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???Se eu tenho de avaliar um erro depois disso tudo, meu erro foi lá em 2010???

José Rabelo e Renata Oliveira
Fotos: Leonardo Sá/Porã
 
 
O governador Renato Casagrande (PSB) deixa o governo no próximo dia 1 de janeiro, mas não parece disposto a aceitar a desconstrução de seu legado à frente do Estado nos últimos quatro anos. Embora não se coloque como líder da oposição no Estado, o socialista afirma que não há mais espaço para a unanimidade e que vai se posicionar todas as vezes que seu governo for atacado ou que a falta de transparência e ética forem uma ameaça à democracia no Estado. 
 
Nesta entrevista a Século Diário, o governador admite que o acordo com com Paulo Hartung (PMDB) em 2010 foi um erro. Ele também classifica a decisão de Paulo Hartung de disputar o governo como um ato de traição ao acordo firmado por eles. 
 
Faz também uma avaliação da estratégia de seu adversário na campanha e dos erros cometidos por confiar no acordo de 2010. Ele também avalia sua relação com o PSB no Estado e com o grupo que o apoiou na eleição deste ano. 
 
Com um capital político expressivo e um propósito de fazer a comparação com seu principal adversário, o governador fala da impossibilidade do restabelecimento da unidade, quebrada por Hartung e garante: seu grupo terá candidato em Vitória em 2016, mas não admite que será candidato.  
 
Século Diário – Fazendo uma avaliação das últimas semanas e de toda a tensão em torno da aprovação das contas do seu governo, o desfecho desse episódio representou uma vitória do governador sobre o grupo do governador eleito Paulo Hartung (PMDB). Como o senhor mesmo admitiu, havia uma manobra política em andamento na Assembleia para rejeitar suas contas. Como o senhor avaliou esse processo? Isso o consolida como principal liderança de oposição no Estado a partir de agora?

 

Renato Casagrande – O processo de debate das contas de 2013 apresentou a tentativa de retorno da velha política. A tentativa de usar as instituições para atingir objetivos menores na política. O líder de Paulo Hartung na Assembleia [deputado Paulo Roberto, PMDB], a pedido dele, trabalhou para que houvesse a rejeição das minhas contas, desconsiderando completamente o parecer do Tribunal de Contas, dos conselheiros, dos técnicos e do Ministério Público de Contas. Nunca aconteceu isso na Assembleia Legislativa. A velha política tentou cercear meus direitos políticos, limitar minha ação política e isso extrapolou. O desfecho foi resultado da opinião pública. As pessoas reagiram a essa manobra, a essa tentativa de violência e injustiça, covardia mesmo. As pessoas conversaram com os deputados, pressionaram os deputados e eles não conseguiram votos para derrubar. Se tivessem conseguido os votos teriam derrubado e reprovado minhas contas. Seria um fato histórico no Brasil. Eles não conseguiram o número de votos e tivemos a opinião pública do nosso lado. Quando eu fui e denunciei a manobra, a opinião publica conheceu e reconheceu essa política vingativa.

 

– Quando o senhor chama a imprensa e denuncia a manobra, o grupo de Hartung teve dificuldade em manter outra justificativa. Ficou claro que se tratava de uma manobra política…

 

– Até porque Paulo Roberto só atua por ordem e por posição do futuro governador. Foi nomeado ''líder'' do futuro governo e nada faz sem orientação do futuro governador. Era fundamental que eu fosse explicitar o que estava acontecendo, porque essa era a leitura de todos. Qual foi o resultado de tudo isso? Vitória da justiça, vitória da nova política, fortalecimento da Assembleia. Houve o fortalecimento de um grupo de parlamentares na Assembleia Legislativa que teve a coragem de fazer o debate, o enfrentamento. Isso é um sinal excepcional para a política capixaba. Isso dá oportunidade à Assembleia de continuar nessa posição de independência sem se submeter a interesses menores na política capixaba.

 

– Como o senhor se sentiria se suas contas fossem rejeitadas?

