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Projeto de mobilidade urbana do governo não contempla pauta forjada nas ruas

Embora as manifestações de rua tenham levantado a pauta da mobilidade urbana na Grande Vitória, o projeto BRT (Bus Rapid Transit, sigla em inglês) não condiz com as demandas das ruas. Pelo menos essa a análise do especialista em políticas públicas Roberto Garcia Simões (foto). Segundo  professor, o que se vê agora repete o que ocorreu em governos anteriores, onde os projetos de mobilidade são usados como “tábua de salvação” para o a resgate da popularidade entre os eleitores. 
 
 
“Primeiro é preciso fazer uma retrospectiva e ver que esse projeto [BRT] já está atrasado há pelo menos seis anos. No governo anterior, em 2008, já se começava a falar em corredores exclusivos e BRT. A pauta também estava no programa de governo do então senador Renato Casagrande, quando foi prometido que em 2014 o sistema entraria em operação. E hoje, somos informados que as obras terão início em 2014, durante o período eleitoral”, provocou o professor. 
 
De acordo com o anúncio feito pelo Estado, o projeto, que vem junto com uma série de intervenções como túneis e pontes, será entregue em 2016. Nesta terça-feira (22) o governo iniciou o projeto licitatório e o executivo fica pronto até dezembro. 
 
Mais uma prova, segundo Simões, de que ao longo do governo não houve uma agilização e agora o projeto é colocado pelo governo no afogadilho para readquirir a popularidade perdida. 
 
“Temos problemas como a intervenção na Praça do Cauê e agora com o anúncio descabido da intervenção do Porto de Vitória, nos seus galpões. Isso envolve uma série de decisões e contraria tudo que vem sendo feito no mundo e no Brasil, como é o caso do Rio de Janeiro, onde estas áreas portuárias foram revitalizadas”, comparou.
 
Para Simões, o projeto ainda demanda muitas dúvidas quanto à adequação do BRT e seus corredores e a estrutura colonial da cidade de Vitória. Além disso ele afirma não acreditar que o projeto será entregue após dois anos do início de sua implantação.  
“Só com um debate realmente técnico e que discuta a combinação de modais, que não seja apenas o BRT, será possível ter clareza se a mobilidade irá de fato melhorar”. 
 
O professor recorda que o aquaviário naufragou porque a eleição de 1982 anunciou o projeto às pressas. “Compraram lanchas inadequadas para a Baía de Vitória. É sempre assim, sempre esse afogadilho de lançar em toda eleição um projeto às pressas para arrecadar votos, mas isso não significa resultado em mobilidade”, criticou. 
 
Simões lamentou assistir a repetição do que já foi visto no passado. Além do aquaviário é possível a população notar as falhas destes projetos feitos às pressas ao observar que em 2008 e 2009, também durante período eleitoral, foram anunciados a compra de ônibus com portas dos dois lados junto com o anúncio dos corredores de ônibus, entretanto, os mesmos se tornaram obsoletos e hoje circulam com uma cadeira travando uma das portas que deveria ser utilizada nas paradas dos corredores.
 
“O que vemos agora é uma tentativa do governo Casagrande de recuperar o terreno perdido na Grande Vitória. Tudo isso demonstra que mesmo que a mobilidade tenha sido um dos principais pontos das manifestações nas ruas, o debate necessário está completamente subordinado ao calendário eleitoral 2014”, completou. 
 
Conselho de Cultura
 
Assumidamente contra a intervenção prevista pelo projeto do Sistema BRT em três dos armazéns da Codesa, no Centro de Vitória, o Conselho Estadual de Cultura declarou durante reunião, no último dia 4, com representantes da Codesa, que nenhuma intervenção poderá ser feita nos galpões do Porto de Vitória até que seja finalizado o processo de tombamento dos armazéns, cobrados pelo conselho há mais de dez anos. 
 
Na ocasião, tanto Codesa quanto governo do Estado classificaram o projeto como um “embrião” e garantiram que a proposta ainda seria discutida com a população. Entretanto, no mesmo dia em que foi realizada a audiência pública para discutir o Sistema BRT com a sociedade, o governo do Estado anunciou o início do processo de licitação do projeto e a finalização do projeto executivo até dezembro deste ano. 
 
Segundo o conselheiro Marco Ortiz, o conselho é veementemente contrário à posição autoritária do Estado em impor o projeto mesmo sem o consenso da população. “Não adianta autorizar sem aval do Conselho Estadual de Cultura porque essa intervenção será embargada. O conselho pode fazer isso e é isso que vai acontecer se continuar essa proposta sem cabimento. Temos que valorizar o patrimônio cultural e não pensar somente em logística, desenvolvimento e lucro”, ressaltou. 
 
De acordo com Ortiz, a precipitação do Estado em apresentar o projeto como oficial, o que foi ecoado também na imprensa local, será pauta da próxima reunião do colegiado no início de novembro.

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