Informações distorcidas sobre quem polui o ar na Grande Vitória são cada vez mais comuns nos meios de comunicação. É desta forma que a Vale e ArcelorMittal procuram confundir a população, com a conivência da mídia corporativa, com quem troca favores. É o mesmo esquema aplicado pelas empresas nas relações com os com políticos.
As empresas financiam as campanhas eleitorais e, quando os políticos ganham seus mandatos, recebem o pagamento: já autoridades, fecham os olhos e não fiscalizam as poluidoras. Também criam leis e regulamentos com parâmetros permissivos para medir a poluição.
É esta troca de favores que criou as condições para que a Grande Vitória seja a região metropolitana mais poluída do Brasil, com destaque para a capital. Vitória tem quatro vezes mais enxofre do que a capital paulistana e é a capital mais poluída do país.
Na relação com a mídia, as empresas de comunicação colocam suas redes, com televisão, rádio e jornais, sempre à disposição das poluidoras. Vale tanto para a Rede Tribuna, como para a Rede Gazeta, além de ser aplicada por outras empresas.
Na edição desta sexta-feira (6), o jornal A Gazeta informa sobre investimentos que a ArcelorMittal diz que fará. Resultados para o que está sendo anunciado, só no prazo de três anos. Isto se o prometido for eficaz. Já foram feitas promessas que resolveriam tudo, como no caso das barreiras de vento, as wind fences, que conteriam o arrasto do minério, anunciadas como um grande passo no controle da poluição pela Vale. No entanto, o equipamento não resolveu o problema.
Na quinta-feira (5), foi a vez de o jornal A Tribuna dar destaque à Vale em matéria de quase uma página inteira. A empresa dizia e o jornal noticiava que a “Vale polui menos do que a lei permite”. O jornal sequer discute que os índices fixados para o estado são permissivos e estão defasados há 35 anos.
Para a poeira sedimentável, o pó preto, o governo concordou com as empresas em fixar o limite de 14 microgramas por metro cúbico, durante um mês. No Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Amapá (Macapá), é permitido cinco microgramas dos poluentes na mesma área. Mesmo recebendo este favor, a Vale e a ArcelorMittal produziram 18 microgramas de pó preto em pontos de dois municípios – Vitória e Serra – no ano passado. Fora destas ocasiões especiais, estavam dentro da lei. Tudo por favor do governo.
O texto revela o que todos sabem, menos o governo. Que as empresas poluidoras sabem o que emitem em suas chaminés, e quanto de poluente sai de cada um dos agentes. “Nas chaminés utilizadas para pelotização, o limite por lei de poeira deve ser 70 miligramas por normal metro cúbico. Hoje, operamos com 25 a 30 microgramas. Isto é interessante, porque impacta na qualidade do ar na Grande Vitória”, registra o jornal na entrevista com o gerente de meio ambiente da Vale, Romildo Fracalossi.
Medir os poluentes nas chaminés das usinas da ArcelorMittal, Vale, Aracruz Celulose (Fibria) e outras empresas, com divulgação online em tempo real para conhecimento da população, é antiga reivindicação dos ambientalistas capixabas. Sem nenhuma providência do governo do Estado e prefeituras, que preferem ignorar que o enxofre lançado no ar pelas empresas, em particular pela ArcelorMittal, não tem tratamento nenhum.
Mais adiante, o jornal cita ainda o gerente da Vale que afirma que a legislação capixaba é das mais restritivas do Brasil sobre qualidade do ar. Deslavada mentira a de que os capixabas respiram um bom ar. O município de Vitória tem índices elevadíssimos de doenças respiratórias e alérgicas, como rinites e sinusites. Os outros municípios da Grande Vitória também têm índices elevados de doenças causadas pela poluição do ar.
Governo e empresas mantêm o conluio no destaque que dão a outras fontes como poluidoras, como a produzida por veículos e a construção civil. A poluição produzida pela construção civil, também sem controle, não impacta a Grande Vitória como dizem governo e empresas.
Na avaliação do destaque que a mídia dá às empresas sobre a poluição, os ambientalistas são demolidores. Um deles, Eraylton Moreschi Junior, presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, cobra documentos das empresas para provar suas informações. E documentos de fontes acreditadas, e não empresas vendidas, como a Ecosoft, que presta serviço às poluidoras.
“Os únicos que têm espaço nos jornais, na mídia em geral, são as poluidoras. A sociedade nunca é ouvida. Nos casos raros quando os moradores são ouvidos, as reportagens são editadas, para favorecer as empresas. As empresas por sua vez favorecem a mídia com benesses. É publicidade, dinheiro”, diz Moreschi.
O ambientalista denuncia que é o mesmo esquema usado pelas empresas com os políticos, favorecidos com dinheiro para suas campanhas eleitorais.