Está finalizada a primeira etapa de coleta de dados do estudo que avaliará a relação entre a elevação da temperatura do mar e as espécies de tartarugas marinhas. A coleta dos primeiros dados será destinada a análises e será dada continuidade à segunda fase do estudo, que consiste na instalação de 48 termômetros pequenos nas praias, para medir a temperatura dos ninhos de tartarugas-cabeçudas.
Há um ano, foram instalados aparelhos para medir a temperatura da areia nas praias dos estados do Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os pesquisadores vão observar a relação entre a temperatura do ar, da areia e do mar, a distância da vegetação, a temperatura dos ninhos, o desenvolvimento dos ovos e o sexo dos filhotes gerados.
O trabalho é desenvolvido pela pesquisadora Mariana Fuentes, da James Cook University, da Austrália, que trabalha com as equipes do Projeto Tamar. De acordo com a pesquisadora, a elevação da temperatura no mar dificilmente é percebida pelas pessoas, mas interfere em todo o ecossistema marinho e terrestre. Como o sexo dos filhotes de tartarugas marinhas é definido pela temperatura da areia onde está o ninho, as mudanças para mais ou para menos poderão afetar as populações dessas espécies no futuro.
A pesquisa também poderá identificar as regiões mais quentes e as mais frias na costa brasileira, bem como saber quanto tempo levará para que haja a interferência no ecossistema, ou se as tartarugas já estão sendo afetadas. Os resultados das análises vão ajudar a criar estratégias de conservação para enfrentar os eventos climáticos que possam vir a afetar as tartarugas.
Para analisar os impactos das mudanças climáticas sobre as populações de duas espécies de tartarugas marinhas, cabeçuda (Caretta caretta) e de-pente (Eretmochelys imbricata) os pesquisadores instalaram em 2013 sessenta aparelhos para medir temperatura nas praias onde o Tamar tem bases de pesquisa e conservação. O estudo vai gerar dados que serão comparados com informações de mais de 20 anos de pesquisa sistematizada sobre tartarugas marinhas no Brasil.
Em um comparativo entre as temporadas 2012/2013 e 2013/2014 de desova das tartarugas marinhas, no Espírito Santo houve um aumento de 34,14% no registro dos ninhos de desova. Em um comparativo nacional, na temporada 2013-2014 o aumento foi de 14% no número de ninhos protegidos em relação à temporada anterior. A quantidade de tartarugas flagradas no litoral também aumentou em 37,28% e houve uma queda de quase 1% na mortandade de animais registrada no período. Em Vitória, o programa de captura, marcação e recaptura é realizado com o uso de redes de espera, e todos os animais encontrados recebem um anel de metal nas nadadeiras, para identificação e estudo de seu deslocamento e de hábitos comportamentais, além de dados sobre crescimento e taxa de sobrevivência.
Atualmente, as principais ameaças à continuidade da reprodução dos animais no Estado são os projetos portuários da Nutripetro e do Porto Manabi, previstos justamente para a área de desova das tartarugas. Alterando o habitat natural e prejudicando a locomoção das tartarugas até a área, a construção desses megaempreendimentos podem pôr fim ao longo trabalho do projeto, que começou a apresentar bons resultados. O Projeto Tamar considera que as áreas de fundeios construídas nos portos geram extensas áreas de exclusão de pesca, o que limita ainda mais os pescadores a poucas áreas, próximos aos estuários e reservas.