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No discurso, propostas para mobilidade refletem manifestações de 2013

Claramente, as propostas de mobilidade urbana dos candidatos ao governo do Espírito Santo refletem as convulsões de junho de 2013, que incluíram o assunto na pauta política. De repente, o transporte coletivo virou prioridade, o individual motorizado é relegado, o uso da bicicleta precisa ser estimulado e o pedestre merece mais atenção. No discurso, a mudança de paradigma se efetivou. Vejamos na prática: ou seja, de 2015 em diante.
 
Refletem, sim, mas cada qual à sua maneira. O candidato do PT, Roberto Carlos, por exemplo, mostrou-se o mais burocrático. Afora misturar propostas de mobilidade com de infraestrutura – parecendo mais preocupado em movimentar cargas que pessoas, vide a quantidade de itens destinados à superação dos gargalos logísticos do Estado -, apresenta as propostas com secura. 
 
Defende “o planejamento e investimentos em sistemas de transporte coletivo (corredores exclusivos de ônibus, BRT, sistema aquaviário, entre outros), definindo o melhor modal para cada região; ampliação da rede cicloviária, facilitando o uso de bicicletas e similares; fortalecimento e desenvolvimento do Plano de Mobilidade Estadual”. 
 
A candidata Camila Valadão (Psol) expõe as ideias mais interessantes, não tanto em função de projetos palpáveis, mas, porque, antes, apresenta um conceito de cidade. O programa da candidata do Psol não entende mobilidade apenas como uma espécie de gestão de deslocamento no espaço físico. Mobilidade, ali, denota antes a construção de uma cidade viva. Para ela, modelos de mobilidade centrados no transporte individual motorizado não conseguirão superar os problemas cotidianos nas ruas.
 
A candidata também vê a mobilidade como questão de saúde. Andar de bicicleta em ciclovias, ou seja, com segurança, andar em ônibus com conforto e agilidade, promover o uso de veículos não poluentes e andar a pé com segurança são atividades que promovem a saúde. Para o programa da candidata, pouco saudável é amparar no carro um modelo de mobilidade.
 
Os dos primeiros pontos são dedicados à bicicleta. A candidata defende a conclusão e a ampliação “em caráter de urgência” das ciclovias na Grande Vitória e nos principais centros urbanos capixabas. Mas não fala em uma malha cicloviária interligada e estruturada, o que ainda não temos. Ela também fala na implantação de um sistema público de disponibilização de bicicletas. A atual gestão leva adiante um projeto público de aluguel de bikes, cujo edital, no entanto, foi suspenso pela Justiça.
 
Camila também sugere, entre outros pontos, a suspensão do edital de concessão do Sistema Aquaviário para repassar a gestão à Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (Ceturb-GV), que será estruturada para tal função. Sugere ainda a revisão imediata das concessões do serviço público de transporte coletivo, para maior regulação estatal; a implantação da Tarifa Zero; e a criação de uma Secretaria de Mobilidade Urbana, cuja estrutura seria montada para atender, prioritariamente, ações para transporte público.
 
Com base no que classifica de “mercantilização da vida”, o candidato socialista Mauro Ribeiro (PCO) parte do princípio de que, como elemento essencial à vida, transporte não é mercadoria. Ribeiro defende de modo genérico a estatização, sob controle popular, dos transportes coletivos. Defende ainda a implantação de ciclovias, VLT e Aquaviário.
 
Ex-governador e, novamente, aspirante ao Palácio Anchieta, Paulo Hartung (PMDB) pincela suas propostas com um verniz democrático ao dizer que ele é, por ora e tão-somente, “um convite à descoberta e ao debate”. 
 
Sobre a Região Metropolitana da Grande Vitória, Hartung defende um novo modelo de financiamento de implantação e operação do sistema de transporte público, em que investidores serão estimulados a financiar a implantação de novas tecnologias, como BRT, Veículos Leves Sobre Trilhos (VLT), monotrilho, aquaviário, entre outras. Mas em oito anos, Hartung pouco fez para redesenhar o modelo de mobilidade da Grande Vitória. 
 
O candidato propõe, ainda, acelerar projetos que estão em andamento: implantação do BRT, do acesso sul de Vitória e concluir a Rodovia Leste Oeste. Ressuscita a ideia de uma nova ligação entre Vitória e Vila Velha (vide a ideia do túnel saindo de Ilha de Santa Maria e desembocando na Glória) e, dentro da ideia de um novo modelo de investimento em transporte público, defende o financiamento via Parceria Público Privada (PPP) e, claro, o estímulo ao uso da bicicleta.
 
O candidato à reeleição Renato Casagrande parte de um princípio importante: a cooperação entre Estado e municípios no planejamento, elaboração e execução de projetos. Mas apresenta de forma burocrática. 
 
Tal diretriz norteia as propostas do candidato: apoiar os municípios na elaboração de seus planos municipais de mobilidade urbana; priorizar o financiamento de projetos que associem modais, como ônibus, aquaviários, VLTs e outros (Casagrande fala em VLT, mas o BRT reina absoluto, mas não inquestionável); apoiar a implantação de ciclovias e melhoria de passeios públicos (ação em que a gestão do socialista tem se mostrado pouco eficaz, à exceção da implantação do alentador Bike GV); e apoiar o planejamento do transporte urbano, entre outros. 
 
É pouco para quem sentiu na pele a fúria das Jornadas de Junho.

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