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Florestas de eucalipto comprometem o abastecimento de água na Grande Vitória

A região serrana capixaba foi invadida pelo eucalipto, plantado em todos os municípios. Não há respeito sequer às áreas que reabastecem os rios, que são as encostas e topos de morros. As conseqüências já são sentidas, pois a vazão dos rios está muito abaixo do normal, mas serão funestas: vai faltar água para consumo humano.  
 
Segundo informou o governo do Estado, a vazão média do rio Santa Maria da Vitória era de mais de 16 mil litros por segundo. Atualmente é de 5.6 mil litros por segundo. A vazão do rio Jucu em média era de 21 mil litros por segundo, e a atual é de menos de 8 mil litros por segundo. O rio Benevente,  que abastece Guarapari, tinha vazão média 7 mil metros por segundo, atualmente não chega a 3 mil litros por segundo. A vazão do rio Doce que já chegou 1,7 milhão de litros por segundo, hoje está reduzida a 230 mil litros por segundo – uma redução de mas de sete vezes.
 
Há o alerta, que vem do campo e de ambientalistas. Valmir Noventa, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) assinala que os moradores das cidades, principalmente da Grande Vitória, devem refletir sobre os problemas do abastecimento, apontar  medidas e  exigir dos governos o seu cumprimento para evitar risco de faltar água. 
 
O governo procura jogar a culpa da falta d'água na ausência de chuvas. Mas não é bem assim. “Não é só a questão climática que levou à perda de água nos rios. Não há políticas governamentais para manter a produção de água”, afirma Noventa. Foi assim nos dois primeiros governos de Paulo Hartung e no governo de Renato Casagrande. Os primeiros atos do atual governo Paulo Hartung não permitem antever mudanças, como analisa o dirigente camponês.   
 
Em vez de propor e criar condições para plantios de espécies da mata atlântica que tem desenvolvimento rápido e podem gerar receita em sistemas agrossilvipastoris  –  integração de lavoura, pecuária e floresta  – os governos estimulam os plantios de eucalipto. A espécie é exótica e consome 36,5 mil litros de água por ano quando adulta, segundo pesquisas.    
 
Na região de montanha há desculpa de que os plantios são feitos para produção de caixas de madeiras usadas no transporte de alimentos. Mas os plantios do eucalipto, feitos em lugar da agricultura, acabam por atender a produção da Aracruz Celulose (Fibria).
 
Esta ocupação desordenada das áreas ocorreu há duas décadas, e continua. As áreas, antes usadas em plantios de alimentos,  levou à exaustão  os recursos hídricos até na região serrana. Nascentes estão secas e o conflito pela água já chegou à região. Uma situação já bem conhecida e muito grave nas regiões norte e noroeste, onde os plantios de eucalipto chegaram na década de 60, introduzidos pela Aracruz Celulose. 
 
Este uso inadequado da água acentua qualquer problema climático, como o registrado atualmente. Como resultado, há falta de água, já registrado em Guarapari e risco, ainda não oficialmente admitido, de que proximamente vai faltar água na Grande Vitória.
 
A falta de água levará o abastecimento da população ao colapso, como alertam ambientalistas. Ambientalistas e os dirigentes das organizações camponesas lembram que na Região Serrana há ainda destruição de mata atlântica, já devastada. Até nas regiões estratégicas para o abastecimento das grandes  populações do Estado como na região serrana não tem mais água, o que vai acabar prejudicando os moradores da Grande Vitória.
 
Os moradores da cidade e do campo têm de discutir o problema para reverter a situação. É preciso adotar um manejo sustentável da água, pois há conflito aberto. Ora da agricultura com a indústria, ora com plantios de espécies que destroem a água como o eucalipto, sugere o dirigente do MPA.
 
Valmir Noventa lembra que a população da Grande Vitória já é estimada em 1.8 milhão de moradores (IBGE 2014). E só cresce, como em toda área urbana. Soluções para evitar o desabastecimento de água são urgentes. Também para garantir a qualidade da água. Os atuais sistemas de tratamento não tiram o resíduo químico que contamina a água, como os agrotóxicos. 
 
Os rios também estão contaminados por esgotos sanitários e industriais lançados diretamente nos cursos de água, em quadro que os ambientalistas definem como dramático.
 
Já em 2005 a Associação Barrense de Canoagem (ABC) informava que o rio Jucu apresentava pontos com até 47 mil coliformes fecais a cada copo de água, números apurados em fevereiro deste ano. Em 2004, o limite máximo chegou a 44 mil coliformes fecais em um copo de água.
 
A poluição do rio Santa Maria era de 46 vezes maior que o tolerável. Em Santa Maria de Jetibá, foram registrados 46 mil coliformes fecais em um copo (100 mililitros) de água. Em Santa Leopoldina, 24 mil coliformes em 100 mililitros de água. O índice satisfatório é de 1.000 coliformes por 100 mililitros. 
 
A pesquisa apontou a presença de enterococos (bactéria) nas águas do rio: 17,5 mil enterococos por 100 mililitros, o que representa 175 vezes mais que o índice satisfatório, de 100 enterococos em um copo de água, em Santa Leopoldina.

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