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Hartung implica prefeito de Vitória no ‘vazamento’ de lista de clientes da ??conos

Na entrevista exclusiva de duas páginas que concedeu ao jornal A Gazeta (07/10/2014), o governador eleito Paulo Hartung se queixou, seguidas vezes, dos ataques que sofreu durante a campanha eleitoral deste ano. Na décima quinta e última pergunta, o peemedebista foi inquirido sobre qual será a relação dele com os prefeitos Gilson Daniel (Viana) e Luciano Rezende (Vitória), que foram um dos principais cabos eleitorais de Renato Casagrande (PSB) durante a disputa ao governo nessas eleições. 
 
Na resposta, Hartung reclamou, sem citar nomes, mas claramente se referindo a Luciano Rezende, que seus “adversários” teriam usado a máquina para fazer os ataques. “Inventar uma lista contra pessoas, isso é brutalidade do uso da máquina. É um ato criminoso. É um crime contra a democracia. Foram praticadas barbaridades nessa campanha eleitoral”. 
 
O governador eleito já havia insinuado em outras ocasiões que o prefeito de Vitória, na condição de principal cabo eleitoral de Casagrande, seria o responsável pelo vazamento da lista de clientes da Éconos, empresa de consultoria do ex-secretário da Fazenda José Teófilo, da qual Paulo Hartung foi sócio entre maio de 2011 e julho de 2013. 
 
Após Século Diário publicar a relação dos clientes que operavam com a consultoria entre os anos de 2010 e 2013, levantando suspeição sobre as operações da Éconos com empresas que mantinham relação estreita com o governo passado, Teófilo ingressou com processo na Justiça para apurar a responsabilidade da Prefeitura de Vitória no vazamento do documento. Século Diário também foi envolvido no processo por ter publicado a informação. 
 
Hartung, que durante a campanha nada explicou sobre as operações da Éconos, recorre à estratégia de criminalizar os autores da denúncia — Século Diário, que publicou e, segundo ele, Luciano Rezende, que teria vazado o documento. Com essa manobra, o governador eleito, em vez de explicar as operações da Éconos, reivindica para si o papel de vítima. Nessa lógica, o fato em si se torna secundário e os autores da denúncias passam a ser criminalizados.
 
O jornal apenas cumpriu seu papel de informar ao pôr em suspeição as operações da Éconos com seus clientes, a maioria deles empreiteiras, concessionárias de serviços públicos estaduais, beneficiários de incentivos fiscais ou transferências de créditos de ICMS durante o governo de Hartung. O propósito do jornal era de que o então candidato explicasse as transações da Éconos ao eleitor. 
 
Até agora, Paulo Hartung nada esclareceu sobre os faturamentos milionários da consultoria. Entre os anos de 2010 e 2013, o escritório de negócios recebeu R$ 5,8 milhões em serviços prestados a 66 empresas. Desse total, R$ 4,3 milhões foram faturados durante o período em que Hartung figurava como sócio da consultoria: entre maio de 2011 e julho de 2013. 
 
Ligações estreitas
 
Esse tipo de ligação entre atos do governo passado e o negócio privado de Hartung após deixar o governo fica clara na análise de seus 15 principais clientes. A primeira empresa da lista, a TPK Logística é responsável pelo projeto do Porto Central, em Presidente Kennedy (litoral sul do Estado). Esse mesmo projeto já teve a digital de pessoas ligadas a Hartung – e da própria Éconos, antes da entrada do peemedebista na sociedade – na transação milionária de compra e venda de terrenos para a instalação do projeto siderúrgico da Ferrous Resources no município.
 
Hoje, o principal dirigente do Porto Central é o José Maria Vieira Novaes, que divide o capital societário da ZMM Empreendimentos com o irmão, o ex-vereador Marcus Vivacqua. Pelas mãos do peemedebista, a Ferrous recebeu incentivos fiscais para instalar um complexo siderúrgico e portuário. Na mesma época, a empresa contratou a ZMM e a Éconos para fazer a intermediação na compra de terrenos no município. Somente as operações renderam um total de R$ 121,6 milhões às empresas envolvidas no negócio.
 
