Sexta, 19 Abril 2024

Crie abelhas, não mosquitos'

Crie abelhas, não mosquitos'

Basta um pequeno deslize no horário de aplicação do fumacê para que uma verdadeira tragédia ambiental ocorra no minúsculo universo dos pequenos insetos.



O fumacê mata abelhas sem ferrão, abelhas com ferrão, borboletas, mariposas, besouros e inúmeros outros pequenos insetos, inclusive mosquitos, sendo que esses, porém, são mais resistentes ao veneno. “Eles começam a rodar, tontos, depois morrem”, descreve o meliponicultor Rogerio Caldeira, do Meliponário Emparede, no bairro Santo Antônio, em Vitória.



Uma prova da já conhecida fragilidade da entomofauna urbana ocorreu, na capital capixaba, na última quinta-feira (6), quando o carro do fumacê circulou depois das seis da manhã. Nesse horário, com o dia já claro, as abelhas sem ferrão – abelhas nativas, do gênero Melipona – saem de suas caixas e morrem ao entrarem em contato com o inseticida.



Rogerio conta que conseguiu recolher apenas alguns punhados de abelhas mortas, que conseguiram chegar até as caixas, lá fenecendo. A maioria morreu no caminho. “As abelhas sem ferrão voam até 4,5 km, então, dependendo do local em que tiveram contato o fumacê, elas não conseguem chegar nas caixas”, explica.



Em seu meliponários existem 30 caixas, com três mil a cinco mil abelhas em cada. As principais espécies são uruçú amarela, mandassaia e jataí, sendo que a maior mortandade acontece entre as uruçús-amarelas e as mandassaias. “A minha sorte é que as aplicações são mensais ou a cada dois meses. Se perpetuar toda semana, em um mês eu perco todas as colmeias”, calcula.



Alertada sobre o perigo, a Prefeitura de Vitória chegou a estabelecer um acordo com os criadores de abelhas sem ferrão, por meio da Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AMES), há cerca de um ano e meio, para que a aplicação do inseticida ocorra no período noturno, quando, ao menos as abelhas sem ferrão, estão recolhidas em suas caixas.



O ideal, esclarece o criador, seria não ter o fumacê. “É complicado pra saúde humana, é questionável.  E é um prejuízo muito grande pra natureza”, afirma. “Mas a gente entende que é uma ação difícil de eliminar, até pela dengue. E nessa época do ano gera muito voto, muita demanda para os vereadores. Então a gente pede que ao menos respeito ao horário acertado”, argumenta.



Apesar do acordo feito com a Secretaria Municipal de Saúde, muitas vezes quem está na ponta do processo, não cumpre o cronograma. “O operador do fumacê costuma mudar esse combinado”, diz.



As abelhas sem ferrão, do gênero Melipona, são nativas da Mata Atlântica e excelentes polinizadoras. Produzem mel em menor quantidade que as europeias ou africanas, com berrão, do gênero Apis, mas com qualidade maior – são méis mais nutritivos e com mais propriedades medicinais, além de muito saborosos. Por sua elevada capacidade de polinização das espécies nativas da Mata Atlântica, são animais fundamentais para a recuperação florestal, seja no meio rural ou mesmo urbano.



Por isso, o Meliponário Emparede trabalha fortemente a conscientização para que as pessoas cuidem de seus quintais e varandas, evitando mosquitos, principalmente os vetores de doenças, como a dengue, para que a necessidade de fumacê deixe de existir. E que criem abelhas sem ferrão, para tornar as cidades, campos e florestas, mais biodiversos. Daí o motivo do lema: “Crie abelhas, não crie mosquitos”.

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