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Ponto de Memória Tupinikim é inaugurado em Caieiras Velha

Foto: Rogério Medeiros

Ao final de uma caminhada de aproximadamente 400 metros de mata, está sendo erguido o Ponto de Memória Centro Cultural Tupinikim Ka´arondarapé, na aldeia de Caieiras Velha, em Aracruz, norte do Espírito Santo.

Contemplado pelo edital 005/2015 da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), o projeto visa promover a revitalização do artesanato, dos festejos, da língua Tupinikim. “Pra nós, povo indígena, esse centro cultural é um projeto de fortalecimento da identidade cultural do nosso povo, por meio das histórias, dos artefatos, da dança, da música, da língua”, conta o educador Jocelino Tupinikim, coordenador do Centro Cultural.

O envolvimento da comunidade foi fundamental para a concretização do projeto. O valor do prêmio da Secult é de R$ 20 mil, mas apenas a construção da cabana não ficaria por menos de R$ 50 mil. “Os carpinteiros não cobraram valor de mercado. Foi uma contrapartida da comunidade”, explica Jocelino, que destaca a parceria com o Instituto Coca, formado por lideranças e educadores de Caieiras, com objetivo de atuar nas temáticas ambiental, cultural e esportiva.

O Centro Cultural terá ainda a Casa de Oração e a Casa do Guerreiro, já quase finalizadas, além da trilha temática. O pré-lançamento da Cabana do Ponto de Memória aconteceu nesta sexta-feira (2) e contou com ampla programação, incluindo apresentação de Tambores, Coral e danças, oficina de embarreio, exposição de fotografias e objetos que contam um pouco das histórias da cultura indígena e da etnia Tupinikim, e um bate-papo com o jornalista, documentarista e diretor-responsável de Século Diário, Rogério Medeiros.

“São um dos povos mais inteligentes e resistentes que conheço”, afirma Rogério, do alto de mais de uma década acompanhando os indígenas do Espírito Santo como jornalista. E bem antes, na década de 1970, testemunhou o governo militar tirar suas terras e entregarem para a Aracruz Celulose (Fibria), o que os forçou a ase aldearam – eram nômades –, fundando povoados onde hoje estão bairros como Nova Almeida e Jacaraípe. Tonaram-se também pescadores, fato incomum na época. A elite rural foi grande inimiga dos Tupinikim, durante sucessivos ciclos econômicos. “Mas eles resistiram, cresceram, prosperaram, estão recuperando sua identidade cultural”, relata o jornalista.

E nessa busca do fortalecimento enquanto nação, o Ponto de Memória tem papel fundamental. “Vamos torná-lo um espaço vivo, um centro de vivencia, com noites de contação de histórias, trazendo as memórias que estão sendo esquecidas. Os jovens não estão recebendo porque os velhos não estão tendo oportunidade de contar”, alerta Jocelino.

A busca pela autossustentação financeira se dará através da abertura dos espaços aos visitantes, aos turistas, e também na busca por parceiros. “Realizaremos exposições de artefatos, trilhas temáticas, atividades culturais, tudo como uma proposta de ecoturismo”, explica o coordenador. Uma alternativa às comunidades, depois de anos de exploração das terras indígenas pela Aracruz Celulose (Fibria), que degradou o solo e a mata atlântica, prejudicando o desenvolvimento da agricultura orgânica e agroecológica.

Mesmo com toda a modernização que os indígenas contemporâneos experimentam, adotando tecnologias de comunicação, estudante em universidades fora das aldeias e trabalhando também em atividades tipicamente “não-indígenas”, a identidade com a floresta se mantém como um dos pilares da cultura tupinikim.

“A maioria do meu povo só retira da mata aquilo que é necessário. Não tem uma ação de devastação, raramente você vai ver isso”, atesta Jocelino. “Eu acredito que a gente precisa cuidar da floresta”, reflete o educador, que reside “na beira da mata”. “Traz uma paz única. Com a floresta, a gente consegue se aproximar mais de Deus”, afirma. 

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