O Dia Mundial do Meio Ambiente foi comemorado nessa quinta-feira (5) e, como de praxe, as empresas de “sustentabilidade de fachada” deram sua contribuição para lembrar a data, escondendo seus graves crimes e danos ambientais e sociais no Espírito Santo. Assim como ocorre em todos os anos, o método publicitário conhecido como Greenwashing (em português: “lavagem verde”) foi amplamente utilizado nas propagandas da Samarco e da Vale, que respondem por uma série de impactos e pelo desrespeito aos territórios e povos tradicionais em todo o mundo.
A Samarco publicou, nessa quinta, um anúncio na mídia corporativa, na qual diz que implantou “melhorias” em seu processo produtivo, investiu em “diálogo com a comunidade” e, ainda, que trabalha “em busca de soluções sustentáveis”. Mas, apesar da tentativa de passar uma imagem de empresa preocupada com o meio ambiente, é responsável pelo aumento da poluição atmosférica em Anchieta, no litoral sul do Estado, e pela poluição do ar e das praias. Além disso, capta à exaustão a água da bacia do Rio Benevente para ser usada em seu processo produtivo e contaminou, por mais de uma vez, a lagoa de Mãe-Bá.
Em abril, a Samarco Mineração inaugurou sua Quarta Usina, localizada em Ubu, Anchieta, com presença em peso da classe política capixaba. Este é mais um empreendimento que consolida o sistema de favorecimento às transnacionais poluidoras do Estado. Apesar do passivo de suas usinas e da reincidência em crimes ambientais, a empresa não enfrentou qualquer problema para receber a autorização do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). Assim como seu antecessor, o governador Renato Casagrande manifestou reiteradas vezes seu apoio ao projeto de expansão da mineradora, ignorando o histórico de crimes ambientais que envolvem a empresa no sul do Estado.
Já a Vale distribuiu panfleto à população, em que diz querer “compartilhar a importância da preservação” e que a mineradora “trabalha diariamente para que o cuidado com a natureza e a sustentabilidade façam parte do nosso cotidiano”. Junto ao material, um cartão que podia ser plantado, dando origem a uma muda. A mineradora, que é responsável pela poluição do pó preto na Grande Vitória, também publicou em sua página no Facebook uma imagem na qual diz que protege a Floresta Nacional de Carajás e que apenas 3% de sua extensão é “ocupada” pelas operações da mineradora.
Dentro da floresta, localizada no estado do Pará, está uma mina de minério explorada pela Vale. A informação divulgada na publicidade entra em contradição com o que já foi publicado pela Agência Pública, que tratava justamente dos danos da atividade da Vale na floresta. De acordo com a reportagem, um quarto da unidade, o equivalente a 104 mil hectares, é zona de mineração. O valor inclui os 5% da área total preservada referentes à área de canga. Ainda é registrado que a Vale foi autuada nove vezes pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), somente entre os anos de 2005 e 2009, por ter cometido infrações ambientais dentro da área que deveria ajudar a proteger.
No Espírito Santo, além de ser responsável pela poluição do pó preto, a Vale explora terras indígenas no município de Aracruz (norte do Estado) há 30 anos para a passagem de sua estrada de ferro. A Vale, junto à ArcelorMittal, também é responsável pela transferência do superporto para a região da Ponta da Fruta, em Vila Velha. O empreendimento seria, inicialmente, construído em Praia Mole, na Serra, mas as empresas, a Gerdau e a Usiminas declararam em um documento anexado ao estudo da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) que, se tal empreendimento fosse instalado na região, haveria um desalinhamento com planejamento elaborado pela ONG Espírito Santo Em Ação, que representa os interesses do empresariado no Estado.
No início de 2013, o ex-gerente da Vale, André Almeida, apresentou dossiês que revelam monitoramento de lideranças de movimentos sociais em diversos estados, inclusive no Espírito Santo. O documento também aponta acesso da mineradora às informações do Infoseg e da Receita Federal; infiltração de espiões em reuniões e encontros de entidades que representam obstáculos aos interesses da mineradora; e lobby para obtenção de licenças ambientais. Apesar da gravidade das denúncias, o caso até hoje não foi devidamente apurado.
As campanhas milionárias das poluidoras em datas que fazem alusão ao meio ambiente são denunciadas há anos por entidades ambientalistas. Em 2012, a Justiça nos Trilhos apresentou o “Relatório de Insustentabilidade”, paralelo ao publicado anualmente pela Vale, “Relatório de Sustentabilidade”. No documento, que mostra a realidade das comunidades impactadas pelos empreendimentos da mineradora, a entidade ressalta que a Vale “se pinta de verde e amarelo e imprime uma imagem de responsabilidade socioambiental e de compromisso com o 'desenvolvimento sustentável' do país”.
O relatório questiona, critica e denuncia os recorrentes e “insustentáveis” impactos ambientais e sociais causados pela mineradora Vale, além de lembrar do título de pior empresa do mundo atribuído à empresa, o “Prêmio Nobel” da vergonha corporativa, o Public Eye Awards, em função dos problemas ambientais, sociais e trabalhistas.