– Violentado, injustiçado, porque eu não poderia mais confiar em uma instituição tão importante como a Assembleia Legislativa. Por isso eu confiei sempre, porque eu tinha plena convicção de que a Assembleia não ia se submeter a uma força externa que servisse de chicote para me atingir. Serviu agora para mim, mas serve também para postura das demais instituições públicas e privadas. Nenhuma instituição pode servir de manobra política, nem instituição pública, nem instituição privada. Que isso seja um ponto de referência para as relações que a gente tem de estabelecer através do diálogo. Eu governei durante quatro anos usando o diálogo como instrumento de convencimento das instituições públicas e poderes e da sociedade civil. Acho que essa deve ser uma exigência da sociedade, porque se tentaram fazer comigo hoje, podem tentar fazer com qualque indivíduo ou instituição amanhã. Esse ponto de referência deve ser comemorado para que a gente demarque o que a gente quer deste relacionamento com as instituições.   

– Na coletiva da prestação de contas, na sexta –feira (19), o senhor reafirmou sua confiança na Assembleia e conclamou a sociedade para que entendesse o que estava acontecendo por trás daquela manobra na Assembleia. Depois de tudo que aconteceu, o senhor se consolida como a liderança em condições de liderar a oposição no Estado?

–  Eu me coloco, e já me colocava antes do episódio e me coloco agora, como um defensor daquilo que eu produzi e estou produzindo no governo. Vou ser um defensor dos resultados do governo, do modelo de gestão, da transparência, da ética. Vou ser um defensor da forma como eu governei. Se alguém  quiser atacar o produto do meu governo vai encontrar alguém aqui para fazer a defesa. Se alguém quiser governar de outra maneira, sem ética, sem diálogo, vai encontrar aqui alguém para contestar. Não quero me colocar como opositor por oposição apenas, mas como alguém que vai colocar a defesa desse modelo baseado na ética, no respeito às instituições, na transparência e nos resultados de governo. Toda vez que que fugir disso, exercerei meu papel de opositor. Estou credenciado para isso. A população não me deu a vitória, mas me deu uma votação expressiva. Estou credenciado a fazer a defesa desse modelo que eu estou implantando no Espírito Santo.  

 
 
– Ainda sobre o episódio da Assembleia, há a impressão de que o governador eleito substimou o senhor, acreditando que esse processo de desconstrução já teria sido suficiente para chegar naquele desfecho da Assembleia, conseguindo a rejeição de contas, que seria a coroação desse discurso…

– Acho que eles erraram na mão. Acho que se eles rejeitam as contas…

– Mas o senhor não acha que Paulo Hartung o subestimou?

 

– Não posso avaliar isso, mas a arrogância fez com que eles avaliassem primeiramente que era possível avançar na rejeição das minhas contas e que isso traria prejuízo a eles, que ninguém iria imputar ao governador eleito essa responsabilidade. Acho que podem ter subestimado a avaliação, sim. Mas se eles avançam e conseguem rejeitar as minhas contas, poderia ser pior para eles. Ficou muito nítida a manobra política, se eles me transformassem em uma vítima, rejeitando minhas contas, iria ser pior para eles. Havia um parecer do Tribunal de Contas e vem um deputado dizer [Euclério Sampaio, PDT] “Pra que existe a Assembleia, se a Assembleia não pode fazer o que quiser?”. Então, para quê existe o Tribunal de Contas, se é o órgão de assessoramento da Assembleia e a Assembleia não segue a orientação do Tribunal de Contas? Houve um confronto desses deputados à instituição Tribunal de Contas. Mas se avançam na rejeição de conta, iriam me dar instrumento e bandeira política para continuar discutindo esse tema por muito e muito tempo. 
 
– Nota-se que desde antes do processo eleitoral, com a divulgação do relatório sobre as finanças do Estado, passando pelo processo eleitoral e culminando com o episódio da análise das contas de 2013, há uma tentativa de desconstrução de sua imagem como gestor. A sociedade esperava que com o fim da eleição esse processo acabasse, mas o governador eleito continua atuando atacando sua imagem. A vitória na Assembleia corta essa linha de desconstrução, mas como o senhor vê esse movimento e qual o objetivo disso?

