Há 15 anos, a bacharel em Direito Mafalda de Araújo (acima) gastava cerca de 10 minutos para sair de Jardim Camburi, ou seja, ganhar a Avenida Dante Michelini, e seguir em direção ao trabalho, na Praia do Canto. Já hoje, muitos anos, prédios e carros depois, não há um tempo específico. Depende do humor do trânsito. “Pode variar de 30 minutos a uma hora e meia”, conta.
Moradora de Jardim Camburi há 18 anos, Mafalda foi uma das 30 pessoas que participaram da audiência pública realizada nessa quinta-feira (13), na EMEF Elzira Vivacqua, para debater a revisão do Plano Diretor Urbano (PDU) do bairro e, mais especificamente, a limitação da altura de novos empreendimentos em até oito andares, a oferta de mais vagas de estacionamento nos novos prédios e a reserva de zonas do bairro para construção de empreendimentos comerciais.
Formaram a mesa os vereadores Davi Esmael (PSB), presidente da Comissão de Políticas Urbanas da Câmara, Fabrício Gandini (PPS), presidente da Casa e o secretário da Associação de Moradores de Jardim Camburi (ACJAC), Evandro Figueiredo.
O principal ponto de discussão foi a restrição de altura para novos prédios em até oito andares. O boom imobiliário que Jardim Camburi experimentou nos últimos 10 anos refletiu negativamente na mobilidade urbana da região. Os moradores se mostraram receosos com os efeitos da enorme e vertical expansão do bairro.
“A gente já passou do ponto. O que queremos como cidadãos? Em 18 anos, nunca vi um crescimento tão desordenado”, criticou Mafalda, quando o microfone foi aberto aos moradores.
Evandro lembrou o último censo do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), segundo o qual há 2.457 unidades em construção no bairro. “Quando essas unidades estiverem prontas, vamos ter pelo menos mais 10 mil moradores em Jardim Camburi, partindo do princípio de quatro moradores por unidade”, ponderou Evandro. Hoje Jardim Camburi tem 43 mil habitantes. É o bairro mais populoso do Espírito Santo.
A reivindicação dos moradores é limitar a altura dos novos empreendimentos em todas as zonas de Jardim Camburi, mais especialmente na Zona de Ocupação Controlada 1 (ZOC-1), que hoje permite a construção de espigões em até 20 andares.
É, ali, aliás, que se ergue um prédio que foi apresentado como exemplo de impactos negativos vindouros, inclusive pelo chefe da Câmara Municipal: um projeto da Galwan de 18 andares, 396 apartamentos e 1.254 vagas de garagem. Comentários de alerta também recaíram sobre dois outros espigões: um da Lorenge e outro do Inocoop-ES. “Se quisermos mudar a realidade, temos que mudar a legislação”, disse Evandro.
Os moradores destacaram, ainda, que desejam a manutenção dos padrões de afastamento estabelecidos na revisão de 2006 do PDU.
O secretário da ACJAC também rebateu o argumento de que a restrição significaria desvalorização. A demanda por moradia no bairro se manterá, já que Vitória é o coração econômico do estado. Ou seja, haverá valorização imobiliária. “Não caiam nesse conto que o Sinduscon às vezes conta para a gente. É o contrário”, disse.
Também foi apresentada a proposta de que prédios acima de 50 metros quadrados venham com duas vagas de garagem, visto o perfil socioeconômico dos moradores de Jardim Camburi, caracterizado por expressivo poder aquisitivo. A proposta viria para corrigir o número alto de carros estacionados nas ruas, em função das vagas insuficientes nos prédios.
O Plano Diretor Urbano (PDU) de Vitória será revisto ano que vem, mas os debates se iniciam já em 2014. Esmael adiantou que reuniões semelhantes serão realizadas ao longo do ano, em cada Região Administrativa da capital. “Asseguramos à população que o interesse coletivo irá prevalecer”, prometeu o vereador.
Para Mafalda, a explosão imobiliária de Jardim Camburi é assustadora. “Estou pensando daqui a 10 anos, quando todos esses empreendimentos forem entregues, a quantidade de veículos no nosso bairro”, diz.
Outras sugestões dos moradores apresentadas na audiência
– Abertura das entradas para o bairro pela Avenida Norte-Sul
– Segunda unidade de saúde ou ampliação da existente
– Reserva da primeira quadra da Rua Munir Hilal para construção de praça pública
– Atenção à circulação de ciclistas na Norte-Sul
– Vagas de estacionamento para visitantes em novos prédios