Estava em São Paulo, e ao voltar de táxi do I Congresso de Educação Financeira (Conefe), a taxista me perguntou o que eu fazia na cidade. Ao explicar sobre a participação no Conefe e sobre o que faz o educador financeiro, fui surpreendida com a frase “ah, eu precisava disso!”. Durante o tempo gasto no trânsito de SP, fomos trocando informações despretensiosas. Ela foi me contando sua vida e, através das frases, fui formando uma ideia de como seria a sua relação com o uso do dinheiro.
Declarou: “eu tenho medo de dívidas! Sempre tive”. O que ressaltei como ponto positivo, mas logo expressou sua autoanálise: “é, mas daí eu não tenho nada…”
Percebi a lucidez e um desejo de mudança expresso em suas palavras. E continuou dizendo: “eu preciso comprar tantas coisas e fico sempre esperando…” Na conversa sugeri que fizesse uma lista de todos os itens que precisa ou que deseja adquirir. Sem muito esforço, num exercício mental e verbal, listou rapidamente: “- preciso de uma TV nova, porque a que eu tenho ainda é de tubo, mas como funciona…(risos). Ah, preciso comprar um nebulizador para a minha filha, porque o dela quebrou e ela precisa para fazer tratamento. Quero pintar o quarto onde durmo com ela para ficar mais agradável…”
Dentre os itens relacionados, comentei sobre a importância de priorizá-los por necessidade e custo. Para exemplificar, usei o caso do nebulizador, comparando-o a TV, e usei o argumento do tempo instável de SP, o que possivelmente fará com que sua filha venha a precisar do nebulizador, e ela precisará levá-la a um serviço de pronto atendimento por não tê-lo em casa, já a TV, pode esperar, diferenciando então o que é urgente do que é emergente. A resposta também foi rápida, de que no dia seguinte compraria um nebulizador para sua filha, quando falei sobre outro ponto importante: a pesquisa de preço. A resposta estava na ponta da língua. Ela citou duas lojas onde já havia consultado o preço. Outro ponto positivo em seu comportamento de consumo, mas que confirmou o seu medo de gastar.
Resolvida a prioridade emergencial, conversamos novamente sobre o caso da TV. Como não é emergente e custa mais caro, estimulei que escolha o modelo que deseja, que pesquise os preços, acompanhe e, paralelamente, vá juntando dinheiro para estar capitalizada quando uma boa oportunidade aparecer.
Curiosa, fiz nova pergunta à taxista sobre como paga suas compras. Respondeu-me que à vista. E outra pergunta, também respondida muito bem, que tem o hábito de pedir descontos nas compras.
Comentei: “será que falta ousadia?” Evoluindo em sua autoanálise, disse que acredita que o seu casamento acabou por causa disso. Ela, muito controlada, e ele muito ousado com o dinheiro. Informei que cerca 40% dos casamentos encerrados ocorrem em função de discordâncias no uso dos recursos financeiros. Novamente avaliou: “se fosse hoje, talvez desse certo”.
Quando a corrida encerrou, a taxista entusiasmada afirmou que quando nos encontrarmos novamente ela terá cumprido com toda a sua lista. Eu lhe respondi e repito aqui: eu acredito! Me despedi e sai do táxi com a sensação de que todo contato é uma oportunidade para trocar experiências.
O desafio aqui é: como dosar a ousadia? Considerando que a diferença entre o remédio e o veneno, está na dose.