– Esse falso argumento foi usado para justificar a candidatura dele [Paulo Hartung]. Ele cometeu mais um ato de traição. Ele não tinha o que argumentar, porque o meu governo estava todo em dia, então forjou um argumento que deu a ele a muleta para ser candidato e justificar a traição que ele estava cometendo porque  a equipe dele ficou no meu governo até junho. Ele tinha que ter uma muleta para se apoiar e justificar a traição. Depois foi usada na campanha e depois da campanha continuou a ser usada. É o mesmo argumento que agora está perdendo força.

– Hartung e sua equipe começam a mudar o discurso. Já admitem que podem manter os empréstimos que o senhor adquiriu…

– É isso. Agora os empréstimos que fiz são bons. O Estado está organizado. Os programas estão em dia, vou deixar diversas obras em andamento , vou deixar projetos prontos, deixar as obras do governo federal, que eram um gargalo neste Estado, todas resolvidas. Vou deixar as BRs 101 e 262, o Aeroporto, o Contorno do Mestre Alvaro, a 447, portos, tudo encaminhado na relação com o governo federal. Vou deixar projetos importantes com a iniciativa privada, em execução ou contratados, vou deixar o plano de mobilidade metropolitano. O argumento que ele forjou desde a pré-campanha até agora, vai a cada dia perdendo força. Você vê que a equipe dele que assim que terminou a eleição começou a dizer que iria atrasar salário, já saiu desse assunto. A equipe dele e ele que questionaram empréstimos já estão preocupados se eu vou deixar os empréstimos em dia para que eles possam consolidar esses empréstimos. Vou combater com veemência e energia esse falso argumento, sempre. Sempre que algum membro do futuro governo colocar esse argumento, eu combaterei. Eu tenho informação. Meu governo é o que mais fez investimento na área social e em infraestrutura da história deste Estado. Tenho dados, tenho produto e tenho condição de fazer a defesa deste legado e é isso que estou fazendo e estarei à disposição para fazer a partir de 1º de janeiro do ano que vem. 

– Quando o governador eleito anunciou a equipe de transição, disse que esperava uma passagem de governo republicana da parte do senhor, mas a equipe de Hartung, desde o começo, tinha como objetivo desconstruir o seu governo…

– Porque isso tem o objetivo de facilitar o trabalho dele a partir do ano que vem. Essa é mais uma prática da velha política, que para se projetar, para se sobressair precisa destruir alguém. Não consegue se projetar e conviver com alguém que teve resultado e teve sucesso. Eu não me reelegi, mas o meu governo é respeitado. Sou uma pessoa respeitada no Estado do Espírito Santo. Ele [Hartung] vai ter de conviver com isso. Não adianta querer fazer a desconstrução, porque eu não vou deixar.

 
A partir de 1º de janeiro o senhor não estará mais no cargo de governador e estando no cargo é mais fácil fazer essa defesa. Qual a estratégia para defender seu legado a partir de janeiro?

– Eu estou pedindo a todos os meios de comunicação que quando houver algum assunto relacionado ao meu governo, que me deem oportunidade de fazer o contraponto, fazer a contestação. Estou pedindo à imprensa, porque vamos entrar em um momento em que eu não terei mais o cargo de governador, mas terei todas as informações, continuo sendo uma liderança política, vou estar em um cargo partidário, presidindo a Fundação João Mangabeira [do PSB]. Também terei oportunidade de debater temas em âmbito nacional. O que estou pedindo é a oportunidade de fazer o contraponto de qualquer inverdade que for dita em relação ao meu governo. Vou continuar confiando nos deputados descentes, justos. Nos deputados da nova legislatura . Eu tenho certeza que a Assembleia não vai permitir que nenhuma injustiça seja feita no meu caminho. Tenho plena convicção que de terei oportunidade de debater com os futuros deputados que foram reeleitos e eleitos na defesa do meu governo e de todos os capixabas.

