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Em plena crise hídrica, governo do Espírito Santo joga rios de água de reuso fora

A água destinada à população e para a indústria é captada de um mesmo ponto, diretamente dos rios. Com a longa estiagem que assola o Estado, os rios estão com pouquíssima água e a chuva que caiu não resolveu o problema.  As indústrias poderiam ser abastecidas por água que forma verdadeiros rios  jogados fora a partir das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs/foto) operadas pela Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan).
 
 
A negligência  da Cesan com o aproveitamento racional das águas de reuso é apontada por diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito Santo (Sindaema).  Um deles, Adaílson Freire, também do Conselho Estadual de Meio Ambiente, lembra que tamanho desperdício tem de acabar.
 
Para Freire, é preciso fazer a captação das águas dos rios para só atender a população.  E destinar à industria a água hoje que é jogada fora nas ETEs.  Há um discurso, antigo, sobre esta questão, lembra o dirigente sindical. 
 
Do discurso à pratica, porém, há um longo caminho.  Em 2014, o total de água das ETEs jogada fora foi de de 51.428.397 milhões de metros cúbicos. Isso significa que a Cesan desperdiçou o equivalente a 51 milhões de caixas d`água de 1.000 litros no ano passado.
 
Adaílson Freire faz as contas. Se esta água de reuso fosse vendida à industria, e a água que é fornecida às empresas destinada a consumo humano, daria para atender diariamente, ao longo do ano, 1,190  milhão de pessoas com o fornecimento de diário de 120 litros, consumo por pessoa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 
 
Seis das ETES da Cesan tratam a água de reuso  e a devolvem para a natureza com 98% de pureza.  São as ETES de Mulembá, Aracás, Manguinhos, Bandeirantes, Aeroporto (Guarapari) e da sede do município de Santa Teresa. As outras empregam tecnologia que só retira 70% das impurezas, o que quer dizer que a água contamina o ambiente ao serem devolvidas para a natureza.
 
Coletar e tratar esgotos  é essencial para o ambiente. Parte desta água poderia assegurar  a chamada vazão ecológica, o mínimo de água que tem de ser mantida no rio até sua foz. Na ultima crise, o governo do Estado interrompeu os rios Jucu e Santa Maria da Vitória na altura da captação de água da Cesan nos municípios da Serra e Vila Velha. A medida produz um desastre ecológico.
 
E também na crise que ainda perdura em função da estiagem, o governo do Estado mantém o abastecimento de água das empresas praticamente como se praticamente não houvesse problema de abastecimento. Como faz com a ArcelorMittal e Vale, que consomem rios de água captados do Santa Maria da Vitória.
 
A vazão normal do rio Santa Maria da Vitória é de  35 mil litros/segundo,  em média. Do rio são retirados 3.200 litros por segundo em condições normais.  Na crise, a captação chegou a ser menor do que 3.000 litros por segundo. 
 
Juntas, Vale e ArcelorMittal consomem 79 milhões de litros de água diariamente. A Arcelormital Tubarão recebe água sem tratamento da Cesan e são  normalmente são 800 litros por segundo, totalizando  69 milhões de litros por dia. O fornecimento foi um pouco reduzido com a crise.  
 
Para a Vale, a água é entregue já tratada pela Cesan, e o consumo da empresa  é de 120 litros por segundo em condições normais, totalizando 10 milhões de litros por dia. Da mesma maneira que para a ArcelorMittal, também a Vale teve pequena redução de sua água na atual crise.
 
Se todos os esgotos do Espírito Santo fossem tratados, a água de reuso não só seria suficientes para atender a estas indústrias, como a diversas outras da região. 
 
Em vez de grandes mudanças, face às crises que serão sempre mais acentuadas, como está previsto, o governo anuncia medidas como captar água a água do rio Magos para abastecer a Serra.
 
Adaílson Freire lembra que um dia não haverá mais onde buscar água. Ele sugere que o governo do Estado adote um planejamento que considere uma série de medidas, como reflorestamento das margens dos rios com mata nativa em todas as áreas das bacias, construção de reservatórios de água – que não existem no Espírito Santo – além de desenvolver processos educativos para o uso racional da água. 

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