Vestido tipicamente como um membro de uma trupe de circo, Shita Yamashita fala enquanto pinta o rosto. Primeiro o pó branco, depois o rouge e por último o lápis preto envolta dos olhos. “Muitas crianças têm medo de palhaço, então faço minha maquiagem na frente delas durante o espetáculo, para elas entenderem a transformação”, explica Shita.
Ele é o dono, o domador de feras, o malabarista, o palhaço e o trapezista do espetáculo Circo Miudinho: O Incrível Circo de Pulgas do Senhor Bherola, que entra em curta temporada no Espaço Má Companhia, a partir deste sábado (19) e domingo (20) e do próximo final de semana.
O Circo miudinho nasceu em 2010 quando o artista foi contemplado com um edital do Programa Rede Cultura Jovem e pode usar o dinheiro para aprimorar suas criações e realizar oficinas de circo para crianças. De lá para cá, Shita revela que o espetáculo ainda estreou de fato porque nunca esteve pronto. “Estou sempre inventando um número novo, construindo cenários diferentes e às vezes dá certo e às vezes não, então, eu tenho que mudar tudo. Não sei aonde esse espetáculo vai parar, mas ainda não cheguei na sua versão final”.
Baseada na tradição oral das loas e chulas circenses, músicas da cultura popular circense e do teatro de rua brasileiro, o espetáculo do Circo Miudinho é um trabalho pessoal do ator que envolve pesquisa e afetividade. “A minha referência é o circo do mambene, é o circo do cara que não tem dinheiro para pagar suas contas, mas quando coloca o fraque ele se transforma, ele vende a alegria. Eu trago o público para dentro do camarim desse cara, mostro ele descalço, sem maquiagem e com as suas preocupações”.
Desde criança, Shita é apaixonado pelo circo. Quando a trupe chegava em sua cidade, ele passava o dia com os artistas e os ajudava no que podia, em troca podia ver o espetáculo a noite de graça. “Meu primeiro amor foi uma trapezista e é assim que começo o meu espetáculo do circo Miudinho falando de um menino que se apaixonou por uma trapezista, que não era a mais bonita do circo, mas sim a que mais o encantou”, conta.
Essa simplicidade e o trabalho artesanal que ele via nos pequenos circos que visitavam sua cidade, ele trouxe para o seu espetáculo. Além de ser todos os personagens, Shita também constrói e customiza todas as estruturas que usa.
Esse circo de um homem só começou em uma versão bem mais compacta. Shita sempre quis fazer mega produções, mas por falta de dinheiro optou por fazer o circo de lambe- lambe ou circo em caixas. Nessa técnica o circo é montado dentro de uma caixa, o espectador o assiste por uma pequena abertura. Totalmente isolada de luz e sons externos, tanto o manipulador quanto o espectador usam fones que transmitem a sonoplastia do espetáculo.
O Circo miúdo seguiu assim até que uma professora de uma das escolas em que Shita se apresentava sugeriu fazer algo maior para que mais pessoas pudessem ver ao mesmo tempo. Depois, o artista foi convidado para apresenta-se no Teatro da Ufes, durante o Festival do Palco Giratório, e no meio daquele palco enorme, ele sentiu a necessidade de fazer seu show aumentar e agregar novos elementos.
O espetáculo que ele apresenta na Má Companhia neste final de semana é totalmente independente e fruto dessas experiências. O Circo Miudinho não é exclusivamente infantil e Shita faz questão de adequar sua linguagem para a família inteira, desde os filhos de idades variadas, passando pelos pais até os avós.
Antes do Circo Miudinho, Shita já trabalhou em circo e já passou por diversos países como Uruguai, argentina, Chile, e também já teve seu próprio circo e fez peças infantis, mas ele só se encontrou como artista quando conheceu o trabalho do Grupo Galpão, de Minas Gerais. “Quando eu os vi encenando Romeu e Julieta eu fique louco. Aqueles figurinos, perna de pau, acordeom, eu pensei na hora que era quilo que eu queria fazer”.
Shita acredita que o circo nunca morreu e que ainda está em processo de reinvenção, “o circo está melhor hoje do que 20 anos atrás, mas está pior do que há quarenta anos”, diz. Mas as dificuldades continuam as mesmas, o apoio privado é muito difícil de conseguir e ele acaba dependendo de editais ou tendo que bancar tudo sozinho.
“Prefiro ser independente, já esbarrei com patrocinadores que queriam censurar meu texto só porque eu citava figuras folclóricas. Meu espetáculo é livre, apolítico e sem religião, ele é feito das minhas inquietações, assumo a responsabilidade e a autoria”, completa.
Serviço
O espetáculo O Incrível Circo de Pulgas do Senhor Bherola apresenta-se nos dias 19, 20, 26 e 27 de julho, Sábados às 17h, e domingos às 15h e 17h, no Espaço Má Companhia. Rua Professor Baltazar, 152, Centro de Vitória. Ingressos R$ 20 inteira. Aos sábados todos pagam meia. Os portões serão abertos uma hora antes e teremos o Cantinho das Artes, com pinturas, desenhos e massinha de modelar para as crianças. A partir das 16h aos sábados e 14h aos domingos.