Quinta, 28 Março 2024

OAB lança documentário com relatos sobre a paralisação da PM

OAB lança documentário com relatos sobre a  paralisação da PM

O documentário Sem Saída, que apresenta os relatos de personagens envolvidos na paralisação da Polícia Militar, será lançado nesta quarta-feira (15), às 17h, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Espírito Santo (OAB-ES). O filme, de acordo com seus realizadores, reflete a realidade de várias famílias capixabas marcadas pela dor. São entrevistas de pessoas que contam o que viveram no mês de fevereiro de 2017. 


São 43 minutos de gravação, com a participação de representantes da seccional capixaba, representantes da Igreja Católica, pesquisadores, professores e militantes de direitos humanos.


A diretora de Direitos Humanos da OAB-ES, Verônica Bezerra, realizou a pesquisa e levantamento, por meio da base de dados com o número de homicídios ocorridos no período de greve.



“A ideia do documentário surgiu depois que a Comissão de Direitos Humanos compilou e analisou todo o banco de dados das vítimas de homicídio de fevereiro de 2017. A partir disso, fomos provocados pelo Grupo de Pesquisa Homo Sacer, da Ufes, coordenado pelo professor Paulo Veten, para fazermos o documentário, inspirado no documentário ‘A 13ª Emenda’, que traça um paralelo entre a escravidão das pessoas negras e a atual situação do encarceramento em massa de pessoas negras nos EUA".


Segundo Verônica Bezerra, foi desenvolvido um roteiro para entender onde as violações de direitos humanos acontecem de forma drástica, modificando vidas e interrompendo sonhos. “Fizemos um recorte de faixa etária, jovens, e percebemos a ausência de políticas públicas para esse público”, frisou.


A diretora salientou que “o documentário foi um aprendizado, e o que se espera com esse material é produzir muita discussão. Precisamos de uma mudança de rota, que em um futuro bem próximo esses jovens não encontrem nem a porta da Unis, nem o sepultamento. Lutamos por um horizonte melhor para essa juventude, que não está perdida. Precisamos cuidar do broto para que a vida dê flor e frutos".


O professor Paulo Veten, coordenador do Grupo de Pesquisa Homo Sacer, da Universidade Federal do Estado (Ufes), realizador do documentário, afirmou que durante o trabalho de pesquisa para o vídeo os produtores encontraram grande dificuldade para localizar as famílias das vítimas.



“As famílias fogem dos seus bairros de moradia com medo de serem as próximas vítimas. E o que nos chamou muita atenção ao produzir todo o material com foco no homicídio de jovens é que o Estado sabe exatamente onde estão esses jovens, mas opta por deixá-los nessas condições”, disse o professor. 


“O que também nos chamou muita atenção é que se confirma nos homicídios o estereótipo das vítimas serem jovens negros, pobres e reprovados na escola”, concluiu.


Para a pesquisadora do Observatório da Mídia, que produziu o documentário, Marialina Antolini, os dados compilados na produção do vídeo sobre o número de adolescentes e jovens assassinados advindos do sistema socioeducativo são chocantes. “Os dados mostram como nós não buscamos a ressocialização e oportunidades melhores para essas pessoas, pois queremos simplesmente nos vingar, e não fazer justiça. E fazemos isso com a parcela mais fraca da população. Um dos entrevistados no documentário cita que temos tráfico no bairro nobre e na periferia, mas é na parte mais carente que vemos mais mortes”, afirmou. 


Marialina esclarece que a proposta de produzir o vídeo foi, justamente, para mostrar que existe um grupo específico que está sendo eliminado na população e tentar entender o porquê. “Decidimos ouvir os familiares que tiveram entes queridos assassinados em fevereiro para fazer ecoar essas vozes, porque muitas vezes só ouvimos a voz oficial”.


“Foi muito duro conversar com essas pessoas que passaram por tanta dor e perceber que estamos construindo uma sociedade que não é saudável. Se, de fato, tivéssemos políticas públicas, não seria tão difícil evitar essas mortes e desmontar essa violência que é estrutural. Precisamos de um novo modelo de sociedade”, avaliou a pesquisadora.

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