A Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) abriu seleção para contratação de profissionais interessados em trabalhar em desenvolvimento local nas comunidades quilombolas da região do Sapê do Norte, no Espírito Santo. A ação é uma parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que tem o objetivo de realizar a identificação de sementes crioulas e seus usos tradicionais, gerando visibilidade para a produção agrícola quilombola nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra (norte do Estado).
Os trabalhos serão realizados ao longo de dois meses e relacionarão a luta pelos direitos territoriais à defesa da segurança alimentar e nutricional e da agroecologia. Além das atividades no norte, estão previstas atividades na sede da Fase em Vitória. Para as funções na Capital, a federação seleciona dois profissionais: um deles com experiência na realização e sistematização de pesquisas; e outro para produção de materiais audiovisuais, impressos e para a internet, com experiência no campo da Comunicação Popular.
A Fase solicita a apresentação de uma proposta técnica e financeira; um currículo; e de uma comprovação de experiência em projetos sociais, documentos que deverão ser entregues até o próximo dia 14 de novembro, na sede da Fase (rua Graciano Neves, 377/2º Piso, Centro, Vitória/ES) ou pelo email: [email protected]. Uma das exigências da seleção é que os interessados conheçam a região do Sapê do Norte, entre os municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Em caso de dúvidas, os candidatos podem ligar para (27) 3322-6330. Também está disponível no site da Fase uma “Cotação Prévia de Preço para Contratação”, além de detalhes sobre a seleção.
Em 2013, a Fase fez um estudo sobre as condições de segurança e soberania alimentar dessas comunidades quilombolas. Neste estudo, foi apontado que a monocultura extensiva de eucalipto, responsabilidade exclusiva da Aracruz Celulose (Fibria), é a principal causa da perda das condições nutricionais e da erosão cultural das famílias quilombolas e pelos impactos à saúde, principalmente por conta do uso de agrotóxicos e do empobrecimento da terra de cultivo; e mudanças no regime alimentar e na cultura tradicional desse povo.
No estudo, foi constatado que as novas gerações de quilombolas têm uma variedade alimentar bem menos diversa do que aquela rica e variada da qual dispunham os quilombolas mais velhos quando crianças. Só para se ter uma ideia do impacto da Aracruz Celulose (Fibria) nessa região, até os anos 70, 12 mil famílias quilombolas habitavam comunidades rurais no norte do Estado. Atualmente, a Comissão Quilombola do Sapê do Norte calcula 1.500 famílias existentes.
Mesmo com essa invasão agressiva, os quilombolas mantêm estratégias de resistência na região. Iniciativas como os quintais produtivos agroecológicos e o trabalho de resgate de variedades de sementes e mudas, que vêm sendo feito em conjunto pela Fase e a Comissão Quilombola do Sapê do Norte capixaba, são exemplos disso.