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Relatório aponta maior incidência de câncer em áreas com transgênicos e agrotóxicos

O Ministério da Saúde da província de Córdoba, na Argentina, divulgou na última semana o relatório “Informe sobre o Câncer em Córdoba 2004-2009”, elaborado pelo Registro Provincial de Tumores e pela Direção Geral de Estatística e Censo. O registro mais alarmante é que a área com maior índice de utilização de agrotóxicos e de plantios de transgênicos, a chamada “pampa gringa”, é também a região com maior taxa de mortes. As informações são do jornal argentino Página 12.
 
A média do número de mortes a cada 100 mil habitantes na província é de 158 e de 134,8 na capital de Córdoba. Entretanto, os municípios de Marcos Juárez (229,8), Presidente Roque Sáenz Peña (228,4), Unión (217,4) e San Justo (216,8), que compõem a região dominada pelo agronegócio, possuem essa estatística muito acima das demais. Somente a estatística do município de Marcos Juárez representa o dobro da média de toda a Argentina, detectada pelo levantamento de 2012 da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (parte da Organização Mundial da Saúde).
 
Membro do Grupo Genética e Mutações Genéticas Ambiental da Universidade Nacional do Río Cuarto, que pesquisa o efeito dos agrotóxicos, o doutor em Biologia Fernando Mañas não acredita que o fato de o mapa do câncer apontar as maiores incidências justamente nas regiões agrícolas seja coincidência. De acordo com Mañas, detectou-se glifosato (e seu principal produto de degradação, AMPA) em lagos, solos e inclusive na água da chuva em Marcos Juárez. Pesquisadores da cidade de Río Cuarto estudaram há oito anos os povoados de Córdoba e confirmaram que a exposição a agrotóxicos provoca danos genéticos e aumenta a probabilidade de ocorrência de cânceres. 
 
No Brasil, um dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) apontou que no ano de 2012, dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras brasileiras, 22 são proibidos na União Europeia, o que faz com que o país seja o maior consumidor de agrotóxicos já banidos em outros locais do mundo, de acordo com a entidade. Diversos estudos publicados por pesquisadores do País comprovam que a exposição prolongada aos agrotóxicos causa ataques ao sistema nervoso, ao sistema imunológico, má formações, atinge a fertilidade e possui efeitos cancerígenos.
 
Em fevereiro deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição referência em pesquisas no setor da saúde no Brasil, publicou uma carta aberta à sociedade brasileira em que considera inaceitáveis as recentes modificações na legislação que regula o uso de agrotóxicos no País. O principal alvo das críticas foi a lei que permite a importação de agrotóxicos sem consulta aos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente  (Lei n° 12.873 /13 e o Decreto n° 8.133/13), em casos de emergência fitossanitária ou zoossanitária. 
 
No documento, a Fiocruz reitera o perigo ao qual estão expostos trabalhadores e moradores de áreas rurais; trabalhadores das campanhas de saúde pública e de empresas de desinsetização; e populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas, extremamente vulneráveis à ação dos grandes latifundiários. Os riscos, perigos e danos provocados à saúde pelas exposições agudas e crônicas dessas populações aos agrotóxicos são incontestáveis, segundo a instituição, com base na literatura científica internacional.
 
Em 2001, o município de Iúna, na região do Caparaó capixaba, viu em poucos anos o número de crianças com doença física e mental saltar de 60, em toda a cidade, para 200 casos. Na época, metade de seus 28 mil moradores vivia no campo e a principal fonte de renda no município era o café arábica, cultura com grande aplicação dos venenos, amplamente aplicados por agricultores. O então presidente da Câmara Municipal, Jonildo de Castro Muzi, apontou que a população acredita que os agrotóxicos tenham causado tal aumento. No mesmo ano, o pesquisador Sebastião Pinheiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), afirmou que os brasileiros, tanto os agricultores que lidam os venenos como os consumidores de alimentos contaminados, estão sendo castrados por agrotóxicos.
 
Desde 2008, o Brasil é campeão global no uso de agrotóxicos e atualmente concentra cerca de 20% do uso mundial. O Espírito Santo, que já foi campeão brasileiro, é o terceiro da federação que mais faz uso de agrotóxicos.

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