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Restaurante Sol da Terra inicia novo ciclo na Enseada do Suá, em Vitória

Texto: Henrique Alves
Fotos: Gustavo Louzada
 
Foi apenas um susto a amnésia que acometeu Marco Ortiz. A família reunira-se durante o Natal na propriedade do irmão Eduardo Brother, em Vargem Alta. Surgiu a ideia de uma partida de futebol, levada adiante mesmo com a chuva, que, como sabemos, desabava sobre boa parte do Espírito Santo. Marco só se lembra de uma bola vindo em sua direção; do tombo, nada. Foram 40 minutos de um branco insondável.    

Amnésias à parte, a celebração em família foi uma benfazeja pausa de dois dias na lida ininterrupta que há três meses consome Marco Ortiz para reerguer o restaurante natural Sol da Terra no Hortomercado, na Enseada do Suá, em Vitória, que começa a funcionar para almoço e janta a partir desta sexta-feira (10). O Sol da Terra do Centro de Vitória sumiu após um deslizamento de terra em 19 de março de 2013.

 

Marco Ortiz está bem. Um pouco agitado, um tanto inquieto, talvez ansioso, certamente cansado. Teve até que adiar para março o retorno de seu Auto do Frei Pedro Palácios, que há anos não ganha encenação e cuja reestreia estava marcada para janeiro. “Não tive pique”, confessa, todo vestido de branco. Mas está bem.  

 
Parece feliz também, sentimento que talvez se explique pela iminência do retorno de uma de suas maiores realizações, nascida em 1979, em Vila Velha: o projeto gastronômico que ultrapassa a mera reposição de energias e que se firmou também como espaço cultural na Rua Barão de Monjardim. 
 
Não falemos em renascimento do Sol da Terra; a ideia pressupõe morte e o restaurante está vivíssimo. Aquele projeto encravado no Parque da Gruta da Onça, com cuja mata tão bem se harmonizava, apenas completou seu ciclo. Marco não liga por trocar um espaço que cresceu organicamente por um quadrado pré-fabricado. Evoca a máxima de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, tudo se transforma”. 
 
Na Enseada ou no Centro, o conceito é o mesmo. O que muda é o momento. Exemplo: o reaproveitamento de materiais, princípio-chave do Sol da Terra. O novo espaço vai receber inúmeros móveis e objetos salvos no deslizamento: um balcão, as luminárias, vitrais, a pesada saladeira, entre outros. 
 
Não era à toa que Marco, do alto do apartamento em que ficou hospedado por alguns meses após a tragédia, localizado em frente ao restaurante, vigiava o trabalho se remoção dos escombros. Na calçada, sob a janela lilás de seu consultório, ele ia depositando os materiais que julgava ainda em bom estado, já pensando numa futura reutilização.
 
              

Com projeto das arquitetas Lívia Boles e Jacqueline Moraes, que desde sempre se puseram à disposição do médico naturalista, o espaço no Hortomercado preserva o conceito rústico da arquitetura do Sol da Terra. “Quando apresentamos o projeto, foi uma choradeira total”, entrega Lívia.

 
Cores icônicas no antigo endereço, o verde-água tinge as paredes e um lilás um grande balcão de madeira. Arandelas feitas de bambu e tecido de estopa colocadas na parede ainda pela manhã. Pedaços de bambu cobrem todo o teto, entre grandes estacas de madeira do próprio imóvel.
 
Os bambus, aliás, vieram da propriedade de Eduardo, com quem, na aurora do Sol da Terra em Vitória, Marco saía pela rua à cata de material para compor o restaurante. Repetiu-se com os bambus o capricho artesanal que caracteriza o restaurante: vieram inteiriços e, um a um, foram devidamente cortados. 
 
Nos bambus também se revela o zelo de Marco: fez questão de envolver as extremidades dos bambus com uma cordinha só para esconder os parafusos que os prendem ao teto.  
 
A apresentação do novo endereço do Sol da Terra aconteceu na hora do almoço dessa terça-feira (7) no Hortomercado. Marco, que emagreceu quase 20 quilos nos últimos seis meses, exaltou, como todas às vezes em que teve chance de fazê-lo, a comovente mobilização solidária em torno de sua família (em palavras, gestos, doações ou na série de cinco eventos culturais do Solidariedade da Terra, que arrecadou fundos para o restaurante).
 
Destacou também a dificuldade de se adequar ao restritivo horário do Hortomercado para a realização de obras. “Ia dormir cansado, mas acordava com disposição para trabalhar”, define. Destacou ainda a ajuda de políticos como Brice Bragato, Perly Cipriano, o prefeito de Vitória Luciano Rezende, o governador Renato Casagrande e o secretário estadual de Agricultura Ênio Bergoli.
 

Foi a intervenção de Casagrande e Bergoli junto à empresa administradora do Hortomercado – um imóvel do governo estadual administrado pela Secretaria de Agricultura – que o restaurante obteve uma isenção de aluguel de seis meses. Houve o entendimento de que o Sol da Terra agregaria valor ao conjunto de serviços do Hortomercado.

 
“Vai funcionar de segunda a segunda. O mais louco é que a gente que está fazendo as coisas”, diz Marco, que minutos atrás estava preocupado com o almoço do eletricista. O que se via, ainda no início da tarde dessa terça-feira (7), eram seus irmãos, filhos e funcionários andando pra lá e pra cá, imersos nos últimos ajustes para o evento que marca o início do novo ciclo do Sol da Terra, na noite desta quinta-feira (9). Boa sorte.
 
Serviço
O Restaurante Sol da Terra começa a funcionar para almoço e janta a partir desta sexta-feira (10), das 11h às 15h e das 17h às 22h, no Hortomercado. Rua Licínio dos Santos Conte, 51, Enseada do Suá, Vitória. O almoço será no esquema self-service, a R$ 36/Kg. O segundo horário será reservado para o chá das 17h e a janta (a la carte).

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