O material de trabalho de Ana de Sena se resume a lápis, grafite e um andaime. A artista está transformando o espaço da Galeria Homero Massena por meio de desenhos abstratos que dialogam com a arquitetura interna do espaço. As obras são para a primeira exposição solo da artista, intitulada Elementares. Para completar esse projeto, ela precisará praticamente morar dentro da galeria e já preparou um acampamento dentro da sala expositiva.
“O meu desenho se aproveita da forma e do relevo das paredes, do teto e de todo o espaço interno da galeria. Quero que minha arte se integre naturalmente à sala”, conta a estudante de artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O projeto de Ana de Sena consiste no automatismo e na espontaneidade, por isso, ela não utiliza borracha e nem rascunhos. “Essa forma de trabalhar é a maneira que eu encontrei para acessar imagens adormecidas do inconsciente e alguns arquétipos do consciente coletivo”, explica.
Rabiscar nas paredes é algo que nos remete ao universo infantil e Ana afirma que essa também é uma de suas referências, já que desde nova ela tem o costume de desenhar, seja no papel ou em outros suportes. A artista também destaca que o desenho na parede lembra uma época bem mais primitiva, quando os primeiros homens faziam as pinturas rupestres. “Me sinto como se estivesse dentro de uma caverna desenhando”, diz Ana.
Dormir na galeria e subir nos andaimes não está sendo nenhuma dificuldade para Ana, que ama a possibilidade de se desligar de sua rotina para passar o tempo desenhando livremente. “É cansativo, mas prazeroso. Trabalhar com arte é isso, ficar entre a dor e o prazer”, afirma.
O trabalho de Ana de Sena se aproxima do surrealismo ou pode ser chamado de semi-abstrato. “Se ele fosse chapado, seria totalmente abstrato, mas na parede e com o volume de luz e sombra, os meus desenhos lembram algumas figuras conhecidas como flores, folhas e partes do corpo humano”, explica Ana. A artista ressalta, porém, que não reproduz essas figuras conscientemente e que depende da subjetividade do público para enxergá-las.
O grafite sempre foi seu material de trabalho no papel e quando o experimentou na parede gostou ainda mais do efeito do lápis e dos volumes que os tons de cinza criavam. Ana conta que seus desenhos se assemelham a fotografias em preto e branco e que essa característica confere uma maior intimidade entre o espectador e a sua obra. “Gosto das nuances entre o preto e o branco, acho que o colorido não transmitiria a mesma delicadeza”.
O projeto de desenhar nas paredes começou na época do Invade MAES, em 2012, quando o Museu de Arte do Espírito Santo convidou alguns artistas para ocupar o espaço e criarem livremente. Ana ficou responsável por uma das paredes e teve a experiência de ampliar seus desenhos da folha de papel para a parede. Ela passou três semanas desenhando e o resultado foi enviando junto com seu portfólio para a Galeria Homero Massena.
“Eu não esperava ser contemplada, foi uma surpresa enorme. Este é o primeiro ano que a galeria está premiando os artistas iniciantes, então estou muito feliz de poder trabalhar nesse espaço”, diz Ana.
Elementares é a primeira experiência individual da artista, que faz parte do coletivo de intervenções urbanas Canarinho.
“Apesar de também trabalhar com confecções de murais no espaço urbano, o meu trabalho pessoal é focado apenas no espaço interno, até porque os desenhos em preto e branco não teriam o destacamento necessário dentro da cidade”, explica.
Além do Canarinho, Ana já participou de duas exposições coletivas na Galeria de Arte e Pesquisa, na Ufes, e no Carão Cerqueira Lima, no Centro de Vitória.
Para a exposição Elementares, Ana recebe orientação do artista Carlos Borges, que convidou mais três críticos de arte para acompanhar o trabalho dela e elaborar o texto de abertura da exposição. Elementares estará aberta ao público a partir do dia 30 de julho e o processo do desenho instalação pode ser acompanhado no site www.exposicaoelementares.com.
