“Ei, patrão, entoca a câmera aí que o pessoal aqui tá assaltando de mão armada” disse, de repente, repórter e fotógrafo ainda procurando de onde partiu o alerta, o funcionário de uma loja na Alameda Gameleira, em Divino Espírito Santo, Vila Velha. O trecho é cortado pelas águas escuras do Canal da Costa e comunica as avenidas Professora Francelina Carneiro Setubal e Luciano das Neves. Para não dar chance ao azar, o fotógrafo, bolsa e máquina a tiracolo, acolheu o conselho.
O alarme contra a violência assusta – ainda mais assim, emitido solidária e espontaneamente. O que, no entanto, não assusta, mas intriga, é um tal alarme feito a poucos metros da primeira base operacional da Guarda Municipal de Vila Velha. Inaugurada com pompa na primeira semana de janeiro – com a presença do prefeito Rodney Miranda (DEM) e do secretário estadual de Segurança Pública André Garcia – está localizada no encontro da Luciano das Neves com a Rua Dr. Annor da Silva, também em Divino Espírito Santo.
As solidárias e espontâneas palavras podem refletir um sentimento que, de forma geral, como já verificamos em matérias anteriores, é comungado por moradores da região: o módulo da Guarda Municipal é menos para a comunidade que mora ali do que para quem estabelece uma relação transitória com o local. A base foi erguida ao lado do portentoso Shopping Vila Velha.
De olho em 2016, e vendo no espelho do retrovisor uma imagem avariada, o prefeito Rodney Miranda começou 2015 contemplando Vila Velha com obras. O problema é que, como indica o módulo da Guarda Municipal em Divino Espírito Santo, as intervenções privilegiam, digamos, regiões específicas da cidade.
Também na primeira semana do ano, a prefeitura liberou a ponte sobre a Rua Belém, que liga Itapoã a Divino Espírito Santo. Antes, para pegar a Luciano das Neves, o motorista tinha que entrar aqui, virar ali. A ponte é uma das 19 obrigações firmadas entre o Shopping Vila Velha, o Ministério Público Estadual (MPES) e moradores de Divino Espírito Santo para reduzir os impactos em mobilidade e meio ambiente na cidade.
O shopping fez a ligação com uma celeridade: o acesso mais cômodo dos veículos ao empreendimento foi concluído em menos de 40 dias.
Na Praia da Costa, a prefeitura também em janeiro concluiu as obras da praça do Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes). O ponto de ônibus foi deslocado da praça para a calçada da instituição; foram implantadas duas lombofaixas.
Perto dali, na Rua Gastão Roubach, já na orla, a gestão Rodney Miranda se pavoneia ainda mais. A ciclovia e uma pequena porém antiga vegetação de restinga foram extirpadas para dar lugar a um grande módulo, que receberá projeto voltado para a Terceira Idade. Nada contra os idosos canelas-verdes, eles merecem.
O gigantesco contêiner, no entanto, agride a tocante paisagem da praia. Para completar, a prefeitura está instalando guarda-corpo em toda extensão da Gastão Roubach, que começa na Curva da Sereia, outra intervenção que pouco acrescenta à praia, por dois motivos. Um, o guarda-corpo prejudica a vista para o mar. Dois, a obra nem foi liberada e já exibe sinais de ferrugem a avaria da pintura. Uma beleza.
Em duas obras, Rodney mostra a pouca intimidade que tem com a cidade que administra.
Obviamente não poderia faltar o asfaltamento de rua, ponto fundamental na cartilha de qualquer prefeito e mais fundamental ainda quando este é Rodney Miranda. Recentemente, o prefeito entregou o asfaltamento das ruas Maria Amália, em Jaburuna, Valério Coser, em Jardim América, e Orminda Machado, em Parque das Gaivotas. A Rua Jair de Andrade em Itapoã também recebeu novo asfaltamento.
Além da ponta na Rua Belém, outras ruas do entorno do Shopping Vila Velha também foram mimoseadas: a Juscelino Kubistchek, e Annor da Silva e a Ernani de Souza receberam nova sinalização horizontal e vertical.
A orla não ficou de fora. As avenidas Gil Veloso, que corta Itapoã e Praia da Costa, e a Estudante José Júlio de Souza, na Praia de Itaparica, também foram contempladas com melhorias de sinalização.
No Centro da cidade, a cartilha também começou a ser observada. Ruas com grande fluxo, a Luciano das Neves a Antônio Ataíde já receberam as primeiras camadas asfalto – mas, por ora, só no trecho Prainha/Centro. Apesar das elevadas intenções da administração, buracos já aparecem no asfalto novo. Também neste início de ano, próximo a uma Igreja Maranata, a rotatória do encontro das ruas Castelo Branco e Coronel Sodré foi inteiramente requalificada – recebeu pintura, sinalização e novos olhos-de-gato.
Gestão eficiente? Quem sabe. Mas, de outra forma, o início de 2015 em Vila Velha foi prolífico também… em greves. Primeiro, em pleno verão, praias apinhadas, os guarda-vidas pararam; depois, foram os profissionais da limpeza pública. Esta greve marca a população – lembrem-se que o movimento ainda não acabou. A imagem da cidade com monturos a cada esquina é mais forte que a da com ruas asfaltadas. Passa a imagem ruim que Rodney tanto se empenha para apagar.