Então, politicamente, o senhor também vai trabalhar na defesa de seu governo, buscando aliados…

– Vou estar principalmente nisso. E vou estar articulando o nosso movimento político …

– “Nosso”, que dizer do PSB…

– Não só do PSB, nosso movimento político. O projeto que eu quero ajudar a coordenar e organizar no Estado. Vou conversar com lideranças, dirigentes partidários, prefeitos, vereadores, vou dialogar com as lideranças desse Estado porque tenho uma forma de fazer política que tem de ser defendida. E estarei me movimentando com essas lideranças políticas.  

 

– Mas o governador eleito tem um jeito de fazer política muito conhecido no mercado de relação vertical, que chega ao controle das lideranças. Viveu-se nos oito anos do governo Paulo Hartung, adentrando para o seu mandato, um sistema de unanimidade política no Estado, em que a oposição era descreditada e anulada. O senhor acredita que há espaço para esse tipo de movimentação que pretende fazer diante da possibilidade de retorno deste controle? 

– É claro que é possível, sim. Só não é possível fazer política quando não quisermos fazer política. Eu não fui o causador do fim da unidade política, quem foi o causador do fim da unidade política foi o futuro governador. Ele que, na minha avaliação, já era candidato a governador desde quando saiu do governo, em 2010… 

– Mas essa avaliação, o senhor faz agora, não é? Quando assumiu o governo o senhor não desconfiava disso…

– A minha avaliação é de agora, porque os fatos vão acontecendo e você tem mais nitidez para fazer a avaliação. Na minha avaliação, agora, ele já era candidato a governador em 2010 ou colocava a hipótese de ser candidato a governador. Desde que ele deixou de ser candidato ao Senado, passou a apoiar Ricardo Ferraço [PMDB]. Depois viu que haveria uma disputa muito dura entre mim e Ricardo Ferraço e incentivou uma aliança entre mim e Ricardo Ferraço. Meu erro não foi ter mantido o grupo de Paulo Hartung em uma gestão compartilhada de 2011 até junho de 2014, não. Porque eu sou uma pessoa que assumo o compromisso e cumpro o compromisso. Meu erro foi ter aceitado o acordo em 2010. Em 2010, eu podia disputar a eleição, podia ganhar ou podia perder, mas podia disputar a eleição sozinho. 

 

–  E o senhor estava bem na disputa. Hartung temia que o senhor pudesse derrotar o então candidato [Ricardo Ferraço] do Palácio Anchieta?

– Eu estava bem. Podia ganhar ou perder, mas podia disputar a eleição sozinho. Se eu tenho de avaliar um erro depois disso tudo, meu erro foi lá em 2010. Eu podia ter disputado sozinho, mas quando aceitei aquele acordo [de fechar aliança com Hartung e ser o candidato do Anchieta], assumi o compromisso de um governo compartilhado, com o compromisso de defender essa unidade. Defendi essa unidade até a hora que ele se lançou candidato. Não olhei para o retrovisor, trabalhei implementando meu jeito de governar, meus compromissos, aumentando os investimentos na área social, mas ele tomou a decisão de praticar um ato de traição na hora em que ele se lançou candidato contra a vontade das forças políticas do Estado. Mas como todos nós homenageamos o governo dele por oito anos, foi homenageado no nosso governo, o tempo de confronto foi bom. E aí temos de reconhecer que em termos de estratégia a dele foi correta, porque se eu estabelecesse um confronto antes eu teria mais chances de ganhar a eleição deste ano. Tanto é que em três meses de confronto, de comparações de governos, me fizeram ganhar a eleição na Grande Vitória, que foi onde o debate se intensificou mais. Mas onde não teve um debate político [se referindo ao interior], porque o eleitor é mais distante da política, ele vence porque o nome dele tem um recall maior. Ele conseguiu as eleições onde o debate não foi tão intenso. A estratégia dele foi exitosa em termo de resultado, mesmo que eu não concorde com ela porque isso não é do meu caráter. Mas em termos de estratégia foi correta, porque ele evitou o confronto. O confronto ficou em três meses em uma realidade em que o eleitor decide mais perto da eleição. 

