Dezesseis minutos dura o filme Braços Vazios, de Daiana Rocha. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. Toda uma vida dura a dor e o vazio das mães que perderam seus filhos. É essa realidade que perpassa o curta-metragem lançado no Cine Metrópolis.
Daiana já acompanhava há tempos os noticiários e debates sobre o genocídio da juventude negra. Mas a repercussão do assassinato de cinco jovens pela Polícia Militar com mais de 50 tiros em 2015, no Rio de Janeiro, foi o estopim que a levou a querer fazer algo sobre o assunto, já que não encontrou produções audiovisuais que o abordassem no Espírito Santo. Mudou o tema de seu trabalho de conclusão de curso em Cinema na Universidade Federal do Estado (Ufes), que resultou no curta-metragem, realizado de forma independente e finalizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura).
O resultado é uma obra que passeia pelo silêncio, a dor e a solidão. Filmes como O Sol Alaranjado, O Quarto do Filho e A Liberdade é Azul influenciaram na construção da narrativa e estética de Braços Vazios, fruto de uma longa pesquisa da cineasta sobre essas mães que perderam seus filhos de maneira violenta. O silêncio que dá o tom da obra acompanhado da trilha sonora é rompido por um encontro da personagem com outras mães que passaram pelo mesmo, cena inspirada em ações de movimentos como os das Mães de Maio, uma referência na luta por justiça. Entram aí fortes relatos reais de duas mães capixabas que perderam seus filhos vítimas da violência, construindo um hibridismo entre ficção e documentário.
“Eu ia fazer algo totalmente ficcional, mas pensei que seria interessante dar espaço para as mães, elas que geralmente falam na TV quando acontece o crime, mas falam pouco. E ninguém aborda o dia a dia, a falta que esse filho faz no cotidiano. A maioria desses jovens não tem pai”, diz Daiana. A recusa ao convite de sair feito pela amiga, o quarto do filho com as roupas intocadas, são detalhes tratados com delicadeza e fruto da pesquisa da diretora.
O encontro da personagem ficcional com as mães reais insinua uma recuperação da solidão e vida cabisbaixa, enquanto a mãe junta os cacos de uma quebra brusca para transformar o luto em luta. Afinal, o que pode ser mais rebelde que uma mãe que perdeu seu filho e luta por justiça?
Daiana Rocha pontua que, apesar do tema denso, foi necessário pensar artisticamente a produção, para além da militância, cuidando das cores, fotografia, direção, figurino, sempre com a preocupação de não estereotipar a personagem.
É certamente uma daquelas obras que não acaba quando termina. Por isso, após a exibição de lançamento, haverá um debate sobre o filme e, sobretudo, a temática abordada, tendo como convidados Lula Rocha, do Círculo Palmarino, Thaís Souto Amorim, coordenadora do Museu Capixaba do Negro (Mucane), e o artista MC Thug.
AGENDA CULTURAL
Lançamento oficial do curta-metragem Braços Vazios
Quando: Quarta-feira, 25 de abril, 19h
Onde: Cine Metrópolis – Campus da Ufes em Goiabeiras
Convidados: Lula Rocha (Círculo Palmarino), Thaís Amorim (Coordenadora do MUCANE) e MC Thug