Apenas a Praia da Costa, em Vila Velha, teve a qualidade de sua areia considerada satisfatória em uma pesquisa que verificou o índice de contaminação das areias das praias por cloriformes e enterococos, microorganismos presentes nas fezes. Os dados foram apresentados pelos professores Marcus Côvre e Danilo Camargo dos Santos, do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, aos deputados da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa (Ales)
O projeto de monitoramento e avaliação da qualidade sanitária das areias das praias mais frequentadas em Vitória vem sendo realizado há 14 meses nas praias da Ilha do Boi, Camburi e Curva da Jurema, e há dois meses na Praia da Costa, em Vila Velha. Os principais pontos de contaminação detectados pelas análises bacteriológicas foram a região próxima aos quiosques na Curva da Jurema e a área próxima ao píer de Iemanjá, em Camburi. Na constatação da pesquisa, foi apresentado que mais da metade das amostras de areia coletadas nas praias de Vitória apresentaram índices alarmantes de contaminação fecal.
A pesquisa chegou à conclusão de que as praias de Vitória estão sob influência de material fecal e que a areia das praias de Camburi (próxima ao píer de Iemanjá) e da Curva da Jurema (próxima aos quiosques) apresentam riscos sanitários aos frequentadores. Os enterococos foram os responsáveis pela maioria das campanhas terem apresentado classificação de risco para a areia. Por isso, os professores recomendam que eles sejam utilizados como parâmetro na análise da água também, em paralelo ou em substituição aos cloriformes, já que os esterococos são mais resistentes à salinidade da água.
Em sua fala, os professores ressaltaram que o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), atualmente, é responsável pelo monitoramento da balneabilidade de todas as praias do Estado, com exceção da Capital, onde o município assumiu esse compromisso. Mas as análises avaliam apenas a qualidade da água e não da areia e, como retratou Côvre, muitas pessoas vão à praia e não tomam banho, mas ficam em contato com a areia.
A obrigatoriedade de monitoramento da água é prevista na Resolução Conama 274/2000. Quanto à areia, porém, a legislação apenas recomenda a avaliação da qualidade sanitária. Segundo os professores, o único município que monitora a areia das praias é o Rio de Janeiro, cidade que analisa a areia quinzenalmente. Mas não há medidas corretivas, apenas o monitoramento.
Para os pesquisadores, a solução para a descontaminação da areia é que todas as residências façam a ligação com a rede coletora de esgoto. Os frequentadores das praias também devem ter mais consciência e recolher seu lixo, além de não levar seus animais domésticos para a praia. Outra sugestão é a retirada da camada superficial de areia para que a camada mais profunda receba a radiação solar que, segundo os pesquisadores, faz o controle microbiológico naturalmente.
Durante a reunião da Comissão de Saúde, os deputados também receberam o técnico químico Niucesar Estevam Vieira, que desenvolveu uma tecnologia capaz de fazer a assepsia da areia de praias, parques, clubes e áreas de lazer. A fórmula, que já foi patenteada e registrada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não foi revelada, mas, segundo seu desenvolvedor, ela atinge uma profundidade de sete centímetros, suficiente para eliminar os microrganismos transmissores de doenças, como larvas, fungos e bactérias.
Para o professor Danilo Camargo, produtos químicos poderiam ser tóxicos aos seres vivos. Ele afirmou, no entanto, que o produto desenvolvido por ele não é tóxico. Já o professor Marcus Côvre ressaltou que o produto deve ser eficiente, mas é melhor para ambiente fechados, uma vez que, nas praias, pode eliminar microorganismos importantes para o ecossistema.