Sexta, 29 Março 2024

Escola Viva envolve entidades bilionárias e impõe regras de mercado ao Estado

Escola Viva envolve entidades bilionárias e impõe regras de mercado ao Estado

O Escola Viva, implantado no Espírito Santo no governo Paulo Hartung, não é um programa isolado. É mais uma investida da política neoliberal introduzida no Brasil por poderosos grupos corporativos, visando controlar o Estado e impor regras de gerenciamento do mercado. 


O programa chegou ao Espírito Santo pelas mãos dos empresários  Aridelmo Teixeira, candidato ao governo do Estado pelo PTB, e Wagner Chieppe, diretor do grupo Águia Branca, líderes empresariais da ONG Espírito Santo em Ação, historicamente atrelada às gestões de Hartung, e, também, a de seu antecessor, Renato Casagrande (PSB), outro candidato do pleito de outubro próximo.


“O poder público tem falhado em todas as áreas e estamos preenchendo um vazio que não deveria existir”, diz o presidente do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE), Marcos A. Magalhães, idealizador do Escola Viva, para explicar a implantação do projeto no Estado, como já fez em Pernambuco, Ceará, Sergipe, São Paulo e Rio de janeiro. 



Ele esteve em Vitória na noite dessa quarta-feira (26) para avaliar o projeto e manter contatos com seus parceiros da ES em Ação e com o governador Paulo Hartung, segundo ele contou a Século Diário em rápida entrevista por telefone, nessa quinta-feira (27).



A falha do poder público, para ele, não se restringe ao Espírito Santo. Atinge todo o País, principalmente as áreas de educação, segurança pública e saúde. Para Magalhães, essa falha é um problema que envolve a todos e deve ser preocupação da sociedade. 



O idealizador do Escola Viva afirma que o eixo deve ser a educação, que forma a base da sociedade, destacando que o modelo da escola em tempo integral irá reduzir o elevado número de desistência no ensino médio. “As estatísticas mostram que no modelo tradicional de cada 100 alunos, 40 não concluem o curso. Com o nome modelo, esse número cai para apenas dois por 100”, defende.



Desse modo, ele justifica a participação no projeto de empresas bilionárias como a Kraft Hwinz, o Burger King, a maior cervejaria do mundo, a AB InBev, a gigante de cosméticos Natura e grandes empresas poluidoras instaladas no Espírito Santo, como a Vale e a ArcelorMittal. “Sem ônus para o Estado”, afirma.


O modelo segue as regras da “filantropia-capitalista”, que consiste em investir em áreas como educação, saúde, agricultura, segurança, os mais destacados, em troca de lucros por meio de benesses de governos, entre eles incentivos fiscais, redução nas taxas do Imposto de Renda, entre outros. 



O envolvimento desses grupos obedece ao modelo neoliberal de entregar o controle da gestão de políticas para a educação pública a fundações privadas, como ocorre nesse projeto, implantado pelo governo Paulo Hartung e que vem gerando polêmica entre alunos, professores e economistas. 



Para garantir o projeto no próximo governo, o ex-governador Renato Casagrande (PSB) já foi procurado, por liderar as pesquisas de intenção de votos, a fim de garantir a permanência do convênio, já que a campanha ao Palácio Anchieta do empresário e professor Aridelmo Teixeira, um dos consultores do Escola Viva, não tem chances de sair vitoriosa. 



A parceria para a implantação do programa foi firmada entre o governo do Estado, por meio da Secretaria da Educação (Sedu), a ES em Ação, e os institutos Sonho Grande e Natura, presididos, respectivamente, pelos bilionários Jorge Paulo Lemann (AB Inbev) e David Saad (Natura), maiores parceiros de Magalhães. 



Para viabilizar a contratação de consultorias responsáveis pela transferência da metodologia, a Espírito Santo em Ação conta com recursos financeiros da ArcelorMittal, Chocolates Garoto, Fibria, Fucape, Grupo Águia Branca, Instituto Natura, Instituto Sonho Grande, Samarco, Sicoob e Vale.



O Estado entra com a estrutura, os servidores, sem qualquer ônus de consultoria e implantação do sistema, que fica cargo do ICE e compreende a implantação, gestão escolar e pedagogia. Por meio de uma Parceria Público Privada (PPP), ONGs e grupos empresariais aportam o recurso financeiro, e o ICE faz a consultoria.



Por trás desses projetos está o Instituto Milenium, entidade de intelectuais, entre empresários de mídia e de grandes corporações industriais, banqueiros e financistas, que se unem a lideranças políticas na tentativa de reagrupar núcleos de poder no mercado, ocupar áreas da gestão pública e criar sustentação política do chamado centro, que nada mais é do que um movimento da direita.  



Defende as privatizações de empresas públicas, seguindo o modelo neoliberal de aprofundar falsas reformas para reduzir o Estado, com plena liberdade do sistema financeiro, para o mercado avançar por meio de oligopólios privados, com desregulamentação de direitos sociais. 



As entidades conveniadas para a implantação do projeto Escola Viva são ligadas ao Instituto Milenium, que tem entre seus líderes o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, um dos conselheiros do governador Paulo Hartung, que na fase pré-eleitoral tentou lançar o apresentador de TV Luciano Huck candidato à Presidência da República. 



Nesse círculo o governador Paulo Hartung transita livremente, sendo um dos porta-vozes do discurso neoliberal no Brasil, que condena o populismo e o extremismo e defende uma gestão coletiva, com regras de mercado, como forma de reerguer o fracassado capitalismo. 



“Não podemos ficar entre Fernando] Haddad e [Jair] Bolsonaro”, destaca Marcos A. Magalhães, um engenheiro elétrico aposentado e ex-presidente da Phillips para o Brasil e América Latina.



Ele não expõe outra candidatura, mas deixa a marca da lógica neoliberal de que o Estado falhou e, por isso, é preciso impor a gestão de qualidade total, mesmo que isso aprofunde desigualdades e o corte de direitos sociais. 



Ao colocar a educação dentro da concepção neoliberal, deixa de ser considerada direito de alunos e do magistério, por conta da imposição de regras e ausência de qualquer diálogo. É a lógica empresarial, que desregulamentou o plano de cargos e salários e precarizou outros direitos trabalhistas, sob a capa de modernização. 

Veja mais notícias sobre Política.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 29 Março 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/