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Obituário Marien Calixte (1935 – 2013)

Foi-se, nesta quarta-feira (25), um dos principais inovadores do jornalismo capixaba. Quem fez a passagem do jornalismo amador para o profissional. Pois os jornais, na época (anos 60), tinham propósitos meramente políticos em torno da disputa ao governo. Com esses propósitos inovadores, ele andou de um lado ao outro. Esteve à frente de O Diário, de A Tribuna e de A Gazeta. Numa época em que os jornais eram meras trincheira de poder. Trocavam acusações em lugar de noticiar o que ocorria. 
 
Por esse tempo de chumbo trocado na imprensa partidária, Marien foi realizando a mudança com habilidade em busca de um jornalismo comprometido com o factual do Estado. Embora tenha começado pela A Tribuna, foi em O Diário que ele iniciou essa empreitada, que não era simples, como pudesse aparentar. Exigia quadros adequados de jornalistas.  Marien criou em O Diário um laboratório para levar sua proposta a bom termo. 
 
Um laboratório que foi além da sua passagem pelo O Diário, pois continuou a existir com os que sucederam Marien Calixte. Foram produtos desse laboratório Jorge Luiz de Souza, Miriam Leitão, José Casado, Paulo Torre, Rubinho Gomes, Maura Fraga, Amylton de Almeida, Marcelo Netto, Erildo dos Anjos, Tinoco dos Anjos, Adriano de Souza, Mariangela Pelerano, Geraldo de Paula, Paulo Bonates, Renato Dias Ribeiro, Ewerton Montenegro Guimarães, Ronald Mansur, Antonio Carlos Mendes Americano, José Barreto de Mendonça, Paulo Zimmer, Pedro Maia e Paulo Maia, Rosental Calmon Alves, Paulo Makoto, Carlito Medeiros, Josemar Secreta e o irmão Secretinha, ambos fotógrafos. 
 
A mudança operada em O Diário o levou ao jornal A Gazeta. Ele foi com o mesmo espírito de reeducar os donos no sentido da prática de um jornalismo comprometido com a notícia. Não encontrou a mesma facilidade que havia encontrado em O Diário. O jornal sofria assédio constante das lideranças de origem do velho PSD e sua relação longa com o poder (que permanece até os dias atuais). Uma ditadura militar havia também se instalado no País, com a sua aversão à liberdade de imprensa, contribuindo em muito para a saída dele de A Gazeta.
 
O grau de importância desse laboratório, criado para fornecer jornalistas às mudanças que propunha para o jornalismo capixaba, foi muito além das fronteiras do Estado. Correndo os seus nomes da lista é possível visualizar Miriam Leitão e José Casado brilhando hoje em O Globo. Rosental Calmon Alves enveredou-se pelo campo acadêmico internacional, transformando-se num dos grandes teóricos jornalismo com o advento da internet.  
 
A vida de Marien não se limitou ao jornalismo, ele foi também um dos melhores intelectuais de sua geração (Marien Calixte, o filho do jardineiro). Autor das biografias do deputado estadual Edson Machado, do músico Maurício de Oliveira e do ex-governador Florentino Avidos, e de livros de poesia que foram publicados na França e na Itália. Era um dos mais entendidos em jazz, a ponto de ter mantido um programa por mais de 50 anos em rádios do Espírito Santo.
 
Ele ainda teve uma breve passagem pela administração pública. Foi secretário de Turismo de Vitória, na administração de Setembrino Pelissari. Na época, criou um slogan para a cidade que gerou polêmica, por sua ousadia: “Viver é Ver Vitória”, mas que teve longa existência em outras administrações. 
 
Marien sofria de Mal de Parkison e com o agravamento da doença ficou internado no Cias Unimed por quatro meses, vindo a falecer na madrugada desta quarta, por falência múltipla dos órgãos. Ele tinha 78 anos e deixa viúva a jornalista Therezinha Calixte, os filhos Daniele e Luiz Henrique, e netos. 
 
 
  

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