A Suzano Papel e Celulose publicou no Diário Oficial dessa sexta-feira (15), que obteve do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) a Licença Prévia (LP) para plantio de 1.483,11 hectares (14.830 m²) de eucalipto na Fazenda Eldorado, localizada nos munícipios de Montanha e Mucurici (extremo norte do Estado). A licença tem validade de 365 dias e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), uma das principais entidades que acompanha e luta contra a concentração de terras nas mãos das grandes corporações, sequer soube da emissão do documento.
No ano passado, a audiência pública que aconteceu em função do pedido de LP da Suzano para a Fazenda Eldorado gerou revolta a diversos militantes de movimentos sociais do campo, que realizaram uma ocupação popular no local do evento, um cerimonial de posse privada. Os militantes denunciam que a atividade não cumpre diretamente sua função social e econômica da terra e relatam que é evidente que nos municípios onde os eucaliptais existem estão as maiores taxas de pobreza. Como, por exemplo, o município de Conceição da Barra, no norte do Estado.
Os militantes também se posicionam contra os monocultivos em todo o território capixaba, ressaltando os impactos negativos, especificamente dos eucaliptais, na hidrografia e na biodiversidade das regiões onde são plantados. Também é evidenciado o insatisfatório índice de empregabilidade de tal atividade que, segundo eles, são muito menores do que os da produção de alimentos.
Em setembro de 2013, foi retirado de pauta na Câmara de Vereadores de Montanha o projeto de lei do Executivo que permitiria o aumento da monocultura de eucalipto de 15% para 25% da área total do município. O motivo para isso, segundo informações de bastidores, foi a polêmica gerada pela articulação entre o prefeito Ricardo Favarato (PMN) e a Aracruz Celulose (Fibria). A maioria dos vereadores também teria manifestado posição contrário ao projeto. O PL seria votado anteriormente, mas uma mobilização de 500 integrantes da Via Campesina suspendeu a sessão.
Entidades como o MPA e a Rede Alerta Contra o Deserto Verde denunciam há décadas a contaminação do solo e da água gerados pelos plantios de eucalipto, além da mecanização, que gera desemprego em larga escala. A Suzano também é responsável por promover o êxodo rural e os conflitos instalados no campo.
Junto com a Aracruz Celulose, a Suzano responde pelo modelo de desenvolvimento representado pelas monoculturas de eucalipto no Estado. A concentração de terras em poder das multinacionais impede ainda a realização da reforma agrária e o desenvolvimento de projetos da agricultura familiar. A consolidação dos projetos da Aracruz e Suzano só foi possível graças a financiamentos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Nos municípios do extremo norte do Estado, a empresa repetirá os impactos sociais e ambientais já conhecidos das comunidades tradicionais da região, principalmente quilombolas do antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.