Cortando as ruas de Vitória em sua moto, Luca Bandit é o narrador personagem de Ponto Morto (2010), romance de Saulo Ribeiro que irá ganhar uma 2ª edição. O livro narra as angústias e situações patéticas vividas pelo protagonista na ilha de Vitória, que é descrita como um lugar sombrio povoado por figuras marginalizadas.
O lançamento será nesta sexta-feira (22), a partir das 17h, durante a I Sexta Cultural do CCHN, Ufes Goiabeiras. No evento também haverá uma roda de Conversa Literária com o autor e mediação do escritor Yan Siqueira.
Nascido em Vila Vela, Saulo Ribeiro viveu em Pedro Canário, extremo norte do Espírito Santo. Atualmente mora em Vitória. Sua produção literária abrange dramaturgia, contos, romance e roteiros de audiovisual. Publicou os livros Cárcere (coautoria, dramaturgia, 2009), Diana no Natal (contos, 2010), Ponto morto (romance, 2010) e Corpo de delito & Rip e Cal (dramaturgias, 2013). Ponto Morto foi contemplado pelo premio da Secult em 2010 e agora ganha uma nova edição capa dura. O livro será vendido a RS 20 reais durante o evento.
Século Diário – Essa nova edição traz muitas mudanças, começando pela capa dura e a nova foto que a ilustra. Há mudanças no texto também?
Saulo Ribeiro – Na verdade, não. Eu não pude recuperar a primeira revisão do texto, então o Tiago Zanoli fez uma nova revisão a partir do novo acordo ortográfico e também foi ele quem fez a nova foto da capa, uma foto linda, inclusive. O projeto gráfico agora é do Gustavo Binda e o posfácio é do escritor Wladimir Cazé. O resultado agora está bem mais legal que o primeiro.
Durante algum tempo, eu me incomodava com algumas coisa do Ponto Morto e continuo não gostando de algumas passagens. Mas, se eu fosse escrever de novo, acho que muita coisa eu mudaria, mas eu optei por manter mesmo o que eu não gosto porque é como se eu estivesse me resolvendo com esse livro e fechando um ciclo para partir para novos projetos. Eu não mexeria mais nele como romance, mas tenho a pretensão de adaptá-lo para um roteiro cinematográfico.
Apesar de não ser roteirista, tenho algumas experiências com dramaturgia e também tenho uma parceria com o Alexandre Serafini, nós escrevemos juntos Os Incontestáveis, que começara a ser filmado no ano que vem com recursos do edital de longa metragem da Secult. Também pretendo lançar Os Incontentáveis em forma de romance.
– Esse novo formato, com capa dura, representa uma nova fase para a editora Cousa com um novo padrão de qualidade?
– Estamos sempre pesquisando novos formatos e novas gráficas, por que o objetivo da Cousa é ser independente de leis, de editais e de dinheiro publico e de empresas privadas de uma forma geral. Nós iremos continuar nos inscrevendo em editais e buscando patrocínio, mas nós não queremos que a editore precise ou dependa exclusivamente disso para sobreviver. Independente de quem estiver no poder a editora vai continuar funcionando.
Essa edição vem dessa pesquisa, chegamos a um preço bom e uma qualidade editorial muito boa também, para isso nos precisamos diminuir a quantidade de exemplares e só vamos fazer tiragens muito grandes quando nós tivermos patrocínio que será usado para a difusão dessa produção em maior escala. E esse processo já começou há algum tempo, o Ponto Morto já e o 8º livro dessa nova fase independente da Cousa.
– Ponto morto foi um livro bastante lido, muitas pessoas escreveram sobre ele. Você espera atingir um novo público com essa nova edição?
– Espero sim, o Ponto Morto é um livro interessante porque ele acaba cativando diversos tipos de públicos. Uma vez eu recebi um e-mail de um paulista que dizia que conheceu uma moça em Vitória e que leu o Ponto Morto na casa dela, mas não conseguia encontrar o livro para comprar e então eu mandei os últimos exemplares que eu tinha para ele. Por ser uma edição da Secult a gente não pode comercializar e então a tiragem esgotou muito rápido. Então esse foi mais um dos motivos porque eu fiz uma nova edição, já faz mais de dois anos que eu não tenho nem a minha própria edição.
Ponto Morto é um livro de várias idades e vários públicos, para alguns foi a primeira obra produzida no Espírito Santo que leram. Então, com essa nova edição eu espero um novo público também.
– E como nasceu a história do Ponto Morto? alguns personagens nasceram em contos do seu blog, outros estão também no livro Diana no Natal.
– O personagem principal nasceu no blog, ele se chamava Duda Bandit, mas quando ele virou livro eu mudei o nome para Luca Bandit, não sei bem porque fiz isso, mas acho que a sonoridade do Duda me incomodava um pouco (risos). E Luca também é um nome bem italiano como é também Espírito Santo, na verdade o Espírito Santo é essa grande mistura de negro, italiano, índio, pomerano. Além do blog, há também a volta de alguns personagens do Diana no Natal e o mesmo universo marginal.
Esses dois livros [Diana no Natal e Ponto Morto] exemplificam bem essa minha primeira fase como escritor, eu não escrevo mais dessa forma, meu fluxo de texto é diferente. Agora com esse relançamento do Ponto Morto é como se eu estivesse livre para começar um novo tipo de ficção.
– Há um trecho bem interessante no livro: “Laura N (…) achou a melhor maneira de se esconder em Vitória. Foi fazer teatro”. E fazer literatura no Espírito Santo também é tão difícil quanto teatro?
– Trabalhar com qualquer tipo de arte é viver no submundo. Às vezes a gente não sabe nem porque faz, mas sabe que precisa fazer e não consegue largar. Eu quase fechei a Cousa umas três ou quatro vezes, já pensei em publicar só um livro por ano e agora estou lançando cinco de uma vez.
Agora, com relação à produção e difusão, a literatura é um pouco mais simples porque um livro é bem mais barato de produzir do que uma peça de teatro. Eu já fiz a produção de muitas peças e sei que envolve muito dinheiro e quando eu fiz o primeiro livro eu precisei de só 10% do que costumava gastar no teatro. E agora com o novo processo de produção da Cousa, a gente faz com muito menos. Entretanto, a angústia de criador, do diretor, do produtor, do bailarino, acho que tudo é muito parecido.
-Você já está envolvido com o circuito literário da Grande Vitória há muito anos. Há uma nova geração produzindo? Como são esses novos autores?
– Eu acho que acontece no Espírito Santo nesse momento algo parecido com que aconteceu no final dos anos 80 e começo dos 90. Eu ainda nem morava em Vitória, mas em pesquisas descobri a coleção Letras Capixabas e houve um boom de novos escritores que nós temos como referência hoje como Sergio Blank, Reinaldo Santos Neves, Paulo Roberto Sodré, Francisco Grijó, Orlando Lopes, entre outros.
Nos últimos cinco anos nós temos tido uma geração que tem permanecido, que tem escrito dois, três livros. Posso citar o Hebert Farias, Alessandro Darós, Anne Ventura, e dos novíssimos temos o João Albani, Marilia Carreiro, da editora Pedregulho, Sarah Vervloet e tem muito mais gente e toda vez que eu cito alguns sou injusto com outros e é muito bom a gente esquecer [os nomes] porque prova que tem muita gente escrevendo e fazendo um ótimo trabalho. Acho que vivemos um bom momento para diversas linguagens artísticas aqui e o os coletivos artísticos e o protagonismo juvenil tem um papel importante nessa nova fase.