 

– Essa aliança parece ter sido feita pelo senhor não com 100% de segurança, mas com o pé atrás. Quando começa seu governo, os leitores de Século Diário demonstram uma certa decepção com o governo compartilhado. Eles apontam como um erro do senhor. Começam a surgir crises ligadas aos aliados de Hartung acomodados no seu governo. Parece que havia “ratos na cozinha”. A sensação das pessoas é que o senhor queria avançar, mas havia algo que puxava o seu governo para trás…

– O que tinha que puxava, vamos lá… Era o desejo das forças políticas do Estado, partidos, deputados, prefeitos, vereadores, sociedade, de que nós continuássemos juntos. Tanto é que quando o ex-governador, à época, começou a ensaiar um certo movimento de entidades de representatividade da sociedade, acabei entrando neste movimento, de ouvir as pessoas, e que o ideal era de que ficássemos juntos. O apelo de todos era de que trabalhássemos para manter a unidade e o então ex-governador dizendo que não disputaria o governo, que disputaria outro cargo, ou que não seria candidato a nada. Acabamos entrando neste ambiente, de boa fé de todo mundo e que acabou nos levando a uma armadilha que não deu tempo de sair. 

– O senhor acredita que pagou contas que não eram suas nesse pacto de governo compartilhado?

– Pagar contas não. Mas eu não fiz um governo de comparações e enfrentamento que eu poderia fazer. Não fiz um governo de levantamento de contas que eu assumi, não fiz um governo colocando gente que estava de fato comigo, formando um movimento político mais fiel e mais comprometido. Mantive gente que cumpria um horário na administração pública, mas não estava ali de corpo e alma, como a gente precisa no projeto político [se referindo aos aliados de Hartung que foram acomodados no governo do PSB]. Mantive gente que trabalhava de 8h a meio dia e de 14 às 18 horas. E na política isso não funciona. Você tem de trabalhar todos os dias da semana. 

– Isso minava energias do senhor?

– Sobrecarregava o governador e outras pessoas do governo que tinham que gastar energia para suprir e complementar o trabalho de quem estava ali cumprindo uma carga horária apenas, esperando ou buscando um outro projeto que lhe desse ânimo. 

– Com quase três meses do fim da eleição, o senhor já deve ter refletido bastante sobre os motivos de sua derrota? 

– Eu faço isso, sim, mas sou muito prático também, já estou olhando para frente. Já falei aqui por que eu perdi a eleição. Minha avaliação é que eu perdi a eleição no recall.  

– O senhor ganhou em quatro municípios do interior. Como o senhor avaliou esse resultado ?

 

– Não sei exatamente quantos municípios, mas eu perdi a eleição no tempo escasso de comparações. Como a estratégia dele deu certo porque ele achava que podia romper qualquer tipo de compromisso, coisa que eu não faço, me conhecendo, ele sabia que eu não romperia compromisso e ele não tinha problema com isso e eu perdi a eleição no pouco tempo de comparação  e perdi a eleição por não ter conseguido chegar a todas as pessoas, mostrando o resultado do meu governo, porque os resultados foram compartilhados com ele. Ele era aliado, estávamos trabalhando essa grande unidade e ele acabou se beneficiando também dos resultados do meu governo. Não fiz um momento de ruptura e demarcação, um ponto de referência. Eu poderia ter feito em 2011, se eu fosse um governo que começava na oposição e depois eu só fui fazer esse momento de ruptura quando ele foi para a convenção do PMDB e ele fez ataques ao meu governo. Eu estava só me defendendo, aí houve a ruptura e eu passei a fazer a comparação a partir daquele momento. Como estávamos enfrentando uma pessoa que tinha uma áurea e uma imagem muito forte, o tempo foi escasso para que a gente mostrar todo o resultado. 
 

– Há duas semanas da eleição, víamos o crescimento de sua campanha e a possibilidade de segundo turno, mas a avaliação que fazíamos era justamente essa de que se tivesse mais alguns dias de campanha, a aleição poderia ir para o segundo turno.

