Na primeira entrevista que deu à imprensa, logo após ser eleito governador do Espírito Santo pela terceira vez, Paulo Hartung apressou-se para reivindicar para si o papel de vítima do processo eleitoral.
Na avaliação que fez no início da noite deste domingo (5) à Rádio CBN-Vitória, Hartung condenou os ataques que sofreu do adversário Renato Casagrande (PSB). Hartung disse que fez uma campanha limpa e propositiva e seu adversário partiu para ataques covardes e mentirosos contra ele e sua família.
E acrescentou, para dar tom dramático à sua declaração: “As práticas políticas utilizadas dão vergonha. Coisas da velha política. Pensei que isso já havia acabado”.
Ora, Hartung precisa parar de dissimular e jogar limpo, pelo menos uma vez, com a população, especialmente com os pouco mais de um milhão de capixabas que decidiram elegê-lo novamente governador.
Hartung não pode usar os votos de um milhão de eleitores para se esconder das acusações que o envolvem em denúncias de corrupção praticadas durante e após o seu governo.
A população (principalmente os 888 mil eleitores que não votaram no peemedebista), este jornal e a Justiça continuam aguardando ansiosamente as respostas sobre as denúncias. Hartung precisa sim explicar por que misturou o público com o privado para beneficiar seus familiares e amigos. Não podemos esquecer que foi o então governador que autorizou a emissão das passagens para a mulher viajar nos fins de semana em compromissos particulares com dinheiro público; foi ele quem articulou a aproximação com as empresas que “contrataram” os serviços de consultoria da Éconos, antes mesmo de ele fazer parte formalmente da sociedade para depois receber as benesses concedidas em troca de “serviços de consultoria”, que no jargão da corrupção também é conhecido como “lavanderia”; foi ideia exclusivamente dele não incluir a mansão de Pedra Azul na declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, assim como foi ele quem premeditou a criação de uma empresa para administrar os bens do espólio do pai, que também não aparecem na sua declaração, mesmo sabendo que ele possui a metade das quotas da mulher na sociedade, pois é casado em comunhão parcial de bens.
Esse conjunto de escândalos continua em aberto. Absolutamente nada foi respondido. Hartung até agora enrolou a população. Não apresentou um único documento que o inocente das acusações.
Ao falar pela primeira vez como governador eleito, Hartung mostrou que continua arrogante e dissimulado quando repete que as denúncias não passam de “ataques covardes e mentiras”.
Ele está crente de que a vitória nas urnas automaticamente o redime das mazelas cometidas. O governador eleito se engana se pensa que Século Diário, que lhe tirou a máscara de “bom moço” nessas eleições vai parar de cobrar. O Espírito Santo não é mais o mesmo de 2010, quando Hartung deixou o governo. Durante os quatro anos que sucederam seu governo ditatorial, este jornal se fortaleceu ainda mais.
Século Diário mostrou nessas eleições a importância de existir no Espírito Santo um jornalismo combativo, que não se acovarda, que se pauta nos fatos.
Aprendemos a sobreviver oito anos na adversidade e estamos prontos para encarar os desafios que virão pela frente.