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Papo de RepórterDisputa eleitoral começou morna, esquentou no final, mas deixou a desejar

Nerter Samora e Renata Oliveira 
 

No próximo domingo (5), acontece as eleições 2014 e Papo de Repórter faz um debate sobre a disputa eleitoral para o governo do Estado, que começou morna e acabou tomando rumo inesperado pelos principais candidatos ao cargo

 
Renata – Depois de três meses de disputa ao governo do Estado, o processo chega à sua última semana tendo tomado um rumo inesperado. Primeiro pela própria existência da disputa. Depois de 12 anos de unanimidade política, o bloco se dividiu e passou a travar uma disputa polarizada entre o governador Renato Casagrande (PSB) e o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). Isso deixou a classe política atordoada. Até então, os políticos não tinham conflitos para acomodação no melhor palanque, este ano tiveram que deixar o conforto da unanimidade e escolher um lado. E tem muita gente que tenta ainda se esgueirar, ficando em cima do muro até a última hora. Mas quem diria que o processo tomaria esse rumo, não é?
 
Nerter – É verdade. Acho que nenhum dos dois esperava o cenário que se configurou hoje. Casagrande aguardou até o último minuto para romper com seu antigo aliado. Acreditava na possibilidade de manutenção da unanimidade. Ofereceu a neutralidade na disputa nacional para manter o acordo. Não foi possível. Uma vez iniciada a disputa, o governador esperava um debate de comparação entre sua gestão e a anterior. Até porque havia um indicio de que esse era o caminho a ser seguido por Paulo Hartung, quando, ainda no período pré-eleitoral, surgiu aquele relatório sobre os gastos do Estado. Mas não foi isso que aconteceu. 
 
Renata – Hartung usou uma série de mecanismos, boa parte deles já conhecidos pela classe política para tentar limpar seu campo de disputa. Começou com o trabalho de desconstrução da imagem positiva do governador. Sem conseguir colar em Casagrande o rótulo do crime organizado, terceirizou para seus aliados o discurso de que Casagrande é um bom moço, mas não era um gestor de excelência, como ele havia sido. Depois a velha tática da pesquisa favorável entrou em campo, para criar um ambiente de já ganhou. Como uma pesquisa influencia a outra e o recall do ex-governador é grande, conseguiu criar uma imagem de eleição garantida. Com isso, Hartung evitou a comparação de seus oito anos de mandato com os quatro anos de Casagrande.  
 
Nerter – Casagrande no início da disputa mantinha uma postura de críticas abstratas que não levavam ao entendimento do eleitor comum. A partir da entrevista na TV Guarapari, no início deste mês, Casagrande assumiu uma outra postura e passou a endurecer o discurso contra seu adversário, apresentando as irregularidades encontradas no governo. Além da “escola-curral”, em Linhares, o governador falou do “posto fantasma”, das passagens da ex-primeira dama e criticou a fuga do adversário da discussão eleitoral.
 
Renata – Hartung reagiu dizendo que isso era invasão de privacidade, mas Casagrande insistiu na ideia de que seu antecessor deve responder pelas questões que envolvem dinheiro público.  Paralelo ao debate entre os candidatos houve também as denúncias contra o ex-governador que ajudaram a apimentar o debate, pelo menos entre apoiadores dos dois candidatos nas redes sociais. Mas a história da mansão em Pedra Azul ganhou projeção nacional e arranhou bastante a imagem de Paulo Hartung.
 
Nerter – O ex-governador pode inaugurar uma nova forma de se ver o resultado. Ele que sempre falou do “perder ganhando”, pode ser o primeiro a ganhar perdendo. Depois da descoberta de que ele também tem esqueletos no armário, vai ficar difícil estabelecer aquela política maniqueísta que o manteve no governo por oito anos sem apresentar um governo de resultado mais palpável para seu eleitor. Se Casagrande levar a eleição para o segundo turno, o ex-governador terá dificuldades. E se Casagrande vencer, não se sabe como será seu segundo mandato, desta vez tendo que reconstruir um sistema político a partir do fim da unanimidade e reagrupando as lideranças em torno de seu governo. 
 
Renata – Chama atenção também o papel do PT nesta eleição. O esperado 16% dos votos fidelizados do partido não foram transferidos para o candidato ao governo Roberto Carlos e também fogem do candidato ao Senado, João Coser, nesta reta final. Roberto Carlos, porém, neste final de campanha, tenta cumprir o papel partidário que lhe foi determinado, mas nem de longe lembrou a influência do PT no processo eleitoral de outros carnavais. 
 
Nerter – Mas também teve temas que ficaram de fora da pauta política. O patrocínio da da consultoria Éconos é um exemplo disso. Somente no denate dessa sexta-feira (26) na TV Vitória é que Casagrande cutucou diretamente Hartung sobre as operações suspeitas da consultoria.
 
Renata – Mas é assunto delicado também para Casagrande, já que seu governo mantém relações com essas mesmas empresas, e ele tem sido cauteloso para não expô-las. A prestação de contas dos candidatos mostra exatamente o porquê de todo esse cuidado. O esquema continua o mesmo, mas em vez de um palanque só, os patrocinadores atuam as duas frentes, apostando nos dois candidatos para garantir a manutenção do sistema após a eleição, independentemente do resultado das urnas. Chegando nesta reta final a avaliação é de que a eleição não foi boa. Não houve nem o debate profundo de propostas, nem a comparação de governos e nem a comparação de perfis. Foi um jogo de gato e rato no final que não se refletiu positivamente para nenhum dos lados.
 
Nerter – Foi uma experiência eleitoral diferente, depois de tanto tempo sem disputa, tivemos um processo confuso de rompimentos em cima da hora e que na verdade não representam a comparação de projetos políticos para o Estado. 
 
Renata – Ou seja, na próxima semana, o eleitor terá uma escolha limitada para a qual não está sequer motivado a fazer. 

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