Rogério Medeiros e Renata Oliveira
A poucos dias do fim do prazo para as convenções partidárias, o governador Renato Casagrande tem conseguido manter seu leque de apoios, mas precisa conter a voracidade do próprio PSB por espaços políticos. Papo de Repórter analisa as movimentações no palanque do governador.
Renata – Na semana passada, o Papo de Repórter não avançou até a posição de Renato Casagrande por falta de espaço. Então, acho que devemos começar o Papo desta semana discutindo um pouco das movimentações do palanque palaciano, afinal a candidatura realmente irremovível, é a dele. Então, como se consolida esse palanque de Casagrande e com quem?
Rogério – Esse palanque está se consolidando, ele já anda lá na frente, destinando outro tratamento à classe política, sobretudo em relação aos seus aliados. Casagrande teve facilidade de amarrar apoios com os partidos porque os temores que se têm ainda com Hartung estão vivos aí por quem foi chicoteado por ele por oito anos, e a relação agora é outra…
Renata – Eu gosto de dizer que a relação mudou no sentido de que com Hartung ela era vertical. Ele decidia e a classe política acatava, com Renato Casagrande essa relação ganha uma dimensão horizontal…
Rogério – Com Casagrande é diferente, as pessoas têm queixas, têm uma conversa mais forte sem repressão. Isso faz, a meu ver, com que ele angarie mais apoios que seu antecessor, mas pela pressão que Hartung fazia do que pelos méritos do governador. Em outras palavras, com Hartung não tinha democracia e com Casagrande tem. Isso não quer dizer que Casagrande vá ganhar a eleição. Isso porque, salta aos olhos que Casagrande assiste ao Paulo armando para cima dele, usando inclusive, um erro crasso do Renato, que passou toda sua gestão dizendo que fez a continuidade. E aí ele vai para o interior e deixa transparecer que o seu sucessor foi pior que ele. O que quero em síntese dizer é que Renato se fortalece, mas em função do receio que a classe política tem de Hartung.
Renata – É interessante notar que essa desconstrução que o Paulo faz do Renato, acontece mais no interior. Olha só, em 2013, é que o governo começou a construir a sua marca e que marca foi essa? A de ser um governador do interior, já que ele vem de Castelo e passou a trabalhar mais no interior tentando consolidar essa imagem.
Rogério – Mas na hora que você vai para o interior, e eu tenho um acompanhamento diário do interior, sabemos que os prefeitos estão mal das pernas porque receberam as prefeituras de seus antecessores em miserabilidade. Seus adversários, que podemos tratar como oposição aos prefeitos, é que estão em melhores condições eleitorais, porque não passaram pelas dificuldades que estão os atuais. Esse povo é que está indo para o palanque de Paulo. Na quarta-feira passada (18), na sessão da Assembleia, teve uma passagem interessante, o deputado do PMDB, partido do Hartung, o José Esmeraldo, disse com todas as letras que o Estado está cheio de obras, que você não vai a um lugar no Estado que não tenha obra do governo, o que confirma sua alegação de que Casagrande é homem do interior. Pode ser que isso não apareça agora, mas vai aparecer, e o deputado também não é bobo e tenta pegar carona nas obras do governo.
Renata – Mas Casagrande também tem um problema em seu palanque, que não passa necessariamente por esse embate, que é a acomodação de tanta gente em seu palanque. Você tem uma discussão sobre quem vai ser o senador, quem vai ser o vice, quantas pernas de proporcional a deputado federal e a deputado estadual. Quer dizer, ele precisa acomodar seus aliados.
Rogério – Ele está fazendo isso bem. O problema do Renato não são os aliados, o problema do Renato se chama Partido Socialista Brasileiro. A grande maioria quer se eleger às custas do governo, atrapalha as coligações e tão interessante, que volta e meia aparece o secretário-geral, que quando vem à imprensa falar não ajuda em nada na costura das coligações. É um exemplo claro de calouros da vida política e agem como se fosse agentes políticos da maior importância, como uma forma de reafirmação, mas acabam criando problemas. E o partido quando reúne, trás problema. Esse é um dos que eu vejo trazendo problema e as reuniões do PSB é um festival de situações adversas. Se a Valésia Perozini não estivesse na reunião da Executiva, a situação era para ser pior. Onde ele não deveria ter problema…
Renata – Essa questão da dificuldade interna do Casagrande vem do que é o PSB na história política recente do Estado. É um partido pequeno, com um grande quadro que é o governador. O PSB até pouco tempo atrás oferecia uma grande dificuldade para quem quisesse se filiar ao partido.
Rogério – Só não aconteceu com o Paulo conseguiu sem problemas. E foi governador com ele. Renato está colhendo o que plantou. Fez um partido político para que ele pudesse entrar no jogo político do Estado. Pequeno ele virou deputado federal, pequeno ele virou senador, porque esse tipo de política ele sabe fazer, e acabou virando governador.
Renata – Sim, mas uma coisa é você pleitear esses cargos que deixam o agente soberano de seu mandato. Outra coisa é você governar um Estado e tentar fazer um amplo leque de aliança com um partido pequeno querendo pegar todos os espaços. Então, nós temos uma semana até a convenção do PSB, para que o governador ponha a mão pesada dentro de seu partido, enquadre seu pessoal e acerte as pendências para que possa chegar ao processo eleitoral, seja ele contra quem for, bem aparelhado.
Rogério – Quem conhece o Renato sabe que na hora vai enquadrar o time dele para que ele possa ter uma candidatura competitiva. Estamos falando tudo isso em uma semana que antecede a definitiva, muita coisa pode acontecer. Não podemos esquecer que o grande desejo do Renato Casagrande e da elite empresarial é ver Paulo Hartung não candidato ao governado e Renato candidato.
Renata – Bom desde o início do processo eleitoral, essa incerteza gira a cabeça de todo mundo. Nesta reta final de articulações eleitorais, tudo pode acontecer, inclusive, nada.
Rogério – A frase da semana foi dita pelo ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, de que a candidatura de Hartung é fantasma. Lembrando que foi ele que cunhou o rótulo bonapartista para a política dirigida por Hartung, que tentava tirar ele da disputa em 2010. E com essa frase a gente fica esperando o fim da próxima semana, sempre atentos, porque tudo pode acontecer.