Pesquisa divulgada nessa sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o Brasil ainda não superou a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho. No Espírito Santo, não é diferente. O levantamento, intitulado” Estatística de Gênero”, que considera os resultados do Censo Demográfico 2010, aponta que as mulheres recebem em média 68% da remuneração dos homens no Espírito Santo.
Apesar da remuneração inferior, o nível de escolaridade das mulheres se mostrou superior ao dos homens no Estado. Dentre os capixabas com ensino superior completo, 19% são mulheres e 11% são homens. Entre os que não concluíram o ensino fundamental, as mulheres estão em 37%, enquanto os homens representam 46% dos não escolarizados. No Brasil, os números são muito parecidos aos apresentados no Estado.
“No mercado de trabalho essa situação vem a partir do processo de desvalorização da mulher e a criação de sua identidade, culturalmente baseada na desigualdade de gênero”, avalia Edna Martins, representante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo.
Para Edna, as políticas de inclusão da mulher na educação ainda não se reverteram em igualdade no mercado de trabalho. Um dos motivos é a dupla jornada de trabalho feminina. “O papel social da mulher ainda é de cuidado à vida humana. Elas precisam lidar com a jornada de trabalho e com o cuidado à família”, afirma a militante. O número insuficiente de creches públicas também contribui para o papel de “malabarista” das mulheres.
A pesquisa “Estatística de Gênero” confirma essa dificuldade das mulheres de lidar com a dupla jornada. Ela aponta que a taxa de mulheres que trabalham, reduz significativamente conforme o número de filhos da mulher aumenta. No Estado, 59% das mulheres que possuem um filho trabalham, mas essa taxa cai para 40% quando analisamos as mulheres com três filhos ou mais.
Outro motivo é a falta de percepção dos governos diante da desigualdade de gênero. A feminista aponta no âmbito federal já é possível perceber avanços nesse sentido, mas o Estado ainda “não leva em consideração, na construção das políticas públicas, a desigualdade de gênero”.
Edna aponta como exemplo os cursos de capacitação oferecidos às mulheres, sempre voltados a atividades tradicionalmente femininas (costura, artesanato, culinária) e também tradicionalmente mal remuneradas.
Segundo a pesquisa, dentre os 104 mil trabalhadores domésticos do Estado, 98 mil são mulheres, enquanto apenas 8 mil são homens. “O Estado é reconhecido na área do petróleo, mas temos poucas mulheres capacitadas para essa área”, completa.
A representante do Fórum afirma que essa situação precisa ser tratada pelos governos a partir de políticas públicas que trabalhem para superar os abismos sociais entre homens e mulheres. “A construção da identidade feminina passa pela desigualdade. Os governos precisam reconhecer isso e agir na intenção de superar a desigualdade entre gêneros”.