O encontro “sigiloso” entre o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e o governador Paulo Hartung, na Residência Oficial da Praia da Costa, em Vila Velha, nesta sexta-feira (4), reverberou nos meios políticos locais e em Brasília.
Isso porque, o encontro só chegou ao conhecimento do Palácio do Planalto minutos antes de Temer e Hartung encerrarem a conversa. Temer deveria estar em São Paulo, onde cumpriria uma agenda oficial. Mas desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), deu andamento ao pedido de impeachment da presidente Dilma, nessa quarta (2), o vice-presidente tem se movimentado intensamente em encontros com aliados e com lideranças da oposição.
Para as lideranças políticas, Temer tenta costurar sua ascensão ao Planalto. Por isso estaria articulando a queda da presidente. Outro elemento que denuncia a articulação é a postura do terceiro participante do almoço na Residência Oficial, o deputado federal Lelo Coimbra, presidente do PMDB capixaba.
Nessa quinta-feira, o peemdebista se posicionou favorável ao afastamento da presidente Dilma e também do presidente da Câmara Eduardo Cunha. “Defendo o afastamento da presidente devido às manobras fiscais cometidas por ela, mas também não podemos fechar os olhos para as manobras de Cunha”, diz Lelo em um trecho da nota.
A movimentação de Temer acontece no dia seguinte ao posicionamento de dez governadores que manifestaram apoio a Dilma. As articulações de Temer, justamente com os governadores que se mantiveram “em cima do muro”, caso de Hartung, pode ser interpretado como uma resposta ao movimento pró-Dilma. Hartung, que antes da deflagração do processo de impeachment vinha defendendo o fim da disputa que o PSDB decesse do palanque e cobrando que a presidente Dilma começasse a governar, mergulhou sobre o impeachment.
O governador capixaba vinha tentando se destacar em nível nacional como interlocutor do governo federal, defendendo o equilíbrio e o pacto entre os estados para a recuperação econômica do País. Com a manobra de Temer, Hartung deve mudar sua posição. A tendência é que ele se afine à ação de bastidores do vice-presidente.
A nota de Hartung, divulgada nessa quinta-feira, deve ter sido também um dos temas do encontro. Hartung pediu celeridade no processo. Uma posição que vem sendo defendida agora pelo grupo que apoia Dilma. Mas Temer e a oposição perceberam que precisam de mais tempo para articular o afastamento da presidente, já que hoje o cenário é favorável a derrubada do impeachment na Câmara.
A presidente precisa de 172 votos para se manter no governo. Pelas contas dos líderes dos 17 maiores partidos, haveria, hoje, 258 deputados contrários ao afastamento da presidente.
O encontro entre Temer e Hartung aumentou a desconfiança no Planalto sobre a postura do vice-presidente. O objetivo é conversar com todas as lideranças estaduais para unificar o partido sobre de seu nome como alternativa à presidente.