Com pranchas de surfe e cartazes marcados com frases de “Fora Manabi” e “Regência Viva”, um grupo de “capixabas e amantes do Espírito Santo”, como se intitulam, realizou ato em frente ao Palácio Anchieta, no Centro de Vitória, na tarde desse domingo (21), para alertar a população sobre os impactos dos empreendimentos da Manabi Logística S/A previstos para o distrito de Degredo, em Linhares, norte do Estado.
A atividade marcou o início de uma campanha que tem como foco a mobilização nas redes sociais, com objetivo de fazer com que o tema alcance o maior número possível de pessoas, despertando a visão crítica em relação ao “desenvolvimento a qualquer custo”, que desconsidera as comunidades tradicionais e altera os aspectos sociais e ambientais que imprimem identidade ao povo capixaba.
O movimento lembra que o projeto do superporto da Manabi é inadequado para o norte do Estado, não só por decretar o fim da pesca artesanal, como devido à sua instalação em uma área ambientalmente sensível. Somente para o início das obras do empreendimento, será necessária uma dragagem de 31 milhões de toneladas de areia.
Em Regência, vila de pescadores vizinha a Degredo, que sofrerá os mesmos impactos do empreendimento, é desenvolvido há mais de 30 anos um trabalho de recuperação das tartarugas-de-couro ou tartarugas-gigantes pelo Projeto Tamar, que também será inviabilizado com a instalação do porto, já que as tartarugas terão uma alteração drástica em sua área de desova, nas correntes marítimas e no fluxo marítimo costeiro.
Essas mudanças, somadas à devastação de uma grande extensão de praias, afetarão ainda as condições para a prática de surfe no local, que hoje conferem a Regência o título de uma das principais praias para o esporte no País.
Outro sério problema é a previsão de migração de mil trabalhadores para Degredo, que sequer tem esta população. Atraídos pelas promessas de emprego, ofertadas somente durante as obras, esses trabalhadores ficarão depois sem alternativas de sustento, passando a engrossar os bolsões de miséria na região. As consequências são o aumento da criminalidade e o esgotamento dos serviços básicos, como saúde, segurança e educação. Mesmo processo foi registrado na Grande Vitória, com a construção do Porto de Tubarão, controlado pela Vale e ArcelorMittal.
Na última semana, em reunião com representantes da Manabi, os pescadores mais uma vez manifestaram rejeição ao empreendimento, por entenderem que não resultará em qualquer benefício para as comunidades da região.
Há, no entanto, um movimento contrário ao desejo da maioria dos moradores. Lideranças comunitárias, seduzidas pela Manabi, articulam encontros com a empresa para fechar alianças em troca de promessa de empregos e agrados, como apontam denúncias. O acordo já estaria inclusive documentado.
A empresa também conta com empenho dos órgãos públicos e da classe política e não tem dúvida de que vai conseguir implantar seus projetos de porto, ferrovia e mineroduto no norte do Estado. Mesmo sem as licenças ambientais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), já anunciou que iniciará, em seis meses, a concorrência para contratar empresas detentoras de tecnologia. O assunto foi tema de reunião na Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) com indústrias locais de prestação de serviços, no início deste mês.