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Aonde vão os políticos capixabas?

A compulsão pela política de “todos com todos”, tradição oligárquica que resultou na unanimidade (bonapartista?) da Era Hartung, paira outra vez no ar da política capixaba neste final de 2013 e limiar de 2014. As nossas elites políticas concluem 2013 ora tateando o alambrado e o meio fio, ora emitindo sinais trocados, ora ventilando a hipótese de perfilar numa nova Arca de Noé, agora em torno do governador Renato Casagrande. E acabam concordando tacitamente em jogar para depois do carnaval as definições de quem sai para que e com quem.
 
Ironicamente, esta indefinição, que vem do (mal ?)costume político de correr léguas do contraditório, acaba por ser perigosa para o futuro político próximo de todos. No momento, ela só interessa ao governador Renato Casagrande (PSB), que surfa no seu “recall”, amplia a ênfase na comunicação dos feitos e efeitos do seu governo, e conquista a quinta melhor avaliação na pesquisa IBOPE entre todos os governadores brasileiros. Ao conquistar esta avaliação, amplia as expectativas de poder em torno dele e atrai, por sedução ou gravidade, novos apoios para a sua candidatura. Gol de placa para ele, no retrato do momento.
 
Enquanto isso, o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) emite sinais trocados na mídia regional e confabula em São Paulo e em Brasília com Lula, com Michel Temer e outras lideranças do PMDB e do PT. Ao permanecer indefinido quanto à escolha por uma candidatura ao governo ou ao senado, Hartung tolhe e contém, voluntária ou involuntariamente, os movimentos do senador Ricardo Ferraço (PMDB) para a evolução da sua ( Ricardo) pré-candidatura ao governo. Ao mesmo tempo, a indefinição de Hartung estimula a ocupação do vácuo nas candidaturas ao senado, emulando o crescimento da pré-candidatura do delegado Fabiano Contarato (PR) e criando expectativas em eventuais pré-candidaturas ao senado de Rose de Freitas (PMDB) e João Coser (PT).
 
Tudo somado, isto significa que o PMDB não saiu do lugar e estacionou no terreno das hipóteses, criando no mínimo um clima de insegurança nos seus candidatos às eleições proporcionais e perdendo terreno precioso para ganhar capital simbólico, capital social e capital político num processo político que antecipou inexoravelmente a sucessão estadual e a sucessão presidencial. Antecipada a sucessão, a noção de “timing” é preciosa. E o PMDB do Espírito Santo, ao que tudo indica, está perdendo esta noção de “timing”. O governador Renato Casagrande agradece…Vai nadando de braçada.
 
Ao mesmo tempo, o senador Magno Malta (PR), sempre tão direto e objetivo em suas escolhas e preferências, desta vez roda o toco e desconversa. Passada a fase de colocar-se como eventual candidato à presidência da República, ele agora movimenta-se em zig-zag e deixa evoluir a versão de que poderá aliar-se ao governador Renato Casagrande e até deixar de dar palanque regional para a presidente Dilma (PT). Com isso, Magno também cria insegurança nas candidaturas proporcionais do seu PR e dá a sua contribuição para deixar o governador Casagrande sozinho na pista da corrida sucessória.
 
O que nos remete ao governador: este, sim, teve noção correta de “timing” e lançou e assumiu a sua candidatura à reeleição no momento correto, deixando em aberto as portas para quem quiser embarcar com ele na corrida, principalmente o PT, o PMDB e o próprio PR, além, é claro, do conjunto de partidos relevantes que já se posicionaram com ele e não têm candidaturas próprias à governadoria (PP, por exemplo). Chamou todo mundo. E, literalmente, paralisou os eventuais adversários.
 
Além disso, Renato joga o jogo nacional da “neutralidade”, que ele pode estender até junho de 2014. E vai cozinhando o galo e avançando na ampliação do seu “recall” e na sedução de apoios municipais relevantes. Retocando aos poucos a imagem de lentidão e de sem-marca- própria, ele amplia e massifica a comunicação de governo e vai convencendo os prefeitos que é melhor continuar com ele, ao mesmo tempo em que mostra sutilmente ao eleitorado algo do tipo: “é melhor continuar com este governador correto do ponto de vista da idoneidade com cara de bom moço e com preocupação em cuidar do interior do estado”…. Com dinheiro no cofre para investir mais em 2014 (vejam que a arrecadação estadual cresceu, a despeito do chororô pós-Fundap), Casagrande segue em frente. Se ele conseguir penetrar bem na faixa jovem, via redes sociais, vai ficando muito forte. Está sozinho na arena. Vai ganhar de W.O.?
 
Tudo somado, esta sedução pela unanimidade que parece assolar outra vez as lideranças políticas capixabas poderá levar, na verdade, à desidratação de lideranças regionais já consolidadas, incluindo aí a liderança do próprio ex-governador Paulo Hartung, ao mesmo tempo em que poderá interromper a ascensão de novas lideranças políticas no tabuleiro político. Afinal, se todo mundo preferir continuar sob a proteção da Arca de Noé, quem vai emergir lá na frente como liderança alternativa? O que nos remete a uma espécie de axioma: a unanimidade, hoje, no Espírito Santo, é portadora do efeito perverso, no sentido sociológico, de fazer definhar e desidratar todos que se “protegem” em torno dela.
 
E assim vamos chegando a 2014. Cadê o tão propalado tirocínio de Paulo Hartung? Cadê a tão propalada coragem política de Magno Malta?
 
Boas Festas !

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