Quinta, 28 Março 2024

Encontro de arcebispo com Malta gera renúncia na Comissão de Justiça e Paz

Encontro de arcebispo com Malta gera renúncia na Comissão de Justiça e Paz

Depois de ter veiculado um vídeo em que pede aos fieis católicos a fazer um boicote de votos ao partido Psol pela legenda ter sugerido a descriminalização do aborto, assunto que está sendo discuto no Superior Tribunal Federal (STF), o arcebispo metropolitano de Vitória, Luiz Mancilha, resolveu agora se aliar ao senador Magno Malta (PR) numa cruzada contra a discussão da medida. Os atos do religioso, no entanto, tiveram consequências. Depois de Mancilha ter publicado uma foto com o senador em redes sociais, a quem recebeu na Cúria Metropolitana, o então presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, Bruno Toledo, entregou nessa quinta-feira (2) uma carta de renúncia, se afastando do cargo. 


Segundo Bruno, que está na Comissão de Justiça e Paz há seis anos, sendo os últimos três deles na presidência da entidade, a decisão de entrega do cargo foi tomada “por chegar ao limite”.



“Não poderia continuar porque estaria indo contra a minha essência, ao que acredito, ao que sou. Já passei por situações de eventuais contradições, mas que foram superadas por serem menores. Mas cheguei no limite. Não poderia estar numa entidade em que seu representante abraça um político que defende a pena de morte e a redução da maioridade penal. Se a luta é pela vida, deve ser uma luta pela vida de maneira mais ampla. O arcebispo abraça o senador que defende a pena de morte no dia em que o Papa Francisco toma uma decisão histórica, mudando o catecismo da Igreja, se colocando contra a pena de morte”.


Para Toledo, o fato de o arcebispo atacar um partido como o Psol também é um fato grave. “O Psol é um partido pequeno, mas com grande contribuição para os mais explorados e pobres. Por que o arcebispo não atacou o MDB, que está à frente da aprovação da reforma trabalhista e do congelamento de gastos na saúde e educação, ou o partido [PSL] de [Jair] Bolsonaro, que defende a tortura? Minha renúncia é um ato político, um compromisso de estar ao lado dos oprimidos, na defesa dos pobres, que é o que Jesus faria, se estivesse vivendo em nosso tempo histórico”.  


Carta



Na carta, o militante dos Direitos Humanos, que é articulista de Século Diário, diz: “... Tenho muito orgulho do trabalho que desenvolvi ao tempo que presidi a Comissão de Justiça e Paz. Sei o quanto me dediquei para fazer, nos limites que enfrentei, valer os ensinamentos de Cristo. Foi assim que mediamos inúmeros conflitos que talvez Vossa Excelência nem saiba. A ocupação dos trabalhadores sem-terra na Secretaria de Estado da Educação. A ocupação de pessoas sem moradia na Secretaria de Cidadania de Vitória e em outros prédios públicos. A ocupação dos jovens nas escolas em luta por educação. Foi assim também na tragédia da greve da polícia em fevereiro passado. Na greve dos professores em Vitória. Foi assim que denunciamos inúmeras violações de direitos humanos. Foi assim também no apoio incondicional aos atingidos pela lama criminosa da Vale quando, por iniciativa nossa, criamos o Fórum Capixaba em Defesa do Rio Doce e chegamos à OEA em Washington-EUA”. 


Bruno completa: “Saio com a consciência tranquila de quem buscou sempre estar do lado certo. Dos oprimidos contra o grande capital. Dos pobres contra a arbitrariedade da polícia. Dos trabalhadores contra a ganância dos patrões. Saio com a certeza de que fiquei do lado que Cristo ficaria se aqui estivesse. Do lado que Papa Francisco está. Do lado que a Igreja deveria estar! Um abraço fraterno, com os meus respeitos, Bruno Toledo”.

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