Composto por 65 poemas, o livro Vácuo é uma espécie de lado A da produção de Caê escrita entre os anos de 2007 e 2014. Sim, quase como numa condição de disco de vinil. E talvez os leitores até tenham acesso, algum dia, ao lado B do livro. Não se sabe. A única certeza é de que o hiato do escritor pode ser bem mais curto após o lançamento de Vácuo, já que além dos poemas já escritos, ele trabalha atualmente em um novo livro, o Encontro você no 8° round.
Com lançamento já marcado, Vácuo sairá pela editora capixaba Cousa e terá evento de lançamento a partir das 19h30 do dia 9, no Bar/Café Doca 183, Centro de Vitória. Foram sete anos de produção em que, por vezes, Guimarães conciliou o trabalho de jornalista, redator e assessor de imprensa com a escrita literária.
Na entrevista a seguir, Caê fala sobre o processo criativo e seletivo do livro. Além dos grandes escritores capixabas que influenciam a construção de sua escrita. Entre eles José Irmo Gonring. Ele aborda ainda as temáticas da obra, sua amizade com Francisco Grijo – que assina o posfácio – e fala sobre Vácuo não ser uma chave para o conhecer inteiramente como pessoa, mas sim como autor.
Século Diário: Durante o período de produção (de 2007 a 2014) você acaba mexendo nos textos que já foram produzidos há alguns anos ou eles entram exatamente como estavam desde a época de criação?
Caê Guimarães: – O processo varia. Há poemas que chegam prontos. Alguns, mesmo que longos, após escritos sofrem pouquíssimas alterações. Há outros que levam muito tempo em decantação (ou fermentação) e são escritos e reescritos muitas vezes até que eu os considere fechados.
Meu último livro de poemas foi lançado em 2006. Nestes últimos oito anos eu produzi muito, na verdade, no começo do processo de edição do Vácuo, percebi que tinha dois livros em mãos, em termos de volume. Fiz a seleção obedecendo a critérios que estabeleci. Aqueles que mais me tocam, ou que julgo melhor resolvidos. Além de certa unidade temática. Depois, propositalmente fiz pequenas alterações que levam os poemas do Vácuo a um diálogo sutil entre si.
– Atuar como jornalista e escritor é trabalhar com a escrita oposta: a busca por imparcialidade no texto jornalístico versus a liberdade criativa do poema. Essas duas linguagens já foram trabalhadas por você de forma a se convergirem?
– Não na poesia. A convergência existe na crônica e na minha prosa de ficção, praticamente inédita em livro (publiquei uma pequena novela intitulada Entalhe Final em 1999; e a coletânea de crônicas De Quando Minha Rua Tinha Borboletas, em 2010). Fico com o Décio Pignatari quando ele afirma que a poesia tem, na imensa maioria das vezes, mais parentesco com as artes plásticas e a música do que com a literatura. Na verdade escolhi o jornalismo como profissão porque escrevo desde menino. A identificação foi óbvia, pensei: vou escolher um ramo no qual a palavra escrita seja a principal ferramenta de trabalho. Mas também acontece que nos últimos cinco anos atuei como redator e roteirista de TV e rádio. No entanto, acredito que a alma de jornalista a gente não perde. Essa capacidade de contar histórias ou fatos em textos objetivos e mais sintéticos, o uso dos períodos curtos, lição que aprendi com um dos meus mestres, o professor e jornalista José Irmo Gonring, isso se manifesta, sim, na minha prosa. Vejo isso no livro Encontro Você no 8º Round, romance no qual estou trabalhando.
– Os temas abordados no livro refletem a sua rotina ao longo desses anos de produção? Você diria que é possível ler o livro e entender quem era/foi você durante esses anos?
Diria que não. Ou não completamente. Primeiro porque não acredito em poesia – o mesmo vale para a prosa – propositalmente confessional. Assim como a arte panfletária é limítrofe, até mesmo porque fazer arte é um gesto político em si, vejo textos meramente confessionais com tédio e desinteresse. Mas, é claro, qualquer artista derrama em sua obra a própria experiência. Tudo isso pode e deve estar espalhado aqui e ali, mas comporiam muito mais um mosaico craquelado do que um autorretrato verossímil. Além disso, a vida de uma pessoa será, sempre, muito mais complexa do que uma obra de arte, seja ela musical, cênica, plástica ou verbal. E sobre entender quem fui/sou neste tempo, isso é um processo. Ainda estou debruçado sobre ele (risos). Espero, então, que o leitor não mergulhe no Vácuo buscando o cara que o escreveu. Mas, como creio que deva ser o contato com toda obra de arte, que mergulhe buscando a si próprio.
– O escritor Francisco Grijó foi quem escreveu o posfácio do Vácuo. Por que o escolheu e qual a relação de vocês como escritores?
– Grijó é meu amigo. Ele é de uma geração anterior à minha. Uma geração de grandes prosadores e poetas como Sergio Blank, Waldo Motta e o saudoso Miguel Marvilla. São caras que eu lia, juntamente com Reinaldo e Luís Guilherme Santos Neves, Oscar Gama Filho, Renato Pacheco, Marcos Tavares, Paulo Sodré, Fernando Tatagiba e o já citado José Irmo. Mas os quatro primeiros foram os caras que generosamente leram meus primeiros escritos, por afinidades naturais e amizade. E todos foram muito generosos, no sentido de abrir portas, indicar caminhos, conversar sobre literatura, poesia, e indicar autores que eu não conhecia. Mas, além da amizade, o convidei também porque ele sempre me leu com muita atenção e já havia publicado comentários sobre meu trabalho em seu blog, o 'Ipsis Literis', e em crônicas na imprensa. E, mais que nada, sou admirador da sua obra. Leio e releio os contos de Licantropo, me deliciei com Histórias Curtas para Mariana M e com Todas Elas Agora.
Pode parecer reducionista o comentário que farei, mas Grijó é, em muitos aspectos, nosso Rubem Fonseca. Ele pode até discordar do que digo aqui, e se o fizer dirá na lata. E isso caracteriza amigos de verdade. Por todos estes fatores o convidei para fazer o texto. E o que seria uma orelha, com as bênçãos de Eurídice e seu pano vermelho virou o posfácio. Que, por sinal, desvenda de forma muito precisa o que é este mergulho que fiz no Vácuo. E que agora divido com os leitores.
Lançamento
O evento de lançamento do livro Vácuo, de Caê Guimarães, será no dia 9 de dezembro, a partir de 19h30, no Bar/Café Doca 183 – Rua Gama Rosa nº 183, Centro, Vitória.