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Extinção de CJP da Arquidiocese é decisão inédita na Igreja Católica

Mais um capítulo para a polêmica envolvendo o arcebispo metropolitano, dom Luiz Mancilha, e a Comissão Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de Vitória. Mancilha é protagonista de uma decisão inédita na Igreja Católica Brasileira: a extinção da CJP.

A entidade histórica de luta pelos direitos humanos e em defesa da democracia foi fundada há 40 anos (1977) no Estado por grandes militantes, como o jurista João Batista Herkenhoff, a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Vera Nascif, além dos religiosos dom João Batista da Motta e Albuquerque, o bispo auxiliar dom Luiz Gonzaga Fernandes, e o arcebispo emérito Geraldo Lyrio Rocha. 

A medida foi tomada pelo religioso, nessa sexta-feira (3), um dia depois da renúncia do então presidente da Comissão, Bruno Toledo, que entregou o cargo como reação à aliança entre Mancilha e o senador Magno Malta (PR), defensor declarado da pena de morte e da redução da maioridade penal, medidas, veementemente, condenadas pelos militantes dos direitos humanos.  

Malta foi recebido na Cúria Metropolitana para prestar apoio ao arcebispo na luta contra o aborto. O líder da igreja católica no Estado também gravou, recentemente, um vídeo em que acusava o Psol de “ser um partido que defende a morte”, aconselhando o fieis a fazer um boicote de votos à legenda nas eleições deste ano.

Surpresa

João José Barbosa Sana, vice-presidente da extinta Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória desde agosto de 2015, explica que os integrantes da CJP foram pegos de surpresa com a notícia.

Segundo Sana, no dia seguinte à renúncia do então presidente Bruno Toledo, os integrantes da Comissão se reuniram para avaliar a situação, se continuariam ou se também renunciariam, quando ficaram sabendo da decisão do arcebispo. “Não deu tempo nem de refletir à luz da Palavra de Deus qual decisão tomar, pois logo ficamos sabendo da carta do arcebispo extinguindo a CJP. Mas, independentemente da existência ou não da comissão, continuaremos na luta pela justiça, paz e direitos humanos”, disse João José, que foi o destinatário da carta do arcebispo, comunicando a extinção da CJP.

“Fiquei muito triste. A Comissão completou 40 anos de uma bela história em favor da justiça, paz e direitos humanos. Seria tempo de comemorar, mas o arcebispo deixou de considerar a relevância histórica da entidade. A Comissão sempre foi um espaço de resistência, de apoio às pessoas oprimidas. Assim como Jesus fazia, prestava apoio aos órfãos e viúvas, às mulheres violentadas, às pessoas abandonadas”, disse Sana. 

Dom Luiz Mancilha argumentou que a extinção da CJP se deu em função de uma orientação do próprio papa Francisco, que, em 2016, segundo o arcebispo, instituiu o Dicastério para o Desenvolvimento Humano integral, unindo outras entidades da Igreja, entre elas o Pontifício Conselho Justiça e Paz. Segundo o arcebispo, a decisão do papa Francisco seria para atender melhor e de forma unificada as demandas sociais. 

Para Bruno Toledo, é difícil acreditar que o Papa Francisco incentive o fim de uma CJP de 40 anos. “Muito triste presenciar o fechamento da igreja aos movimentos sociais e às questões sociais no momento em que o país mais precisa de vozes que defendam os pobres, a democracia e a justiça, missão que a CJP sempre cumpriu de forma honrada, corajosa, sendo testemunho do evangelho de Cristo nos dias atuais”. Para Toledo, “a igreja está fechando os olhos para o clamor do povo”. 

Lutas

Em 40 anos, a CJP participou ativamente, prestando apoio a diversas lutas encampadas pelas mais variadas entidades dos movimentos sociais capixabas. Lutou conta a ditadura militar, contra o crime organizado no Espírito Santo, contra as execuções sumárias, contra a Escuderia Le Coque, contra as masmorras do sistema prisional. 

Recentemente, esteve presente em diversos outros movimentos, como a ocupação dos trabalhadores sem-terra na Secretaria de Estado da Educação (Sedu), a ocupação de pessoas sem moradia na Secretaria de Cidadania de Vitória e em outros prédios públicos, a ocupação dos jovens nas escolas em luta por educação.

Além disso, realizou intermediações durante a greve da PM e dos professores em Vitória. Também prestou apoio incondicional aos atingidos pela lama da Vale/Samarco, quando foi criado o Fórum Capixaba em Defesa do Rio Doce. “A Comissão sempre se colocou como voz daqueles que estavam sofrendo”, completou Toledo.

Outros militantes também lamentaram a extinção da CNJ. Para Gilmar Ferreira, o senador Magno Malta defende posições antagônicas às CNBB em muitos temas, como redução da maioridade penal, reformas trabalhistas e da previdência, o fim do estatuto do desarmamento, entre outras.

“Lamento a medida drástica e unilateral de extinção da CJP, que há 40 anos combateu os esquadrões da morte e a ditadura militar. A Comissão já teve entre os seus integrantes Everton Montenegro e João Batista de Herkenhof, e a luta deles deve continuar”, disse. 

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