Terça, 23 Abril 2024

Entidades querem uma política de segurança pública comunitária

Entidades querem uma política de segurança pública comunitária

A segurança pública do Espírito Santo continua no centro das atenções. Uma série de episódios violentos registrados nas últimas semanas, sobretudo nos morros da Capital, levou a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) a anunciar e adotar novas medidas de combate à violência. A novidade, desta vez, é uma espécie de intervenção da Polícia Militar nas periferias, sobretudo nos morros de Vitória, com forte aparato bélico. Mas, como de costume, as ações foram coordenadas sem qualquer participação dos movimentos sociais que já realizam projetos sociais nessas comunidades e sem ouvir os próprios moradores e seus representantes. 


O ativista do movimento negro, integrante do Círculo Palmarino, Lula Rocha, por exemplo, divulgou um texto em que faz duras críticas às novas medidas que estão sendo implantadas pela pasta, como anunciado pelo secretário Nylton Rodrigues.



Luca citou, inclusive, a antropóloga Jacqueline Muniz, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das pesquisadoras mais respeitada na área da segurança pública, que batizou como “Síndrome do Cabrito” a modalidade de policiamento que privilegia incursões pontuais em morros com tropas fortemente armadas e formadas com doutrinas de combate, em detrimento de uma presença permanente, com interação comunitária e seus contextos. 


No texto, Lula diz: “Ela (a antropóloga Jaqueline Muniz) afirma que essa modalidade coloca em risco moradores e os próprios policiais, além de não ser efetiva no combate à atuação de grupos organizados que estejam nos territórios cometendo crimes”.



E completa: “Apesar de já rechaçada em diversos locais, essa forma de policiamento foi anunciada no Espírito Santo como uma nova fórmula para enfrentar a grave situação de insegurança que nós capixabas vivemos. Novamente uma saída autoritária e midiática é vendida como solução. Será que moradores das comunidades foram ouvidos? Essa nova estratégia será empregada em quais comunidades? Vão esperar ocorrer novos conflitos para anunciar outras medidas? As condições em que esses trabalhadores da segurança estarão submetidos foram levadas em consideração? As medidas anunciadas anteriormente em relação a outras comunidades já foram executadas ou estão em curso?”, ponderou.


O ativista afirma que os movimentos sociais capixabas acreditam que a saída para resolver os problemas de insegurança vivenciada pelo capixaba passa pelo retorno do policiamento comunitário, aproximando cada vez mais o profissional da segurança pública ao contexto das comunidades, mas não só.  “Precisamos também construir, urgentemente, uma Política de Segurança Pública com participação de amplos setores da sociedade para buscarmos caminhos juntos e definitivamente. Não podemos admitir que autoridades da segurança pública apenas anunciem medidas após o acontecimento de fatos de grande repercussão, sem lastros com os problemas que dizem querer enfrentar”.


Piedade



A Sesp também anunciou que vai iniciar a reforma do imóvel que será transformado em base da PM no bairro da Piedade, no Centro de Vitória. De acordo com informações de moradores e entidades que representam a comunidade, o imóvel desapropriado pelo Estado fica na parte baixa da Piedade, próximo aos espaços do telecentro e do Centro de Vivência, que chegaram a ser cogitados pelo Estado, em acordo com a Prefeitura de Vitória, para abrigar o destacamento da PM, o que foi rejeitado pela comunidade. 



Em reunião realizada no dia 20 de junho deste ano, cerca de 70 moradores do Morro da Piedade reafirmaram que desejam uma base da Polícia Militar na parte alta do bairro por vários motivos. Entre eles, o fato de que os traficantes costumam invadir a comunidade por lá, trazendo o terror com tiroteios. As balas perdidas atingem as residências e também pessoas inocentes. 



Foi assim que Lucas Teixeira Verli, de 19, que jantava na varanda de sua casa, foi alvejado com vários tiros, inclusive no rosto, no dia 28 de maio deste ano. De acordo com relatos, um grupo com mais de 20 criminosos chegou ao bairro pelo alto atirando contra as residências antes das 21 horas. Entre os atiradores, homens com máscaras para esconder os rostos. Além de Lucas, este ano, foram quatro jovens assassinados, incluindo os irmãos Ruan e Damião Reis, em março, e, mais recentemente, Walace de Jesus Santana. 



Desde 2010, quando os conflitos do tráfico se intensificaram na Piedade, 203 pessoas deixaram a comunidade, o que corresponde a 60 residências desocupadas. Apenas neste ano, segundo a organização Raízes da Piedade, 128 pessoas se mudaram do bairro, o que representa 40 casas vazias desde janeiro. 

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