O ator e diretor Flodoaldo Viana morreu no último sábado (8) aos 94 anos, vítima de infecção nos rins. Deixa 10 filhos. Um dos fundadores do Teatro Escola de Vitória (TEV), em 1951, Flodoaldo foi figura fundamental na fase de semiprofissionalização do teatro capixaba. Em História do Teatro Capixaba (1981), fonte desta matéria, Oscar Gama classifica seu teatro de “rústico e absolutamente primitivista”. Não há aí tom de censura.
Nascido em uma fazenda de Alfredo Chaves em 16 de outubro de 1920, viveu a infância em Cachoeiro de Itapemirim e se estabeleceu em Vitória em 1932. Sua estreia como ator aconteceu em 1938 ou 39, como ator da peça beneficente O Descobrimento do Brasil, encenada ao ar livre no adro da Igreja de Santo Antônio. Sua entrada definitiva no universo das artes dramáticas se daria em 1943 justamente em sua terra natal.
Dirigida por Eurico Souza Silva, a Companhia de Comédia Leda Estela corria todo o interior do Brasil e, naquele ano, aportou em Alfredo Chaves. Flodoaldo estava na plateia e, um, se enlevou com o que assistiu e, dois, se apaixonou pela filha de Eurico, Dirce Souza. As paixões o levaram a abandonar o emprego (na Farmácia Cunha) e casa em Vitória e seguir viagem com a companhia pelos rincões do Brasil. No mesmo ano, casou-se co Dirce em Cariacica.
De forma mambembe, viaja com a Companhia de Comédia Leda Estela entre 45 e 51. Neste ano, quando a companhia chega pela terceira vez a Vitória, uma ocorrência triste: um infarto fulminante leva Eurico Souza Silva. Ao mesmo tempo, Flodoaldo e Dirce se mostram enfadados da instável vida teatral mambembe. Outro fator; o casal já tinha filhos em idade escolar.
Decidiram, então, se fixar em Vitória. Fecham a Companhia de Comédia Leda Estela, mas não abandonaram os palcos: daí nasce em 28 de julho de 51 o Teatro Escola de Vitória. A primeira peça do grupo é de autoria de Eurico Souza Silva: As Cartas Não Mentem Jamais, encenada na Escola Normal Pedro II (atual Escola Maria Ortiz).
O TEV ficou ativo até 1962, encenado cerca de 30 espetáculos. Eram de 10 a 15 apresentações por mês, de quatro a oito no Teatro Carlos Gomes e as demais no interior do estado ou, raro, em outros estados. O privilégio de apresentações no mais nobre espaço teatral da cidade não se estendia a outros grupos. A explicação: além de honrar o aluguel, Flodoaldo já tinha sido maquinista do teatro, realizando com eficiência a operação de montagem e desmontagem da tela de cinema. A arrendatária do espaço, a Empresa Santos, recebia do TEV uma quantia proveniente das concorridas apresentações. A renda também cobria os modestos cachês dos atores.
Como se apresentava constantemente ao ar livre, o TEV se via premido a sempre renovar seu repertório. De quatro em quatro meses, montava um novo texto. Entre as peças, vale destacar o Auto de Natal, de Lúcia Benedetti, que estreou em 59, mas que ganhou mais elevada notoriedade entre 76 e 80, quando novamente encenada ao ar livre na Igreja de Reis Magos, na Serra. A montagem é precursora dos autos de Natal que, atualmente, todo ano são apresentados no Espírito Santo, sobretudo em Vitória e na Serra.
As atividades extra-teatrais de Flodoaldo o forçam a suspender as atividades do TEV em 1962. Ele administra um bingo e dirige uma empresa de som e publicidade. Pesa também o fim do contrato de arredamento do Carlos Gomes pela Empresa Santos. Em 1970, o então diretor do Serviço de Teatro da Fundação Cultural, Marien Calixte, convida Flodoaldo para comandar a administração do Carlos Gomes e criar um grupo teatral dentro do próprio teatro. Daí renasce o TEV, que passa a remontar peças de seu período áureo.
Segundo analise Oscar Gama, o teatro de Flodoaldo Viana e seu fundamental TEV se fazia mais pela prática do que por técnica e teoria. Era um teatro realista, de montagem e produção singelas. Daí o termo “primitivismo”: era uma estética que não se vinculava a técnicas mais sofisticadas de interpretação, dicção e expressão corporal. Características, que, no entanto, não impediram o TEV e seus fundadores de figurarem na história da conformação da cena teatral capixaba.
Segundo familiares, o último trabalho teatral de Flodoaldo foi em 2010. Em 2004, atuou no cinema, no curta-metragam Pour Elise, de Erly Vieira Jr.