São cada vez mais freqüentes as mortes de onças na BR-101, no trecho que corta a Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, norte do Estado. Na rodovia é comum a alta velocidade de veículos, inclusive carretas de grande porte transportando eucalipto. A fiscalização do trânsito é insuficiente. E faltam áreas com maior segurança para que os animais transitem por toda a reserva.
O trecho da BR-101 que corta a reserva tem 25 quilômetros. O último registro de atropelamento no local foi no final da semana passada, quando morreu uma onça-parda (Puma concolor). No ano passado, houve outro atropelamento e morte de onça-parda. A espécie tem presença registrada em três áreas mapeadas dentro da Reserva Biológica de Sooretama, mas em seu trânsito pela reserva, são comuns os atropelamentos e mortes.
São muitas as espécies vulneráveis ao trânsito. No ano passado, em menos de quatro meses, morreram três antas. A fêmea tinha um feto em avançado estágio de gestação. Há estimativas de que, anualmente, entre anfíbios, répteis, aves e mamíferos, são mortos 20 mil animais silvestres por atropelamento na região.
No topo da cadeia alimentar, as onças correm risco de extinção na Rebio Sooretama. A rebio foi criada por iniciativa do naturalista Augusto Ruschi e é destinada a proteger todo um ecossistema identificado pelo cientista. A Rebio de Sooretama tem área de 27,8 mil hectares.
Nos seus estudos, o cientista concluiu que as onças, como a parda e a pintada (Panthera onça) precisam percorrer grandes áreas por dia para se alimentar. São cerca de 300 hectares. Isso acontece porque o seu sistema digestivo é curto, o que faz com que sua digestão seja muito rápida e o animal precise de mais alimentos em um menor período de tempo.
A devastação das florestas entre o norte do Estado, o leste de Minas Gerais e o sul da Bahia, por conta da grande concentração de madeiras como a peroba do campo e os jacarandás, de alto valor comercial, provocou a migração do animal em direção à Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, fenômeno também verificado por Augusto Ruschi.
A superpopulação de onças na área provocou um desequilíbrio na cadeia alimentar e, na época, Ruschi contabilizou cerca de 300 indivíduos em uma área extremamente pequena para que todos vivessem em harmonia e em condições de se alimentar.
Como constituem o topo da cadeia, a superpopulação fez com que houvesse um decréscimo na população de porcos do mato e antas e, dessa forma, as onças precisaram buscar alimento nas propriedades rurais, onde começaram a atacar bezerros.
Assim, a caça aos animais começou a ser feita pelos fazendeiros ou por caçadores especialistas em matar o animal, os chamados gateiros. Os gateiros, inclusive, com a devastação crescente na Mata Atlântica e, sobretudo, com a usurpação das terras pelos plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria), viram a derrubada de seu ofício. A caça na área da reserva ainda é feita.
No caso da BR-101, o cientista indicava a necessidade de construir espaços subterrâneos que assegurasse a passagem dos animais em toda a região, com alguma segurança. Esta providência não foi adotada.
E o que poderia ser alternativa, os túneis de drenagem de água sob a pista que podem servir como passagem para várias espécies, estão assoreados. Entre as propostas que são feitas para reduzir a mortandade de animais, como as onças, estão a determinação para redução da velocidade dos veículos no trecho da BR-101 que corta a Rebio Sooretama, com fiscalização para cumprimento da medida, e campanhas educativas sobre a importância dos animais silvestres.
Pesquisas apontam que existem apenas nove onças-pintadas no Estado, sendo três machos e seis fêmeas, todas na área da Rebio de Sooretama. A onça-parda, com animais isolados, é vista com mais frequência nos locais com áreas de mata nativa maiores. O Espírito Santo tem apenas 8% de seu território com mata atlântica.