, antes em abundância, impediu a prática da atividade que é a principal fonte de alimento e subsistência das aldeias. 
 
As lideranças indígenas reclamam, também, dos danos gerados às rodovias, em decorrência do tráfego pesado de caminhões para atender a Jurong.
 
Embora o empreendimento se localize próximo às comunidades indígenas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi excluída do processo de licenciamento ambiental, assim como não houve um Estudo de Identificação de Impacto sobre a terra indígena. 

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