Também figura na lista de clientes a Engenharia e Construtora Araribóia, responsável pelas obras do “posto fantasma” de Mimoso do Sul. A empreiteira fez sete pagamento à consultoria, totalizando R$ 70 mil. Por conta das obras, o ex-governador e mais sete ex-integrantes de seu governo respondem a uma ação de improbidade administrativa na Justiça por “torrarem cerca de R$ 25 milhões” nas obras do posto fiscal que não saíram sequer da fase de terraplanagem.
 
Os episódios dos incentivos fiscais também não poderiam ficar de fora dessa relação. As empresas Tristão Companhia de Comércio Exterior (controladora da Realcafé) e Cisa Trading – que pertence aos grupos Comvix, do empresário Antônio Pargana; e Coimex, de Otacílio Coser – aparecem entre os beneficiários da política no governo passado.
 
No caso da concessionária Vitória Diesel, pertencente ao grupo Águia Branca, mesmo com a concentração dos negócios do conglomerado na área de transportes, ele atuou na compra de terras para implantação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), em Anchieta. Juntas essas três empresas contrataram mais de R$ 1 milhão em serviços da empresa do ex-governador.
 
Além disso, a Éconos também foi contratada para dar consultoria a empresas que pretendiam instalar projetos no Estado, como a Manabi Logística e a Nutripetro, que pretende construir portos nos municípios de Linhares e Aracruz, ambos no litoral norte capixaba, respectivamente.
 
Outra empresa de destaque na lista de clientes da Éconos foi a Itatiaia Móveis, que inaugurou uma fábrica de móveis em Sooretama este ano. Os repasses mensais começaram em abril de 2011 e foram até maio do ano seguinte, totalizando R$ 265 mil. Coincidentemente, a consultoria teve início um mês antes do anúncio de formalização do projeto, que recebeu os incentivos do governo estadual – já pelo atual governo.
 
Ao longo dos três anos (2010 a 2013), o Sindiex pagou à Éconos um total de R$ 613,7 mil, registrados em 71 notas fiscais.
 
Na lista de clientes da Éconos figuram outras empresas do setor, como a Cyber Armazéns e Logística S/A, R$ 151,1 mil; Vitcos – Comércio de Cosméticos Ltda, R$ 60 mil; Perfilados Rio Doce, R$ 45,5 mil; Garra Importadora e Logística, R$ 25 mil; Maq Lar Refrigeração, R$ 22 mil; Excim Importação e Exportação, R$ 20 mil; Delalux Logística, Importação e Exportação e Price Importação, Comércio e Exportação Ltda, R$ 15 mil; Log Trading & Supply Chain Ltda, R$ 12 mil; CMPC Celulose Riograndense, R$ 8 mil; e Lodisa Logística e Distribuição S/A, R$ 6 mil.
 
O setor de comércio exterior não foi o único que recorreu ao escritório de negócios do ex-governador. Vários sindicatos e entidades de empresários aparecem no rol de pagamentos da Éconos: Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Espírito Santo (Setpes), que repassou R$ R$ 148 mil; Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GV BUS), R$ 50 mil; Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais (Sindirochas), R$ 30 mil; Associação dos Comerciantes de Material de Construção (Acomac-ES), R$ 15 mil; Associação Empresários da Serra (Ases), R$ 15 mil; Sindicato do Comércio Distribuidor e Atacadista (Sincades), R$ 15 mil; Associação Empresários de Vila Velha (Asevila), R$ 13 mil; Sicoob Credirochas, R$ 12 mil; e Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado, R$ 11,9 mil.
 
Para não deixar dúvidas sobre a veracidade da lista dos clientes da Éconos, já que o governador eleito afirmou na entrevista que a lista seria “inventada”, Século Diário republica a relação de clientes que operaram com a consultoria
 
(Com informações de Nerter Samora)

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