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Hipocrisia religiosa

A hipocrisia religiosa, que sempre tenta tomar de assalto a Câmara de Vitória, atacou desta vez a distribuição da cartilha voltada a professores da rede municipal, explicando a diversidade sexual, e que visa coibir o bullying na sala de aula, mas foi repudiada pela verdadeira democracia. Mais uma vez o autor da investida homofóbica foi o vereador Davi Esmael (PSB). Isso pede uma reflexão, vamos a ela.
 
Segundo sérios estudos do professor Richard Ryan, psicólogo e psiquiatra, com doutorado em educação da Universidade de Rochester, na Califórnia, Estados Unidos, a homofobia é a obsessão em perseguir homossexuais, revela uma homossexualidade reprimida. Esses impulsos foram medidos por pesquisadores que analisaram as diferenças entre o que dizem ser a sua orientação sexual hétero, com reações a estímulos homossexuais.
 
Os mais homofóbicos demonstraram uma homossexualidade implícita, e uma revolta furiosa a isso. Uma clara demonstração de que, na maioria dos casos, há uma necessidade de suprimir a verdadeira sexualidade, através do preconceito e da violência, e o melhor disfarce para isso é a religião.
 
Outros fatores influenciam a sublimação da sexualidade através da manifestação homofóbica, no caso dos gays, é o autoritarismo paterno. Pais opressores frustram a livre manifestação sexual dos filhos, e criam traumas que reverberam nas atitudes sociais. Tentando negar a si mesmos, ao mesmo tempo em que tentam mostrar aos pais que não são gays, filhos desenvolvem uma personalidade doente e formada em cima de recalques e insatisfações.
 
A pesquisa apontou o perigo de se autoflagelar sexualmente, mas percebeu a dificuldade que um homossexual tem em se manifestar numa sociedade hétero normativa. Sem o apoio familiar, e ainda por cima a imposição de uma sexualidade diversa da sua, conduz a um desrespeito incontido na promoção da hostilidade e da repressão.
 
Ora, esse estudo pode ser a explicação para o que vem acontecendo repetidamente na Casa Legislativa de Vitória. Com a cortina religiosa, o já citado vereador procura sempre confrontar tudo que se refere ao apoio da cidadania LGBT, o que pode ser manifestação de insegurança quanto à sua própria orientação sexual. Com a palavra Richard Ryan: “Algumas vezes, as pessoas são hostis com os gays e lésbicas porque têm medo dos próprios impulsos e podem não aceitar os outros porque não conseguem aceitar a si mesmos”.
 
Estudos como esse não são novidade no meio científico. Pouco mais de 15 anos atrás, na Universidade de Georgia, também nos Estados Unidos, pesquisadores chegaram às mesmas conclusões, apontando como a principal causa da homofobia a autonegação homossexual. Indivíduos bem resolvidos com a sua sexualidade tendem a respeitar e a defender a diversidade sexual. Também experimentos na Universidade de Essex, na Inglaterra, reforçam tais afirmações.
 
Vale acrescentar a essa reflexão o fator fundamentalista religioso, que parece ser o grande argumento dessa atitude preconceituosa e segregacionista. Assim como a problemática familiar – pais opressores-, as igrejas fundamentalistas também tendem a reprimir a natural orientação sexual de seus membros. Conflitos internos que externados buscam o apoio na violenta negação de si mesmos.
 
Para Davi Esmael, que tem a sua base eleitoral nesse segmento evangélico, é importante se mostrar heterossexual. Isso, novamente, justifica uma homofobia exacerba. Tentando eliminar qualquer dúvida que possa surgir com relação à sua orientação sexual, se coloca como um defensor do que considera “família tradicional”, o conservadorismo aplaudido em tais altares.
 
Tanto o fator familiar quanto o fundamentalista religioso corroboram com os resultados dos estudos científicos já apresentados, e apontam novamente o caso do medo de ser revelado com o não aceito, e ser excluído, banido e desligado do convívio com seus pares. Por isso nega a si próprio e projeta a sua revolta em quem se mostra sem disfarces, e fragilizado estudo exposto ao estigma e a segregação.
 
Talvez isso explique a atitude do vereador fundamentalista com relação a tudo que vise o apoio aos direitos civis dos LGBTs, e na luta contra o bullying escolar. Vamos esperar pra ver… Mas se você observar bem… Os fatos estão aí.
 

Luiz Felipe Rocha da Palma (Phil Palma) é publicitário. Nas “horas vagas” (às quartas) comanda o programa “Praia do Phil” pela Rádio Universitária FM, onde defende os LGBTs e denuncia a homofobia. Fale com o autor: [email protected]

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