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Estarrecedoramente Dilma

A economista Dilma Rousseff deu um looongo depoimento à revista Esquerda Petista em que comenta e analisa a crise econômica mundial e seus desdobramentos no Brasil. Para a ex-presidenta, a chave da crise vigente é a “financeirização”, fenômeno global mais ou menos recente cuja principal característica é o predomínio do capital financeiro sobre todas as demais atividades econômicas convencionais – indústria, comércio, transportes, agricultura, governo.
 
 Mais do que estabelecer o “estado mínimo” e destruir os mecanismos do bem-estar social, o objetivo da financeirização é pagar menos impostos, afirma Rousseff, lembrando que o resultado final do fenômeno é o aumento brutal da desigualdade econômica e social — obra em andamento no Brasil nas mãos do vice-presidente Michel Temer.
 
O depoimento da ex-presidente revela uma pessoa bem informada e articulada. Surpreendentemente, ela se declara otimista e acredita ser possível retomar as prioridades do estado social a partir das eleições de 2018.
 
Acha por exemplo que, apesar da privatização feita pelo PSDB, o Brasil conserva uma estrutura estatal muito forte: Caixa Econômica, Banco do Brasil, BNDES, Petrobras e Eletrobras. São cinco pernas que permitem gerar investimentos em atividades produtivas, mas até mesmo essas empresas estatais caíram no vício da financeirização que tomou conta de todas as grandes empresas ou, seja, “todas têm uma variante bancária chamada tesouraria, na qual a parte financeira é, progressivamente, mais significativa que a parte produtiva”.
 
No Brasil, segundo Dilma, a financeirização é mais intensa porque as grandes empresas, a começar pelos bancos, tornaram-se “sócias da rolagem da dívida pública”, ou seja, “se você depositar no Banco Central, ele te paga a taxa da Selic, entendeu?”E aí você fica sentado lá na sua casa e ganha sem trabalhar…Você é o Itaú, Bradesco, Santander…
 
”Se eu revogo isso, não são só o Itaú, Santander, nossa querida Caixa, nosso querido Banco do Brasil, que perdem. A Petrobrás também quer a mesma coisa, está endividada em dólar e quer o real ultravalorizado”.
 
Além disso, o empresariado tem uma boa lucratividade no mercado interno de rolagem da dívida. Eis o suprassumo da finaceirização, que a economista Maria Lucia Fatorelli quer lancetar por meio de uma auditoria da dívida pública no Congresso…  
 
Em outra grande vertente do seu depoimento à revista Esquerda Petista, a ex-presidente reconheceu que faltou força (e coragem) a seu governo (2011-2016) – e até para o segundo governo Lula (2007-2010) – para estabelecer o controle sobre os meios de comunicação social.
 
Em princípio, os governos petistas achavam que a mídia precisa ser controlada economicamente para que não se torne monopólio ou oligopólio, como ocorre com qualquer ramo de negócio. “Isso é contra a democracia. Não é só contra a economia popular, mas é contra a democracia”.Ou, seja, “você não pode deixar que se formem conglomerados de jornal, televisão, rádio e revista e qualquer outro”. Contra isso tem o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que faz muita fumaça e pouco fogo.
 
No começo dos governos petistas, ao invés de criar uma lei antimonopólio, o presidente Lula ajudou os principais grupos de mídia a sair de suas crises de sobrevivência advindas da revolução tecnológica (internet). Ingenuidade, bom mocismo e falta de visão de futuro, pois no primeiro momento ninguém do governo tinha uma proposta de controle como seria formulada posteriormente pelo ministro Franklin Martins, que paradoxalmente acabou caindo fora do governo Dilma.
 
Quando sentiu que o governo petista estava fraco, a mídia passou a argumentar que a imprensa livre e democrática é um fundamento da democracia, dando a entender que o governo queria controlar o conteúdo dos meios de comunicação.
 
Dilma admite: “Nós não soubemos colocar bem essa discussão. E fomos ingênuos em relação aos meios. Eles não têm nem princípios democráticos, nem republicanos. Com eles não dá para fazer ‘senta que o leão é manso’. O leão não é manso. Come sua mão, sua perna e sua alma”.
 
No final do período Lula, o governo já não tinha mais força política suficiente para sequer propor regular a mídia. A situação ficou pior com o Eduardo Cunha na presidência da Câmara. A ex-presidente conta que o deputado carioca foi à cúpula da Rede Globo e prometeu barrar a regulação da mídia pretendida pelo governo. Não só barrou os projetos petistas como comandou o impeachment presidencial.
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Os meios de comunicação são antidemocráticos”.
 
Dilma Rousseff ao reconhecer à revista Esquerda Petista que a mídia manipula o conteúdo a favor dos interesses econômicos dos seus proprietários

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