Uma confluência de fatores negativos, como o excesso de oferta, crise na economia europeia e a inauguração de novos projetos, podem puxar para baixo o resultado das empresas de celulose na América Latina. É o que aponta o relatório da consultoria Fitch Ratings sobre o mercado da commodity na região. Este cenário externo deve impactar os resultados da Aracruz Celulose (Fibria), que mantém uma planta industrial no Espírito Santo.
De acordo com o relatório publicado nesta quarta-feira (17), os fatores negativos devem alterar a qualidade do crédito das companhias de celulose nos próximos dois a três anos. Trocando em miúdos, o cenário internacional pode afetar o desempenho das empresas do setor. Apesar das pressões sobre os custos de produção em todo mundo, o baixo custo de produção da fibra na região segue como uma vantagem comparativa.
“O ano de 2012 tem sido difícil para as empresas de papel e celulose da América Latina. A demanda por celulose foi baixa, o que resultou em um fraco ambiente de preços. A dívida se elevou em termos absolutos e relativos devido ao fraco fluxo de caixa operacional durante os primeiros nove meses do ano”, comentou Joe Bormann, diretor-executivo da consultoria na América Latina.
Esse ambiente de preços em baixa tem um maior peso na Aracruz Celulose, que possui um alto endividamento após as perdas registradas no último semestre de 2008. Na ocasião, a ex-transnacional quase foi à falência e foi alvo de uma operação que terminou com a fusão com o grupo Votorantim, resultando na criação da Fibria – sediada hoje no estado de São Paulo.
Para a consultoria, as pressões sobre o custo devem continuar ou até se intensificar nos anos de 2013 e 2014, à medida em que a oferta de celulose de mercado de fibra curta aumente. A análise leva em consideração a entrada em operação de três novas fábricas de celulose no continente. “Na ausência de fechamentos ou de paradas programadas coordenadas, o fluxo de caixa livre pode continuar sobre pressão”, avaliou Bormann.
No longo prazo, a consultoria vislumbra um cenário menos crítico às empresas do setor. O texto cita que os baixos custos da fibra continuarão sendo uma vantagem competitiva para os produtores de celulose na América Latina. Em parte, a diminuição de despesas na produção se deve à substancial propriedade de terras e florestas, uma vez que a demanda por terras é alto por parte das indústrias que vão desde grãos até biocombustíveis.
No Espírito Santo, a Aracruz mantém 174 mil hectares, segundo dados divulgados pelo governo do Estado. Não é informado se esse número inclui as áreas do programa de fomento da companhia, que dá assistência técnica e material para que os pequenos e médios proprietários de terra produzam eucalipto – principal matéria-prima da celulose.