Na cultura e nas artes, a África está entre nós, como mostram dois artigos publicados em A Gazeta, um no sábado (21) e outro nesta segunda-feira (23). Primeiro, o historiador Maciel de Aguiar explicitou a influência da arte africana sobre as mais vsofisticadas expressões das artes visuais modernas (Picasso, Modigliani, Matisse). Depois, o teólogo Leonardo Boff celebra o continente como berço primordial do ser humano.
Pelo artigos, podemos ver, mais uma vez, uma certa visão roceira que vem submetendo o Museu ÁfricaBrasil, sediado em São Mateus, do qual Maciel é curador, a dificuldades para se manter.
O museu reúne um acervo de 4.800 máscaras e esculturas produzidas pelos povos africanos durante os séculos XVIII, XIX e XX, afora documentos, fotos, quadros, objetos da escravidão e instrumentos de suplício utilizados pelos sistema escravocrata. É um cabedal histórico-cultural fundamental para a compreensão da História da África e, sobretudo, do Brasil.
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“A África, além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece como o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de todo o ser humano”, escreve Boff, que, antes, alertou que a África “é o continente mais esquecido e vandalizado das políticas mundiais”. Não à toa, lembra Maciel, no início do século XX a visão eurocêntrica, colonizadora, via na África “um ‘continente de bárbaros’, sem alma, sem capacidade criativa”.
Como seu patrimônio constitui-se de objetos da manifestação artística africana, o ÁfricaBrasil vem revivendo de igual maneira as conseqüências de uma visão elitista de arte. A luta pela sobrevivência do museu não se dá de agora; vem desde sua inauguração, em fevereiro de 2012.
Estudioso da questão negra no Espírito Santo, Maciel conhece essa indiferença: o mundo acadêmico reunido na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) marginalizou os estudos de Maciel, de forma semelhante que fez com os estudos biológicos de Augusto Ruschi décadas atrás.