– Se tivessem mais uns dias de campanha chegaríamos, faltou 3,5 pontos para levarmos para o segundo turno. Se o PT tivesse se unificado em torno de Roberto Carlos [candidato do PT ao governo nas últimas eleições] haveria segundo turno também. 

– A propósito, o resultado do candidato do PT foi atípico, não é governador?

– É. Eu tive 40% dos votos e não fui para o segundo turno e teve estados que candidatos com 20% dos votos foram para o segundo turno. 

Foi o segundo pior resultado de um candidato ao governo do PT na história das eleições. 

– Foi isso, se o PT tivesse se unificado em torno do Roberto Carlos, chegaria a 12% e iríamos para o segundo turno. O jogo foi outro, mas achava que era importante ter a candidatura do PT, achando que o partido poderia se unificar em torno da candidatura. A candidatura do PT era importante  para termos uma eleição em dois turnos. Como eu sabia que o Hartung não iria aceitar o enfrentamento comigo no primeiro turno, no segundo turno ele não teria como escapar do enfrentamento. São essas as avaliações. É bom avaliar, mas isso passou. O que vale agora é fazer a defesa desse legado. Fiz a defesa de tese de governo durante a campanha e isso não pode ser esquecido e vai ser defendido por nós. 

Em entrevista coletiva o senhor falou na questão da desconstrução como subterfúgio para o não cumprimento de promessas de campanha, mas há também o seu peso político. Embora não tenha vencido a eleição, o senhor sai do governo com aprovação de 60% de seu governo e um capital de 40% dos votos. É apenas a questão do governo ou há uma preocupação com um enfrentamento futuro?

– Não sei se há uma preocupação, mas o enfraquecimento de uma liderança depende dos adversários? Depende, mas depende também do nosso posicionamento. É claro que o adversário vai usar todos os instrumentos que ele tiver para atingir seus adversários. Os meus adversários poderão usar todos os instrumentos para me atingir. Cabe a nós nos movimentarmos, nos articularmos, nos deslocarmos dentro da política e nos agregarmos em um conjunto de forças políticas que estiveram juntas na campanha. Parte a gente consegue preservar, parte, não, mas parte que não estava na campanha pode se agregar nos próximos meses e anos. O importante é que mantenhamos um debate, uma atividade e a defesa do que fizemos nesses últimos anos.  

 

– Agora o senhor deve se voltar para o seu partido, avaliando como foi o desempenho do PSB nessa eleição e buscar o fortalecimento da sigla. Durante a campanha e depois dela, ouvimos muitas críticas da classe política sobre o PSB, inclusive de recém-filiados e aliados da base, criticando o fato de o partido ser fechado. Como o senhor vai trabalhar dentro do PSB no Espírito Santo?

 

– Esse argumento de que o PSB é fechado é um argumento que se construiu. Não é verdade. O governo teve pouca gente do PSB. Tivemos muita gente de outros partidos, gente que não tem filiação partidária. Não foi um governo dos socialistas. Além de ser compartilhado com o governo passado, formamos novos quadros, quadros jovens, como secretário-chefe da Casa Civil, Tyago Hoffmann; o secretário de Planejamento, Davi Diniz; o secretário de Transparência, Helmut Mutiz; o secretário de Gestão, Pablo Rodnitztky. Estou citando pessoas novas, que formamos, que não têm vinculação direta com partidos e são quadros que podem atender a qualquer governo. O que é importante é que o PSB enquanto partido não soube conviver com o governo. O PSB ficou preso a temas menores, sem discutir o estratégico, a questão do resultado de governo, da estratégia política que estávamos enfrentando. Ficaram discutindo assuntos menores da política. Isso não deu ao PSB a vibração que ele precisava para defender o governo e me defender na campanha. Por minha responsabilidade como governador e por responsabilidade da direção partidária, faltou diálogo permanente dentro do partido. Cabe ao PSB fazer essa reflexão. Inclusive já fizemos e o partido tem de ser agora o instrumento de mobilização política do Estado. 

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