Uma capixaba de Vila Velha, identificada apenas como R. Mildner (pediu sigilo do primeiro nome), é a personagem principal da reportagem assinada pela jornalista Karina Gomes, do Deutsche Well (DW Brasil), republicada nessa terça-feira (3) na versão on-line da Carta Capital.
Sob o título, “Uma brasileira no movimento extremista alemão”, a reportagem mostra o envolvimento da família Mildner (pai, mãe e um filho universitário de 25 anos) no Pegida – sigla em alemão para “Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente”.
Toda segunda-feira, explica a reportagem, milhares de pessoas se concentram em frente à Igreja Frauenkirche, na praça principal do Centro histórico de Dresden – capital do estado da Saxônia com pouco mais de meio milhão de habitantes.
A canela-verde diz à repórter que participa do Pegida por três motivos: “por ser contra a corrupção internacional, pela preservação da cultura alemã e, principalmente, contra o extremismo religioso”.
A advogada capixaba de 59 anos faz parte de um movimento extremista de direita que se alastra pela Europa e se declara contra a entrada de estrangeiros em seus países. Os Mildner relatam à reportagem que estão incomodados com os frequentadores de um abrigo para refugiados, que fica próximo à casa da família. “Eles estão roubando, mijando no ônibus. Não se trata de refugiados. São pessoas da Tunísia, do Marrocos, do Kosovo”, afirma o alemão J. Mildner, marido da capixaba. “Eu penso que essas pessoas não podem vir para cá. Acho um perigo extremo. Há radicais entre os refugiados, são criminosos. Por isso, estamos aqui”, diz o patriarca.
O xenofobismo é exortado nas palavras de ordem que os manifestantes gritam em coro na praça de Dresden. Algumas expressões são inspiradas no Nazismo. O termo Lügenpresse (“imprensa da mentira”) é um exemplo. Num determinado momento, a brasileira pede uma versão do Pegida para o Brasil.
As justificativas da capixaba para se engajar ao movimento de extrema direita alemão não foram bem recebidas pelos seus compatriotas. Entre os leitores de Carta Capital prevaleceram as críticas à capixaba. Diz um dos comentários: “Brasileira, morando no exterior e defendendo a xenofobia? Nelson Rodrigues foi preciso ao cunhar a expressão ‘complexo de vira lata’ em vista da inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”…
Outro leitor acrescenta: “Uma imigrante fazendo protesto contra a entrada de imigrantes… estamos exportando reacionários! Que lástima!”
“O movimento Pegida foi de ralo abaixo depois do seu “Líder” postar fotos fantasiado do seu ídolo: Hitler. Só confirmando com isso o que realmente está por trás desse movimento. vergonha alheia”, posta outra leitora.
As reações dos leitores vão ao encontro da posição de estrangeiros que moram na Europa e estão apreensivos com os movimentos de extrema direita que se alastram pelos principais países do Velho Continente.
Uma leitora brasileira, que se identifica como moradora de Dresden, opina: “Estudo em Dresden e estou participando dos movimentos contra o Pegida semanalmente. O grupo é racista islamofóbico e xenofóbico sim. A intolerância e o medo cresceram na cidade e os brasileiros moradores de Dresden que eu conheço ficaram revoltados com as falas dessa senhora”.