O crescimento no número de mortes no trânsito no Estado, que em dez anos subiu 21,4%, é, segundo o delegado de Delitos do Trânsito, Fabiano Contarato, uma consequência da falta de políticas públicas, que efetivamente minimizem a impunidade no trânsito capixaba. O delegado analisou os dados do Mapa da Violência 2013 – Acidentes de Trânsito e Motocicletas, publicado nesta quinta-feira (21).
“Aqui o motorista é imprudente. Mas o que leva ele a ser assim? Ora, a certeza de não esbarrar em nenhuma blitz. Aqui, eles saem sabendo da baixa probabilidade de uma blitz estar ocorrendo”, ressaltou o delegado.
Para Contarato, que afirmou não se surpreender com sexta colocação do Estado no ranking nacional de mortes geradas por acidentes no trânsito, os índices seguem um padrão: “Somos o primeiro em morte de negros, em abuso sexual. Nada me surpreenderia se o Estado fosse o primeiro em mortes no trânsito também”.
No Estado, enfatizou o delegado, há uma falha na educação do cidadão. De acordo com ele, conforme é previsto pelo Código de Trânsito, o Estado deveria garantir a educação no trânsito nas escolas, o que não ocorre. “É preciso que exista uma matéria e não uma semana comemorativa de educação no trânsito”.
Para o delegado, além dos dois fatores citados por ele, o brasileiro, em geral, conta com a negligência do Congresso Nacional “que legisla em causa própria e não quer ver os jovens das classes A presos”. Dos 11 crimes previstos no Código de Trânsito, explicou Contarato, o mais grave é a morte, porém, geralmente, a pena acaba sendo substituída por cestas básicas, condenando a família da vítima pela segunda vez. “A primeira com a morte do parente, e a segunda com a impunidade”.
Violência no asfalto
De acordo com o Mapa da Violência 2013 – Acidentes de Trânsito e Motocicletas, o Espírito Santo tem um dos trânsitos mais letais do País. “Em 2001 era o quinto mais violento, agora é o sexto, ou seja, pouco mudou em dez anos. Isso não tem necessariamente uma relação com o histórico violento do Estado em outros aspectos. Mas ambos os problemas estão ligados à cultura da violência de não respeitar regras”, avaliou o professor Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do estudo.
O professor levanta ainda uma questão importante. Para Waiselfisz, o crescimento do número de acidentes no País, se deve também ao grande número de motos nas ruas. “Ao invés do poder público investir em transporte público, incentivou a compra de motos de baixo custo que representam baixa manutenção, grande capacidade de mobilidade e fomentou a profissão hoje chamada de motoboy. Assim o governo deixou de lado o seu próprio papel de investir em mobilidade. No começo, a moto foi convertida ao carro do pobre”, advertiu o professor.
Segundo o Mapa da Violência, o Espírito Santo ocupa a nona posição em óbitos envolvendo acidentes com motocicletas, com taxa de 11,8 mortes por 100 mil habitantes.
Paralelamente a isso, argumentou Waiselfisz, enquanto as políticas públicas falham, vai se consolidando no País a tendência inversa: a de responsabilizar o acidentado. O acidente, portanto, pode ter sido causado por uma dezena de motivos: álcool, imprudência, desrespeito às regras, etc. Porém, dificilmente o Estado assume a sua meia culpa sobre o problema.